PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA REDENTORISTA 53 ANOS CONSAGRADO 46 ANOS SACERDOTE |
Na Quinta-Feira Santa contemplamos Cristo no Jardim das Oliveiras. Aquele jardim já o acolhera tantas vezes, como era seu costume (Lc 22,39). A figura magnífica de Jesus mostra a fragilidade de sua natureza humana. Ele passa pelo terror da morte. Sua tensão interior foi tão grande que se romperam as pequenas veias e Ele sua sangue. Ele reza banhado em sangue na mais profunda angústia e pavor (Mc 14,33). Pesava sobre Ele não só a tensão da agonia, mas sobretudo o peso dos pecados do mundo que Ele assume num gesto de amor de redenção para cravá-los na cruz e obter o perdão total. A condição de Jesus leva-o a implorar ao Pai que o livre daquele momento. A carta aos Hebreus reflete esta cena dizendo que Ele pedia a Deus entre clamores e lágrimas (Hb 2,14). Os salmos repetem: “Na minha tribulação clamei ao Senhor e Ele me atendeu” (Sl 119,1). Outro salmo reza: Uns deliravam no caminho do pecado, sofrendo a consequência de seus crimes; todo alimento era por eles rejeitado e da morte junto às portas se encontravam. Mas gritaram ao Senhor na aflição e Ele os liberou da angústia” (Sl 106,17). Jesus participa da situação humana de extremo sofrimento que chega a clamar, sentindo-se abandonado pelo próprio Pai: “Meu Deus, Meu Deus, por que me abandonastes?” (SI 21,2). É o clamor vindo do mais profundo abandono, onde até Deus parece ter se ocultado. É a situação em que nos encontramos quando não há mais solução. E o momento de revolta em que dizemos: ‘Esse Deus vai ver comigo! Eu pedi e não me atendeu’. É o momento de buscar o conforto e segurança em outros “deuses” mais “poderosos”, senhores com poderes “extra-humanos”. A condição humana tem no exemplo de Jesus a certeza de permanecer fiel e entregar-se a Deus que ressuscita os mortos.
Jardim da agonia, Jardim da Ressurreição:
Jardim é um tema que volta frequentemente na Bíblia. É sempre lugar de delícias como também lugar da batalha do coração humano. Quanto mais próximo de Deus, mais na batalha, como vemos em Adão e Jesus. A fidelidade de Jesus em sua oração de angústia resulta de sua disposição de sempre a fazer a vontade do Pai. Sua prece na agonia dolorosa é uma súplica ardente: “Meu Pai, se é possível, afasta de mim este cálice, mas não seja como eu quero, mas como tu queres” (Mt 26,39). No Paraíso, Adão fez o que quis, e era tão simples vontade do Pai. A prece de Jesus corresponde à oração do desespero que crê que o Pai tem a melhor solução. A carta aos Hebreus comenta: “e foi ouvido” Como? Na Ressurreição. No jardim de Nicodemos, onde estava o túmulo novo, mesmo tendo morrido, recebeu a resposta à proposta: ‘em vossas mãos eu coloco minha causa’.
Não fui atendido
É o trauma da oração desesperada. Deus não o me ouviu. E uma doença, uma situação dolorosa de angústia (Jesus também não foi atendido). ‘Pedi o milagre e ele não veio. Deus ouve os outros e não a mim, podemos dizer’. Temos o direito de pedir e o direito de acolher a situação como ela é. Pedimos o impossível, confiantes, mas prontos a acolher, não a respostas de Deus, mas uma situação difícil que não ser resolve. Deus não quer a dor nem o sofrimento. Quer que saibamos vivê-lo junto com Ele. Isso é o que significa fazer a vontade de Deus nestas situações. Foi isso que pediu Jesus. Não podemos ser fiéis somente quando tudo corre bem para nosso lado. Impressiona como as pessoas mudam de religião com tanta facilidade. Às vezes á fé é provada. Temos que resistir, mesmo no meio da dor. Deus não quer o sofrimento nem o sofrimento. O que Ele espera de nós é a fidelidade, mesmo quando não vemos os resultados. Não podemos ter uma fé que se baseie em milagres ou dons de Deus.
ARTIGO REDIGIDO E PUBLICADO
EM MARÇO DE 2005
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