PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA REDENTORISTA 52 ANOS CONSAGRADO 45 ANOS SACERDOTE |
Todo dia é dia de Bíblia, pois reza o salmo: “Tua palavra é lâmpada para os meus pés, e luz para o meu caminho” (Sl 119,105). Se celebramos um mês da Bíblia é para lembrar que faz parte de nosso dia a dia. Bem-aventurado e feliz aquele que sabe lê-la e colocá-la em prática, como Jesus diz de Maria: “minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a palavra de Deus e põem em prática” (Lc 8,19-21). Sendo prática do dia a dia, o termo discernir se torna importante para quem está com a Palavra de Deus nas mãos e no coração.
É belo ver as pessoas usando a Bíblia, lendo, meditando, rezando. Maravilha que faz santa inveja no coração! Por que não sou assim? É belo ver as pessoas citarem a Bíblia com tanta facilidade e acharem os textos mais belos que confortam o coração. Mas esta palavra, como diz S. João se torna amarga quando chega à vida de quem “OUVE e PÕE EM PRATICA”: “Tomei o livrinho da mão do anjo, e o comi; e na minha boca era doce como mel; mas depois que o comi, o meu ventre ficou amargo” (Ap 10,10). Por que se torna amarga? Porque discerne o mundo em que vivemos. Discernindo, leva-nos a tomar uma atitude coerente. Aí ela se torna viva. Não será mais um belo texto a ser lido, meditado e rezado. Ela se torna o mestre de obras como diz o livro dos Provérbios 8,30, “eu estava junto com ele como o mestre de obras” que arquiteta a vida num mundo cheio de questionamentos. Aqui a Palavra se torna amarga em nosso íntimo, pois exige respostas vivas e coerentes.
Que tipo de discernimento somos chamados a fazer? “Não vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus” (Rm 12,2). Este discernimento conduz a tomar decisões diante de realidades que passam: “e os que usam deste mundo, como se dele não usassem em absoluto, porque a aparência deste mundo passa” (1 Cor 7,31). Ela exige esta identidade cristã de não se conformar com que se nos apresenta no cotidiano.
Torna-se claro que o lugar de ler, meditar e rezar a Bíblia é no livro da vida do mundo onde ela foi escrita como resposta de Deus ao homem do dia a dia. Só assim ela é viva e eficaz e discerne. É doce, mas amarga no “vamos ver” da vida. Só aí somos bons leitores da Palavra. De resto seremos como aquele que “olha no espelho e vai embora, esquecendo-se de sua aparência” (Tg 1,24). Mais ainda, é preciso ouvir como os pobres entendem esta Palavra, pois, ela foi escrita no seu mundo e é ali que se pode compreendê-la melhor. Jesus dizia: “O Espírito me ungiu para anunciar a boa nova aos pobres” (Lc 4,18). Ela é sempre atual: “Hoje se realizou esta Escritura que acabais de ouvir” (Lc 4,21).
ARTIGO REDIGIDO E PUBLICADO
EM SETEMBRO DE 2002
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