Além de uma longevidade extraordinária, quase 96 anos, nesta vida não há nada de excepcional: uma vida tão humilde, escondida, alguns diriam, insignificante, que quase é difícil falar sobre ela.
Ela veio ao mundo no seio de uma família mais que remediada, aos 10 de fevereiro de 1827, em Veroli (Itália). Com a mãe e uma piedosa senhora, aprendeu as primeiras letras. Acompanhava a mãe à igreja todos os dias para assistir à Santa Missa e visitar o Santíssimo Sacramento.
Seu pai é um rico proprietário de terras de Veroli que vai arruinar a saúde e a carteira graças à sua paixão pelo jogo e sua tendência a se consolar com muitos copos de vinho. Sua mãe não resistiu a esta desgraça e faleceu aos 36 anos, depois de ter dado à luz nove filhos. Ela, aos 14 anos, se torna a mãezinha de seus irmãos menores.
Tem tanta coisa para fazer – cuidar da casa, do pai e dos irmãos – que não pode pensar em si mesma e no seu futuro. Sua ocupação principal é fazer com que todos na casa respeitem o pai colérico, alcoólatra e empobrecido, como ela é capaz de fazer: todas as noites beija sua mão e pede a bênção, engolindo lágrimas e humilhação. E pensar que a haviam batizado com o nome de Ana Felix e a irmã a chamava de Fortunata!
Diante de tantas agruras, buscava alívio na frequência dos Sacramentos e nos exercícios de piedade.
Com 20 anos empregou-se como criada em casa de uma boa família a fim de lograr meios para ajudar os seus e também para poder entrar na vida consagrada, como tanto desejava. Ficou nesta casa três anos. Regressou então à família e tratou do pai e dos irmãos.
Aos 24 anos, quando viu que não precisavam mais de si, decidiu entrar no convento das "boas irmãs", ou seja, as beneditinas de sua cidade, no dia 21 de março de 1851.
Ela manteve sua proposta firme, formulada naquele dia, de "ser santa"; não sabia que para atingir a meta teria de viver mais de 70 anos "enterrada viva" no anonimato de sua cela, com todos os dias iguais marcados por ações repetitivas que algumas pessoas podem definir monótona: fiar e costurar, lavar e consertar. E rezar, embora para ela isto não devesse ser um problema, pois parecia estar sempre absorta na contemplação de seu Deus.
Só depois se descobrirá quanta aridez espiritual se escondia atrás daquele fervor; quantos tormentos e batalhas íntimas estavam encobertos por sua serenidade aparentemente imperturbável. Ela não possuia muita facilidade em ler e escrever devido os eventos familiares conhecidos, e por isso não pode ser aceita entre as monjas do coro, as religiosas que se dedicam a funções litúrgicas. Para ela, portanto, somente o trabalho, que começa às 3:30 da manhã e continua em ações fatigantes e humildes que ela executa tão bem, que as transforma em uma obra-prima, temperando-as com muita oração, mesmo no meio da aridez espiritual mais completa.
Gasta pelo trabalho e consumida pelos anos, atormentada por reumatismos nos últimos anos, foi obrigada a permanecer no leito, incapaz até mesmo do menor movimento, cega, surda e aleijada.
Depois de 72 anos de reclusão, faleceu no dia 22 de novembro de 1922. Ninguém parecia perceber-se dela e assim a enterram tão rapidamente no dia seguinte na vala comum. Mas ela é exumada 13 anos depois e sepultada na igreja, resultado de seu grande sucesso junto ao povo, tantos são os milagres que ocorrem em seu túmulo.
Em 1967, Paulo VI proclamou beata a Irmã Maria Fortunata Viti, a monja que trabalhando e sorrindo tinha se santificado na monotonia da vida cotidiana, na clausura de um convento, com um monte de doenças, e que desde então podemos comemorar no dia 20 de novembro.
Fontes: Santos de cada dia, Pe. José Leite, S.J.;
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