Evangelho segundo São Marcos 1,12-15.
Naquele tempo, o Espírito Santo impeliu Jesus para o deserto.
Jesus esteve no deserto quarenta dias e era tentado por Satanás. Vivia com os animais selvagens, e os anjos serviam-no.
Depois de João ter sido preso, Jesus partiu para a Galileia e começou a pregar o Evangelho, dizendo:
«Cumpriu-se o tempo e está próximo o Reino de Deus. Arrependei-vos e acreditai no Evangelho».
Tradução litúrgica da Bíblia
Presbítero, teólogo
Comentário sobre o
Cântico dos Cânticos, III, 27-33
«Cumpriu-se o tempo e está
próximo o Reino de Deus»
A nossa vida de seres mortais está cheia de armadilhas que nos fazem tropeçar, está cheia de redes de enganos. E, como o inimigo espalhou essas redes por todo o lado, e nelas apanhou quase todos os homens, era necessário que aparecesse Alguém mais forte para as dominar e as romper, e para trilhar o rumo àqueles que O seguissem. Foi por isso que, antes de Se unir à Igreja, sua esposa, também o Salvador foi tentado pelo diabo. Ensinou assim à Igreja que não seria através da ociosidade e do prazer, mas através de provações e tentações, que ela haveria de chegar a Cristo.
Mais ninguém poderia, de facto, triunfar daquelas teias. Porque «todos pecaram», como está escrito (Rom 3,23); o nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo, foi o único que «não cometeu pecado» (1Ped 2,22). Mas o Pai «fê-lo pecado por nós» (2Cor 5,21). «De facto, Deus fez o que era impossível à Lei, por estar sujeita à fraqueza da carne: ao enviar o seu próprio Filho, em carne idêntica à do pecado e como sacrifício de expiação pelo pecado, condenou o pecado na carne» (Rom 8,3). Jesus entrou, pois, naquelas teias, mas não ficou enleado nelas. Mais ainda, tendo-as rompido e rasgado, deu confiança à Igreja, de tal forma que ela ousou, a partir de então, calcar aos pés as armadilhas, libertar-se das teias, e dizer cheia de alegria: «A nossa vida escapou como um pássaro do laço de caçadores; rompeu-se o laço e nós libertámo-nos» (Sl 123,7).
Também Ele sucumbiu à morte, mas voluntariamente e não, como nós, pela sujeição do pecado. Porque Ele foi o único a ser libertado de «entre os mortos» (Sl 87,6). E, porque estava livre entre os mortos, venceu «aquele que tinha o poder da morte, isto é, o diabo» (Heb 2,14) e arrancou-lhe os «cativos em cativeiro» (Ef 4,8) que estavam prisioneiros da morte. Não só Ele próprio ressuscitou dos mortos, como, simultaneamente, «nos ressuscitou e nos sentou no alto do Céu, em Cristo» (Ef 2,6); «ao subir às alturas, sujeitou um grupo de cativos» (Ef 4,8).
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