Dons se multiplicam
A vida cristã encontra seu foco de atenção e de vivência na Eucaristia. A Encarnação aconteceu quando o Filho assumiu a condição humana. O Filho permanece entre os seus como vida através da Eucaristia. Os mistérios de Deus estão à altura do homem para que possa acolhê-los, por isso João nos oferece no capítulo sexto, o discurso do pão da vida. Antes do discurso, faz o milagre que orienta a reflexão. Concorrem vários elementos: Era Páscoa dos judeus. Nessa ceia está toda a história do povo. João não narra a celebração da última Ceia, mas interpreta-a nesse milagre e em seu discurso; “Havia muita relva no local”. Estamos na primavera. A vinda de Jesus é o começo de todas as estações do novo mundo; naquele momento Jesus faz o milagre da multiplicação dos pães. O milagre dá o sentido profundo da Eucaristia. Da ausência de alimento, surge a abundância. Jesus se preocupa com a necessidade do povo: “Onde vamos comprar pão para tanta gente?”(Jo 6,5). A preocupação com o outro gera a abundância que soluciona. Do pouco, cinco pães e dois peixinhos, que era lanche de uma menino, alimentou a multidão. Está claro que o mundo, com o pouco que tem, pode se alimentar. Mais uma vez a criança tem a solução. Note-se que a crise do mundo não é de alimento, mas de gente que saiba organizá-lo. O estoque do mundo é para ser multiplicado. Jesus mandou os discípulos distribuir. Enchem doze cestos com as sobras. “Saciais a todos com fartura” (Sl 144).
Páscoa só existe na partilha.
“Era Páscoa”. Esse milagre nos explicita o sentido da Páscoa de Jesus na Eucaristia e na Cruz. Tudo é para ser repartido. Esse milagre de multiplicar e repartir o pão resume toda a vida cristã. Há tantas coisas a serem partilhadas: A Palavra, os Sacramentos, as graças e a missão. O milagre é um símbolo de todo o sermão sobre o pão da vida. Jesus deu graças pelo pão e o multiplicou. Enquanto a Eucaristia não tiver o dom de partilha não passará de um rito. Não é mágico. Pode não chegar à vida. A Páscoa não é um momento, é o sentido de todo o momento. Tudo é Páscoa. Em tudo passamos da morte para a vida. Páscoa foi receber o dom da criança, cinco pães e dois peixinhos, para que o pouco fosse o sustento de muitos. Até se faz uma comparação do costume de colocar em comum os lanches que cada um trouxe. O pouco de cada um, somado chega a sobrar. Jesus reparte o pão e diz que é o seu Corpo e o vinho é o seu Sangue. É para ser repartido. É Páscoa. Na cruz, o corpo é partido e o sangue derramado. É Páscoa. O corpo do Senhor que nos alimenta, nos transforma Nele para que o levemos aos outros. É partilha. É Páscoa.
Pão da unidade
A Comunhão, Eucaristia partilhada gera unidade. Uma fé mal informada tem a característica individualista que vê só a si mesmo em comunhão com o Senhor. Antes de ser pão para o alimento espiritual ela se reparte e se transforma em partilha, concretamente. É o milagre que parte da unidade e gera unidade. Todos comeram e ainda sobraram, doze cestos. A tendência da espiritualidade individualista é ver a Eucaristia como algo pessoal, rito a ser executado. É bom. Mas tira toda a força pascal instituída por Jesus que é para a salvação do mundo. É o banquete da Sabedoria. “A sabedoria preparou o banquete” (Pr 9,1-6). Jesus é o pão descido do Céu para a vida do mundo. O aspecto individual se justifica a partir da pequena contribuição, como o menino que dá o seu pequeno lanche.
Leituras:2 Reis 4,42-44;Salmo144;
Efésios 4,1-6; João 6,1-15
1. A preocupação com o outro gera a abundância que soluciona.
2. O milagre de multiplicar e repartir o pão resume toda a vida cristã.
3. A Comunhão, Eucaristia partilhada gera unidade.
Cadê meu lanche
Sempre me incomodou a história “aqui há um menino que tem cinco pães e dois peixinhos. Mas o que é isso para tanta gente?” (Jo 6,9). Coitado do menino! Acho que deve ter ficado angustiado: “E agora, cadê meu lanche”? Certamente Jesus agradeceu e encheu o embornalzinho dele com um punhado de pedaços. E terá dito: “Leva um pouquinho para a mamãe”. Que sorriso lindo terá feito. Ele será o primeiro missionário da Eucaristia. A mãe terá dito: “Meu filho, onde arranjou isso?” Então ele foi contar. Ninguém falou nada dos peixinhos que também foram multiplicados e repartidos.
A palavra peixe, em grego (ιχθύς), é monograma de Cristo: Jesus Cristo de Deus Filho Salvador. O peixinho dá o sentido do Pão Eucarístico que é Jesus o Filho de Deus que veio para salvar.
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