O Feliz Nascimento de Maria Santíssima Senhora Nossa
Sua Mãe, Ana, ... recebeu aviso do Senhor que chegara a hora do parto. Ouviu sua voz cheia de gozo do Divino Espírito, e prostrada em oração pediu ao Senhor que a assistisse com sua graça e proteção para o feliz sucesso de sua maternidade.
Sentiu o natural movimento que acontece em tal caso, e a mais que ditosa menina Maria foi, por virtude e providência divina, arrebatada num altíssimo êxtase. Abstraída de todas as operações sensitivas, nasceu ao mundo sem o conhecer pelos sentidos, pois por eles poderia ter notado, já que possuía o uso da razão. O poder do Altíssimo dispôs por daquele modo para que a princesa do céu não percebesse o próprio nascimento.
Maria, aurora da graça
Nasceu pura, limpa, formosa e cheia de graças, publicando por elas que vinha livre da lei e tributo do pecado. Em substância, nasceu como os demais filhos de Adão, mas com tais condições e particularidades da graça, que este nascimento foi admirável milagre para toda a natureza e eterno louvor de seu autor.
Despontou, pois, este divino luzeiro no mundo às doze horas da noite, começando a separar a noite e trevas da antiga lei, do novo dia da graça que já queria amanhecer.
Envolveram-na em panos e foi tratada como as demais crianças, aquela que tinha sua mente na Divindade, e como infante, quem em sabedoria excedia a todos os mortais e aos mesmos anjos. Não consentiu sua mãe que outras mãos cuidassem da menina, e com as suas a envolveu em mantilhas. Seu estado não lhe foi impedimento, porque foi isenta das onerosas consequências que ordinariamente sofrem as outras mães em seus partos.
Oração de Sant´Ana
Recebeu Sant´Ana em suas mãos aquela que, sendo sua filha, era ao mesmo tempo o maior tesouro do céu e da terra entre as puras criaturas, inferior somente a Deus e superior a toda a criação.
Com fervor e lágrimas a ofereceu a Deus dizendo interiormente: Senhor de infinita sabedoria e poder, criador de tudo quanto existe: ofereço-vos o fruto do meu seio, recebido de vossa bondade, com eterno agradecimento por me terdes dado sem eu tê-lo podido merecer. Na filha e mãe cumpri vossa vontade santíssima e do alto de vosso trono e grandeza olhai para nossa pequenez.
Sede eternamente bendito por terdes enriquecido o mundo com criatura tão agradável ao vosso beneplácito, e porque Nela preparastes a morada e tabernáculo (Sb 9,8) para o Verbo Eterno residir. A meus santos pais e profetas dou felicitações e neles a toda a linhagem humana, pelo seguro penhor que lhes dais de sua redenção.
Entretanto, como tratarei aquela que me dais por filha, se não mereço ser sua serva? Como tocarei a verdadeira arca do testamento? Dai-me, Senhor e Rei meu, a luz que necessito para conhecer vossa vontade, e executá-la para vosso agrado e serviço de minha filha.
Resposta do Senhor
Respondeu o Senhor no íntimo da santa matrona que exteriormente tratasse a divina menina como sua filha sem mostrar-lhe reverência, mas que conservasse em seu coração essa reverência. No mais, cumprisse com as obrigações de verdadeira mãe, criando sua filha com solicitude e amor.
Assim fez a feliz mãe. Usando deste direito e permissão, sem perder a divina reverência, deliciava-se com sua Filha Santíssima, tratando-a e acariciando-a como as outras mães, mas atenta à grandeza do tão oculto e divino segredo que entre ambas haviam.
Os anjos de guarda da meiga menina, com grande multidão de outros deles, a reverenciaram nos braços de sua mãe e lhe entoaram celestial música, da qual ouviu um pouco a ditosa Ana.
Os mil anjos nomeados para a custódia da grande Rainha, ofereceram-se e dedicaram-se ao seu serviço. Foi esta a primeira vez que a divina Senhora os viu em forma corpórea, com as divisas e vestes que explicarei noutro capítulo. A menina pediu-lhes louvassem com Ela, e em seu nome, ao altíssimo.
São Gabriel anuncia ao limbo o nascimento de Maria
No momento em que nasceu nossa princesa Maria, o Altíssimo enviou o Santo Arcanjo Gabriel para participar aos santos pais do limbo esta tão alegre nova para eles.
O embaixador celestial desceu logo, iluminando aquela profunda caverna e alegrando aos justos nelas detidos. Noticiou-lhes que já começava a amanhecer o dia da eterna felicidade e redenção do gênero humano, tão desejado e esperado pelos santos e vaticinado pelos profetas. Já nascera a futura Mãe do Messias prometido e muito em breve veriam a salvação e glória do Altíssimo.
Deu-lhes notícia o santo Príncipe das excelências de Maria Santíssima e do que a mão do Onipotente começara a fazer por Ela, para conhecerem melhor o ditoso princípio do mistério que poria fim a sua prolongada prisão.
