sábado, 19 de dezembro de 2020

REFLETINDO A PALAVRA - “Cristo é rei, mas é diferente”!

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA
REDENTORISTA
52 ANOS CONSAGRADO
45 ANOS SACERDOTE
No último domingo do ano litúrgico
celebramos a festa do Cristo Rei. Antes a festa celebrada era no último domingo de outubro. A mentalidade da festa era um tanto triunfalista. A festa tomou um sentido diferente: Cristo é o centro para o qual converge todo o universo, mas é também o Pastor do rebanho. 
O profeta Ezequiel define como será este rei: será o pastor que vai procurar a ovelha perdida, curar a doente e zelar pelas que estão sadias. É um rei-pastor voltado para o bem dos seus. Sua realeza vai desmontar os esquemas de maldade existentes no mundo. Com sua morte e ressurreição tornou-se Senhor da vida, vencendo a morte. Nele só existem esperanças de vida. A desolação e desesperança da morte estão vencidas. “Como em Adão todos morrem, em Cristo, todos reviverão”.
Cristo não é um rei do fim dos tempos, dos altos céus e que virá sobre as nuvens. “Ele conhece cada ovelha e chama cada uma por seu nome” (Jo 10,3). A relação com Cristo é essencialmente pessoal e com a característica divina da totalidade para cada um. Ele é o Pastor por sua entrega total ao rebanho que somos nós. E´o pastor sobretudo dos enfraquecidos, dos feridos como Ele. Por isso ele cuida dos sofridos, pois “viveu em tudo a condição humana” (Hb 4,15) e conhece nossas dores. “Verdadeiramente tomou sobre si as nossas enfermidades, e carregou as nossas dores” (Is 53,4). 
Cristo Rei é o objeto de nosso culto e de nosso amor. Mas, o amor tem uma direção certa: “Tudo o que fizestes ao menos dos meus irmãos, foi a mim que o fizestes” (Mt 25,40). Esta será a aplicação da justiça divina: o que fizestes ao menor dos irmãos. Esta será a grande adoração que faremos durante nossa vida: amar Cristo no irmão. Trata-se de um amor que cuida das necessidades básicas de cada um: comida, água, vestimenta, acolhimento quando estranho e visita na doença e na prisão. Cristo coloca isso como condição de vida em seu reino. Não se trata de criar um céu na terra, como um reino milenarista, mas de criar condições de vida e de amor em todos os ambientes. 
Sempre houve a tendência de criar uma religião distanciada das realidades do mundo. Algumas espiritualidades chegaram a dizer “quanto mais fui para o meio dos homens, menos homem voltei”. Jesus fez este caminho: “Veio para os que eram seus” (Jo 1,11) e não se envergonha de chamá-los irmãos” (Hb 2,11). Não se dispensam, e aliás são necessários, os atos religiosos, íntimos, mas também não se dispensa a realização de um reino de justiça, de amor e de paz. Este reino é a força de transformação que provém das pequenas atitudes até chegar às grandes transformações. O que não podemos fazer é crer que não posso fazer nada, o que faço não vale e o que pretendo não tem futuro. Basta semear e juntar nossas frágeis forças para modificar a situação, começando por mim mesmo. (leituras: Ezequiel 34,11.15-17; 1 Coríntios 15.20-26.28; Mateus 25,31-46)
Homilia da Solenidade de Cristo Rei
Em novembro de 2002

Nenhum comentário:

Postar um comentário