segunda-feira, 30 de novembro de 2020

REFLETINDO A PALAVRA - “Meditando a Palavra à luz do tempo”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA
REDENTORISTA
52 ANOS CONSAGRADO
45 ANOS SACERDOTE
Uma bela tarde, lá no sertão de Goiás
, em S. Joaquim do Cavalo Queimado, hoje Araguapaz, num belíssimo sol poente, Nina, uma amiga de Tietê, lia o profeta Jeremias. Era justamente aquele texto tão bonito: “Senhor, vós me seduzistes e eu me deixei seduzir...Ele era com um fogo que me consumia os ossos. Não resisti!” (Jr.20,7-9). Nós estudantes redentoristas de S. Paulo, os estudantes de medicina de Goiânia e mais alguns jovens, fazíamos um trabalho de conscientização social e religiosa. Aquela ambientação da Palavra de Deus e os belos poentes de Goiás, trouxeram a este texto como que uma nova compreensão. Aquele texto fixou-se em nós como uma marca que permanece. Igualmente a presença do mistério de Deus fascinante permanece indelével. Isso foi no ano de 1969. 
É preciso meditar a Palavra à luz do tempo cósmico. Quem não pensa em Deus diante do mar, das montanhas, dos passarinhos, das flores e dos olhos vivos de animal? O tempo e natureza nos ajudam a compreender a Palavra. Jesus se servia da natureza e do tempo para transmitir suas parábolas e ensinamento. “Olhai os lírios do campo...olhai os pássaros do céu” (Lc 12,27). Os olhos de Jesus que contemplam, escrevem em seu coração as palavras que ele anuncia. 
Se a natureza é um caminho para Deus, que se dirá da pessoa humana? Vendo e contemplando as pessoas na sua beleza, sobretudo a beleza não ‘produzida’, ou vendo uma criança, ou a dor de um doente, as rugas de uma velhinha empobrecida, lemos o evangelho vivo. Tenho para mim que, quem não é capaz de abrir este livro, jamais entenderá as Palavras escritas no Livro Santo porque, quando elas falam de Deus e de seu Cristo, estão falando da pessoa humana que Jesus assumiu como irmã. “Ele não se envergonha de chamá-los irmãos” (Hb 2,11). Jesus anuncia seu evangelho através de gestos que envolvem a pessoa humana: é o toque num leproso, um abraço às crianças, é o deixar-se tocar por uma prostituta. É o entrar na casa de um publicano e comer com eles. É o choro pela morte de Lázaro. É a convivência com os doze, que em suas pessoas são futuros fundamentos da Igreja. A partir das pessoas, dos milagres, dos contatos é que Ele anuncia sua Palavra. Nós somos chamados a conhecer e estar em contato com as pessoas para poder entender a Palavra, senão ela será sempre estéril. 
Tempo, pessoas e acontecimentos! Eis a fonte de uma sadia leitura! A gente tem que ter consciência de que a Palavra não é o texto escrito, mas o conteúdo do texto. O texto é o sacrário da Palavra. A chave de leitura dos acontecimentos é fundamental. Cada acontecimento tem uma semente da Palavra eterna. Ele nos interpela a uma resposta em conformidade com Deus. Este acontecimento leva-nos a compreender as palavras que lemos. Por exemplo: quando vemos a morte de um ente querido, recebemos esta palavra e ao lermos a Palavra, passamos a entendê-la melhor. A leitura torna-se assim, realmente fecunda. Do contrário ficamos na simples leitura piedosa, boa, mas insuficiente. Ler os sinais dos tempos! Eis o nossa leitura da Palavra!
ARTIGO REDIGIDO E PUBLICADO
EM OUTUBRO DE 2002

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