Evangelho segundo São Mateus 10,17-22.
Naquele tempo, disse Jesus aos seus apóstolos: «Tende cuidado com os homens: hão de entregar-vos aos tribunais e açoitar-vos nas sinagogas.
Por minha causa, sereis levados à presença de governadores e reis, para dar testemunho diante deles e das nações.
Quando vos entregarem, não vos preocupeis em saber como falar nem com o que dizer, porque nessa altura vos será sugerido o que deveis dizer;
porque não sereis vós a falar, mas é o Espírito do vosso Pai que falará em vós.
O irmão entregará à morte o irmão e o pai entregará o filho. Os filhos hão de erguer-se contra os pais e causar-lhes a morte.
E sereis odiados por todos por causa do meu nome. Mas aquele que perseverar até ao fim, esse será salvo.
Tradução litúrgica da Bíblia
Presbítero de Antioquia,bispo de Constantinopla,
doutor da Igreja
Homília para a Sexta-feira Santa
«A cruz e o ladrão»
«Senhor, não lhes atribuas este pecado»
Imitemos Nosso Senhor e rezemos pelos nossos inimigos. Estando crucificado, Ele rezou a seu Pai por aqueles que O haviam crucificado. Mas como posso eu imitar o Senhor, perguntamo-nos. Se quiseres, podes; pois, se não pudesses, Ele não teria dito: «Aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração» (Mt 11,29). Se tens dificuldade em imitar o Senhor, imita pelo menos aquele que é também seu servo, seu diácono: Estêvão. Com efeito, ele imitou o Senhor; pois assim como Cristo, esquecendo a cruz, esquecendo a sua própria situação, intercedeu junto do Pai em favor dos seus carrascos (Lc 23,34), assim o seu servo, rodeado por aqueles que o lapidavam, assediado por todos, submetido a uma chuva de pedras, sem ter em conta os sofrimentos que lhe causavam, pediu: «Senhor, não lhes atribuas este pecado» (At 7,60). Estás a ver como falava o Filho e como rezava o seu servo? O primeiro reza: «Perdoa-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem» e o segundo pede: «Senhor, não lhes atribuas este pecado». De resto, para compreendermos melhor o ardor com que Estêvão rezava, notemos que não rezava simplesmente de pé, sob os golpes das pedras: era de joelhos que falava, com convicção e compaixão. Cristo disse: «Perdoa-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem», Estêvão gritou: «Senhor, não lhes atribuas este pecado» e Paulo declarou: «Ofereço este sacrifício pelo bem dos meus irmãos, os da minha raça, segundo a carne» (cf Rm 9,3). Moisés pediu a Deus: «Perdoa-lhes este pecado, ou então apaga-me do livro que escreveste» (Ex 32,32), e David suplicou-Lhe: «Peço que descarregues a tua mão sobre mim e sobre a minha família!» (2Sam 24,17). Que perdão podemos obter se fizermos o contrário daquilo que nos é pedido e rezarmos contra os nossos inimigos, quando o próprio Senhor e os seus servos, tanto do Antigo como do Novo Testamento, nos exortam a pedir por eles?
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