A tradição da Comunidade vietnamita nos lembra que a história do martírio desta Igreja desde suas origens é muito ampla e complexa. A partir de 1533, isto é, desde o início da pregação cristã no Sudeste Asiático, a Igreja no Vietnã sofreu, ao longo de três séculos, várias perseguições que tiveram êxito, com algumas tréguas, como as que atingiram a Igreja no Ocidente em primeiros três séculos de vida. Milhares de cristãos foram enviados ao martírio, e muitos são aqueles que morreram nas montanhas, nas florestas, nos territórios insalubres onde foram exilados.
Como se lembrar de todos eles? Mesmo se nos limitássemos aos canonizados hoje, não poderíamos nos alongar em cada um deles. São 117, incluindo oito bispos, cinquenta sacerdotes, cinquenta e nove leigos, e entre eles encontramos uma mulher, Agnese Le Thi Thành, mãe de seis filhos.
Papa João Paulo II – Homilia de Canonização – 19 de junho de 1988
Clemente nasceu no dia 23 de novembro de 1761 na Espanha. Muito jovem ainda, entrou no Ordem Dominicana, fazendo sua profissão religiosa no ano de 1781. Sentindo o chamado missionário, após sua ordenação, partiu para as Filipinas, aí chegando no ano de 1786 e onde se dedicou a evangelização dos pagãos.
Em 1788, foi eleito para evangelizar a região de Tonkin – o atual Vietnam – com outros 15 voluntários. Dada a precariedade dos transportes da época, conseguiu chegar na região apenas em 1790. Encontrando um pequeno grupo de padres que aí já estavam, Inácio se dedicou a aprender a nova língua e a levar o evangelho aos moradores da região.
Diante de suas habilidades e de sua inteligência, os coirmãos o elegeram Vigário Provincial, e, em 1794, o papa Pio VI o nomeou bispo e coadjutor do Vigário Apostólico, Monsenhor Feliciano Alonso, a quem substituiu em 1799, tornando-se ele próprio, Inácio, o Vigário Apostólico.
Por longos anos dedicou-se com toda ênfase à evangelização e, na medida que o cristianismo progredia, começaram as perseguições. No dia 29 de maio de 1838, após tantos anos de sacrifícios no anúncio do evangelho, Inácio foi preso pelas autoridades, hostis ao cristianismo.
Um mandarim, ao ver que era um idoso e que, apesar de tudo, estava sereno, seguindo os costumes da cultura local, lhe ofereceu uma faca para que pudesse ele mesmo tirar sua própria vida. Diante disso, Inácio dissera: “Dar a morte a si próprio é um grave pecado; se, no entanto, você quiser tirar minha vida por causa da religião cristã que professo e ensino, ficarei contente”. Enraivecido, o mandarim o entregou às autoridades.
Após inúmeras humilhações, foi colocado à exposição pública, confinado numa jaula, onde podia apenas ficar de pé. Aí ficou por longos meses ao relento, até que chegou a sentença: decapitação. No entanto, a pena não pôde ser aplicada, pois na madrugada de 12 de julho, depois de tantos maus tratos, seu corpo não aguentou as torturas e sucumbiu.
Apesar de ter morrido, as autoridades mandaram cortar sua cabeça e arrastar seu pobre corpo pelas estradas da cidade. Sua cabeça chegou a ficar três dias exposta, e como forma de escarnecer ainda mais a comunidade cristã, foi atirada num rio; milagrosamente um pescador, ao puxar suas redes, descobriu a cabeça incorrupta do santo no dia 1 de novembro daquele mesmo ano.
O mártir foi canonizado pelo Papa João Paulo II, com outras 116 testemunhas da fé no dia 19 de junho de 1988.
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