quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

REFLETINDO A PALAVRA - “Evangelho não se mistura”.

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA
REDENTORISTA
52 ANOS CONSAGRADO
45 ANOS SACERDOTE
São Marcos, em seu evangelho,
vai nos colocando de costas contra a parede para levar-nos a uma definição mais clara sobre nossa opção por Jesus. Às vezes ouço dizer: ‘Sou cristão, católico mas não sou de acordo com o evangelho’. Não dizemos com estas palavras, mas sim com atos e mentalidade. A maior força do cristianismo é a graça de Deus. A maior fragilidade é a falta de compromisso dos cristãos. 
Deus é fiel, como podemos ler no profeta Oséias: “Eu te desposarei para manter fidelidade”. Nossa infidelidade é a falta de compromisso, misturando as coisas, como podemos ler em Marcos 2,21: “Ninguém põe um remendo de pano novo numa roupa velha... ninguém põe vinho novo em odres velhos” (odre de pele de cabra é um recipiente para vinho). Jesus insiste em não convém misturar as coisas. Não dá certo. “Rasga-se o pano e quebram-se os odres!” Vimos que Ele manda que os que foram curados não contem a ninguém. Por que? Para não ser confundido com um Messias político que vem para resolver os problemas do povo com uma solução miraculosa. Ele quer ser acolhido como o Messias de Deus. Também ser confundido com uma mentalidade religiosa que vive de práticas exteriores como os fariseus. Jesus é a novidade total. 
A questão que provoca esta bela frase do vinho novo em odres novos são as práticas farisaicas, não do jejum em si que é bom. O cristianismo primitivo tem sua primeira crise com a dificuldade de que muitos judeus queriam ser cristãos, mas exigiam a prática da lei judaica com todas as suas normas e tradições. Jesus continua o Antigo Testamento, mas recusa a interpretação exterior dada pelos donos da religião. Com Ele começa a grande novidade: Deus em pessoa vem para o meio de seu povo para estabelecer uma aliança no coração, da qual surgirá uma prática autêntica a que chamamos amor. Dirão dos cristãos “vede como se amam”! e não “como praticam bem a lei!” Há uma lei nova que nasce da caridade e é escrita em nossos corações pelo Espírito de Deus. 
Existem dois males em nossa religião (que se encontra também em outras) que prejudicam muito seu sentido: fazemos como aqueles que Jesus condenava – praticamos atos exteriores sejam de oração ou de práticas que não têm Jesus como ponto de partida. Muitas de nossas orações de poder, novenas infalíveis, medalhas de proteção, devoções a certos santos milagreiros não tem nada a ver com Jesus. Tudo isso é bom, mas se estiver de acordo com Jesus e seu Evangelho. Para nós, às vezes Jesus não passa de um milagreiro a mais. E nós praticamos atos religiosos não centrados em Jesus, mas em nós mesmos, em nossa vaidade, nossas dificuldades pessoais. A partir do momento em que acolhemos Jesus como o centro e a razão de nossas vidas todos estes atos tomam sentido novo. Assim dizia Jesus: “depois que o esposo for tirado, jejuarão”, farão as coisas mas de um modo diferente. Isso é muito sério. Às vezes a Igreja sente insegurança na liberdade que Jesus dá. Mas é preciso romper as correntes e viver a alegria da presença do “Esposo”. 
Leituras: Oséias 2,16.17.21-22; 
2Coríntios 3,1-6; Marcos2,18-22
Homilia do 8º domingo do Tempo Comum(02.03) 
EM MARÇO DE 2003

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