Evangelho segundo São Lucas 24,35-48.
Naquele tempo, os discípulos de Emaús contaram o que tinha acontecido no caminho e como tinham reconhecido Jesus ao partir do pão.
Enquanto diziam isto, Jesus apresentou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco».
Espantados e cheios de medo, julgavam ver um espírito.
Disse-lhes Jesus: «Porque estais perturbados e porque se levantam esses pensamentos nos vossos corações?
Vede as minhas mãos e os meus pés: sou Eu mesmo; tocai-Me e vede: um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que Eu tenho».
Dito isto, mostrou-lhes as mãos e os pés.
E como eles, na sua alegria e admiração, não queriam ainda acreditar, perguntou-lhes: «Tendes aí alguma coisa para comer?».
Deram-Lhe uma posta de peixe assado,
que Ele tomou e começou a comer diante deles.
Depois disse-lhes: «Foram estas as palavras que vos dirigi, quando ainda estava convosco: "Tem de se cumprir tudo o que está escrito a meu respeito na Lei de Moisés, nos profetas e nos salmos"».
Abriu-lhes então o entendimento para compreenderem as Escrituras
e disse-lhes: «Assim está escrito que o Messias havia de sofrer e de ressuscitar dos mortos ao terceiro dia,
e que havia de ser pregado em seu nome o arrependimento e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém.
Vós sois testemunhas disso».
Tradução litúrgica da Bíblia
Papa, doutor da Igreja
Homilias sobre os Evangelhos,
n.°26;PL76,1197
«Sou Eu mesmo; tocai-Me»
Como é que o corpo do Senhor, uma vez ressuscitado, continuou a ser um corpo verdadeiro, podendo, ao mesmo tempo, entrar no local onde os discípulos se encontravam apesar de as portas estarem fechadas?
Devemos estar cientes de que a ação divina nada teria de admirável se a razão humana pudesse compreendê-la; e que a fé não teria mérito se o intelecto lhe fornecesse provas experimentais. Sendo, por si mesmas, incompreensíveis, tais obras do nosso Redentor devem ser meditadas à luz das outras ações do Senhor, de forma que sejamos levados a acreditar nestes seus feitos maravilhosos por força daqueles que ainda o são mais. Com efeito, o corpo do Senhor que se juntou aos discípulos não obstante estarem as portas fechadas é o mesmo que a natividade tornou visível aos homens, ao sair do seio fechado da Virgem. Não fiquemos, pois, admirados de que o nosso Redentor, depois de ter ressuscitado para a vida eterna, tenha entrado com as portas fechadas, porque, tendo vindo ao mundo para morrer, Ele saiu do seio da Virgem sem o abrir.
E, como a fé daqueles que O viam era ainda hesitante, o Senhor convidou-os a tocarem essa carne que atravessara portas fechadas. Ora, aquilo que podemos tocar é necessariamente corruptível, e o que não é corruptível é intocável. Porém, após a sua ressurreição, o nosso Redentor deu-nos a possibilidade de ver, de forma maravilhosa e incompreensível, um corpo que era a um tempo incorruptível e palpável. Mostrando-o incorruptível, convidava-nos à recompensa; dando-o a tocar, confirmava-nos na fé. Fez, pois, com que O víssemos incorruptível e palpável para manifestar firmemente que o seu corpo ressuscitado continuava a ter a mesma natureza, mas tinha sido elevado a uma glória absolutamente diferente.
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