Todos aqueles pais, profetas e demais justos que estavam no limbo alegraram-se em espírito, e com novos cânticos louvaram o Senhor por este benefício.
Os anjos reconheceram Maria por sua Rainha
Quem poderá dignamente exaltar este maravilhoso prodígio da destra do Onipotente?
Quem dirá o gozo e admiração dos espíritos celestiais ao verem e celebrarem com novos cânticos aquela tão nova maravilha entre as obras do Altíssimo?
Ali reconheceram e reverenciaram a sua Rainha e Senhora, escolhida para Mãe Daquele que seria sua cabeça, causa da graça e da glória que possuíam, pois as deviam aos méritos de Cristo, previstos na divina aceitação.
Mas, que língua e que pensamento mortal pode entrar no segredo do coração daquela tenra menina, no sucesso e feitos de tão peregrino favor?
Deixo-o à piedade católica, e muito mais aos que no Senhor o conheceram, e a nós quando por sua misericórdia infinita chegarmos a gozá-lo face a face.
Deus impõe-lhe o nome de Maria
Determinou-se naquele divino consistório e tribunal, dar nome a Menina rainha. Como nenhum é legitimo e adequado senão o que é posto no ser imutável de Deus, onde com equidade, peso, medida e infinita sabedoria se dispensam e ordenam todas as coisas, quis Sua Majestade dá-lo por si mesmo no céu.
Manifestou aos espíritos angélicos que as três divinas pessoas haviam decretado e formado os dulcíssimos nomes de Jesus e Maria, para filho e mãe ab initio ante saecula. Que desde toda a eternidade haviam se comprazido neles, gravando-os em sua memória eterna e tendo-os presentes em todas as coisas a que haviam dado existência, pois para o serviço deles tinham sido criados.
Conhecendo estes e outros mistérios, os santos anjos ouviram sair do trono do Pai Eterno voz que dizia: - Nossa eleita chamar-se–á Maria, e este nome há de ser maravilhoso e magnífico. Os que o invocarem com devoção receberão copiosíssimas graças, os que o pronunciarem com reverência serão consolados, e todos acharão nele alívio para suas dores, tesouros com que se enriquecerem, luz para serem guiados à vida eterna. Será terrível contra o inferno, esmagará a cabeça da serpente e obterá insignes vitórias contra os príncipes das trevas.
Mandou o Senhor aos espíritos angélicos que participassem este ditoso nome à Sant´Ana, para ser realizado na terra o que fora confirmado no céu. A divina Menina prostrada pelo afeto ante o trono, deu humildes graças ao Ser eterno e com admiráveis e dulcíssimos cantos recebeu o nome.
Se se quisesse escrever as prerrogativas e graças que lhe concederam, seria mister compor livro separado em maiores volumes.
Os santos reverenciaram de novo, no trono do Altíssimo, a Maria Santíssima por futura Mãe do Verbo, sua Rainha e Senhora. Veneraram seu nome, prostrando-se ao ser pronunciado pela voz do eterno Pai, particularmente os que o levavam sobre o peito como divisa. Todos cantaram louvores por mistérios tão grandes e ocultos, mas a Menina Rainha ignorava a causa de quanto presenciava, porque não lhe seria manifestada sua dignidade de Mãe do Verbo até o tempo da Encarnação.
Com o mesmo júbilo e reverência voltaram os anjos a pô-la nos braços de Sant´Ana, a quem foi oculto este sucesso e a ausência de sua filha, pois fora substituída por um de seus anjos da guarda, com um corpo aparente.
Além disso, enquanto a divina Menina esteve no céu empíreo, teve sua mãe Ana um êxtase de altíssima contemplação. Nele, ainda que ignorasse o que se passava com sua Menina, lhe foram manifestados grandes mistérios da dignidade da Mãe de Deus para a qual sua filha era escolhida. A prudente matrona conservou-os sempre em seu coração, meditando-os para, de acordo com eles, proceder com sua filha.
O nascimento de Maria, alegria para o céu e a terra
Aos oito dias do nascimento da grande Rainha, desceram das alturas multidões de anjos formosíssimos e roçagantes. Traziam um brasão no qual vinha gravado e resplandecente o nome de MARIA. Manifestando-se a ditosa mãe Ana disseram-lhe que o nome de sua filha era o que traziam. Que a divina providência lho havia dado e ordenava que ela e Joaquim o impusessem logo. ...
... Deste modo recebeu nossa Princesa o nome que lhe foi dado pela Santíssima Trindade no céu, no dia em que nasceu, e na terra oito dias depois. Foi inscrito no registro dos demais, quando sua mãe foi ao Templo para cumprir a lei. ...
Fonte:
Livro: “Mística Cidade de Deus” – Maria de Ágreda - Espanha Século XVII - Primeiro Tomo - páginas: 171 a 175 - Capítulo 21
(Obs.: Lê-se no Livro Mística Cidade de Deus que o Nascimento da Santíssima Virgem deu-se no dia 8 de setembro como também é tradição na Santa Igreja Católica.)
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