Temos refletido as muitas dimensões da espiritualidade. Essa sempre pareceu ao povo como coisa de poucos escolhidos. O jeito de ser santo foi marcado por elementos secundários e até excêntricos. Podemos dizer: se ser santo é assim, não conte comigo, pois não dou conta. Contudo, vamos esquecer o que os livros disseram dos santos e pensemos que são pessoas normais como nós. E mesmo assim, cada um tem um jeito de ser santo. Mas só há um caminho: o amor. Ninguém ficou santo sem o amor. Ninguém nasce santo e ninguém está livre da tentação. O amor é dom que pode ser vivido por todos. O caminho é amor pois a santidade é participação da vida divina pois Deus é amor. Santo Afonso escreve que “toda santidade consiste em amar Jesus Cristo”. Amar Jesus é cumprir seu mandamento, e seu mandamento é o amor. “Este é meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como eu vos amei” (Jo 13,34). Amar é fazer o caminho da santidade. A Igreja tem uns 4.000 santos canonizados. Para se declarar uma pessoa santa examina-se se viveu, em grau heróico as virtudes e, entre elas, a fé, a esperança e a caridade. A caridade sempre foi o caminho da comunidade. O modo de construir a espiritualidade é construir uma vida de amor. Parece que falamos muito de amor. Mas sem partir do alicerce não temos um edifício seguro.
Amar como Jesus amou
Jesus é sempre o modelo, sobretudo o modelo de amor. Amou os seus: “tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o extremo do amor” (Jo 13,1) que foi a entrega na morte. Amou os pobres, pequenos, pecadores, fracos, doentes sofredores. Para eles prodigalizava os milagres. Amou dando sua palavra para um novo modo de vida. Se Jesus foi duro, o foi contra o orgulho e incoerência. Quando repreendia os pobres era com doçura, como vemos na cena da expulsão dos vendilhões do templo: “Tirem essas coisas daqui”. O povo se deliciava com suas palavras de libertação. Disse em Nazaré: “O Espírito do Senhor está sobre mim, por isso enviou-me para evangelizar os pobres, para proclamar a remissão dos prisioneiros aos cegos a recuperação da vista, para restituir a liberdade aos oprimidos” (Lc 4,16,18). Coloca em suas palavras um princípio de amor ativo e transformante da realidade. Quem coloca o caminho da espiritualidade somente no “espiritual”, vai ter dificuldades para andar. Ser espiritual é inclinar-se sobre as dores do mundo. Aí sim, caminha bem. A tendência de certas espiritualidades, por bonitas que sejam é rezar, adorar, ter uma vida pura, mas não sujam as mãos com a situação, não pisam no barro, não se comprometem com as causas que podem salvar a humanidade.
Onde existe amor Deus aí está
As comunidades da Igreja já tiveram problemas com outros grupos religiosos. Confundimos religião com salvação. Não podemos dizer que só quem pensa como eu, está salvo. Quem salva é Deus. E Deus tem seus caminhos. Não podemos duvidar disso. Mas se não amarmos tiramos a base do edifício espiritual. E se, fora da Igreja encontro o amor, a caridade, Deus ali está. Temos que evangelizar o mundo. Mas só o faremos pelos caminhos do amor. Vejam sobre o que seremos julgados: seremos julgados e cobrados sobre o amor que tenha inspirado nosso agir. É o amor que dá consistência a nossa proclamação da verdade.
ARTIGO REDIGIDO E PUBLICADO
EM NOVEMBRO DE 2005
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