sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

REFLETINDO A PALAVRA - “Cinzas e pó!”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA
REDENTORISTA
52 ANOS CONSAGRADO
45 ANOS SACERDOTE
Todos os anos realizamos o antigo rito da imposição das cinzas.
Cobrir-se de cinzas, como sinal de penitência, é muito antigo. Afunda-se na noite da história. Deitar-se na cinza ou cobrir-se de cinza mostra publicamente que estamos em penitência e reconhecendo uma situação de pecado e arrependimento. Todos os anos a Igreja, terminadas as festas do Carnaval, coloca cinzas na cabeça do povo para dizer: ‘começamos o tempo da Quaresma, tempo de penitência, recolhimento e arrependimento para chegarmos preparados às festas pascais’. Junto à cinza temos as práticas da Quaresma cristã: jejum, esmola e oração. É um tempo de conversão e reconciliação. 
A cerimônia das cinzas não significa uma contraposição ao humano, ao alegre. Aliás, o Carnaval nasceu justamente da celebração das cinzas. Com a Quarta-feira de Cinzas iniciava-se um rigoroso jejum durante o qual não se comiam carnes nem derivados do leite. Sobrava pouca coisa para comer. Assim, no dia anterior, fazia-se uma festinha para “despedir-se” da carne. Depois passou-se para a carne que não consegue se despedir e invade a Quaresma. Existem até orações antigas para despedir-se da carne (ad tollendas carnes). 
Além do aspecto religioso da penitência, conversão e campanha da fraternidade, há um elemento que não podemos perder de vista: as cinzas desta quarta-feira são um belíssimo símbolo de nossa vida. Gosto muito, embora entenda pouco, de ver a profundidade psicológica de certas narrações bíblicas e de certos ritos da Igreja. Hoje somos conduzidos a entender mais e mais nossa realidade humana e espiritual. Somos cinza e pó. O texto da imposição das cinzas antigamente dizia: “lembra-te homem que és pó e em pó te tornarás”. Ser cinza e pó não é uma coisa má. É nossa realidade. Deus fez o homem do pó, com diz a Escritura. Mesmo que a narração não corresponda a uma realidade histórica, corresponde profundamente ao ser humano: a fragilidade e a grandiosa pequenez da pessoa. Isso não é mau, é condição de crescimento. 
A Liturgia nos coloca diante desta fragilidade não como condenação, mas como abertura ao Mistério Pascal de Cristo. Ele, na fragilidade da natureza humana, realizou a obra da Redenção, destruindo na cruz o fechamento do ser humano abrindo-o a uma vida que se explica na força redentora de Cristo em a condição humana não é mais um caso sem solução. As cinzas remetem o homem ao seu começo e fim: feito do barro, termina em pó. Pela reconciliação em Cristo, este pó, umedecido pelas águas do batismo, faz de nós um barro na mão do divino Oleiro que nos molda à imagem de seu Filho. O fato de ser pó, conduz à aceitação da humildade necessária para realizar as obras da oração, caridade e o desapego – jejum. Não deixe nesta quaresma de ter uma atitude concreta que prove a você mesmo seu interesse pela vida em Cristo. Escolha uma penitência pessoal, que não o prejudique e faça-a durante a Quaresma. Quem sabe, deixar a braminha, a novelinha, chocolate, refrigerante, falar mal dos outros etc.
ARTIGO REDIGIDO E PUBLICADO
EM MARÇO DE 2003

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