quarta-feira, 18 de março de 2020

Venerável Ana Madalena Rémuzat, e o Escudo do Sagrado Coração

     Ana Madalena Rémuzat nasceu em Marselha a 29 de novembro de 1696, no seio de uma família profundamente cristã e piedosa; foi batizada no mesmo dia na igreja de Accoules. Muito pequena expressou seu desejo de ser religiosa. Depois de uma oposição inicial e diante de sua insistência, em 1705, os pais concordaram em deixá-la entrar por algum tempo no segundo mosteiro da Visitação de Marselha, fundado em 1652, onde já se encontrava uma parenta.
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     No ano seguinte, Madalena recebeu a Primeira Comunhão e foi cumulada de favores espirituais. Em 1708, Nosso Senhor Jesus Cristo a chamou a uma maior fidelidade e pediu, na linguagem da época, que fosse a sua "vítima", ou seja, sua mensageira, sua enviada. Assim começou um período de renúncia e mortificação. Jesus lhe aparecia frequentemente, conversava com ela; apesar disso, ela sofria provações e a noite do espírito.
     Em 1709, por ocasião de uma visita ao mosteiro, a menina pediu a seu pai para voltar para casa. Na família, a amável menina dedicava-se com cuidados especiais a seus numerosos irmãos e irmãs.
     Toda a família passava o verão no castelo da Glacière, situado perto de Auriol. Lá, como em Marselha, a oração, o trabalho e as obras de caridade ocupavam uma larga parte dos dias de Madalena. Enfeitar os altares, ensinar às crianças da aldeia, visitar os pobres doentes, eram suas práticas diárias.
     Madalena passou assim dois anos no mundo, exercendo um verdadeiro apostolado junto a todos os que se aproximavam dela. A beleza de sua alma se refletia em seu rosto marcado por uma virginal modéstia. Suas maneiras afáveis e dignas, sua conversa edificante, impunham respeito e faziam sentir a presença de Deus. Uma irradiação toda divina parecia fazer-se em torno da piedosa jovem e ela tornou-se, sem saber, objeto de uma espécie de veneração; ela adquirira uma verdadeira influência em sua cidade natal que, no momento apropriado, iria lhe facilitar a realização da ordem celeste.
     Nesses dois anos conhecera e passou a ser dirigida espiritualmente pelo Pe. Claude Francis Milley, SJ.
     No dia 2 de outubro de 1711, Madalena ingressou como postulante no primeiro mosteiro da Visitação de Marselha. Neste mosteiro, fundado em 1623 e chamado das Grandes Marias, desde 1691 havia um oratório dedicado ao Sagrado Coração de Jesus, substituído em 1696 por uma capela.
Mons. Belsunce
     Em 14 de janeiro de 1712, recebeu o hábito das noviças durante uma cerimônia presidida por Mons. de Belsunce, o qual a chama pela primeira vez de Ana Madalena. Em 14 de agosto de 1712, sua irmã Ana ingressou no mosteiro, e três meses depois vestiu o hábito com o nome de Ana Vitória († 1760). Ana Madalena pronunciou os votos perpétuos em 23 de janeiro de 1713.
     No dia 17 de outubro de 1713, Nosso Senhor confiou a Irmã Ana Madalena uma missão, conforme ela contou em carta dirigida a seu diretor, em 14 de outubro de 1721: “Sexta-feira próxima, dia da morte de nossa Venerável Irmã Alacoque, fará oito anos que Jesus Cristo me fez conhecer, de maneira especial e extraordinária, seus desígnios sobre mim, com respeito à glória de seu Coração adorável. Se esta carta vos for entregue antes da sexta-feira, vós me fareis o favor de não esquecer, no altar, de dar graças a Deus”.
     Ao confiar a Irmã Ana Madalena sua missão no dia do aniversário da morte de Santa Margarida Maria, Nosso Senhor dava a entender que aquela devia, ao realizar sua missão particular, continuar e completar a missão desta.
     Assim começou para ela um tempo de provação e sofrimento, mas também de consolo na oração. Apóstola e vítima, ela era assim mediadora que intercedia pela salvação dos pecadores. Muitos vêm consultá-la no parlatório do mosteiro. Deus queria que ela exercesse junto às almas uma espécie de ministério excepcional, único mesmo na história da Visitação. Para isso, Ele tinha dotado sua serva com os dons da profecia, de uma visão sobrenatural das consciências e do conhecimento dos acontecimentos que se passavam ao longe. Inumeráveis fatos o provaram e viu-se, então, em Marselha, um espetáculo inaudito: uma jovem religiosa, de dezenove a vinte anos servir de árbitro nas questões mais obscuras e decidir com tal autoridade que toda objeção desaparecia diante de sua palavra: “A Irmã Rémuzat disse”.
     Em 1716, durante um êxtase, ela obteve permissão para ver a Santíssima Trindade. Seguem numerosas visões e colóquios com Jesus. Um ano depois, com a aprovação e o apoio de Mons. Belsunce, ela redigiu os estatutos da Associação da Adoração Perpétua do Sagrado Coração de Nosso Senhor Jesus Cristo.
     Em 30 de março de 1718, com a aprovação do Bispo de Marselha, são impressos os regulamentos e os exercícios piedosos, e a Associação vem à luz no mês de abril. As inscrições logo chegaram aos milhares e vários mosteiros da Visitação criaram a Associação em suas igrejas. Foi neste mesmo ano em que as doutrinas jansenistas se espalhavam em Marselha com virulência, que durante as Quarenta Horas Nosso Senhor Jesus Cristo milagrosamente apareceu no Santíssimo Sacramento exposto na igreja dos Frades Observantes Franciscanos em frente à multidão reunida para a oração.
     Ana Madalena Rémuzat foi advertida deste evento por via sobrenatural, bem como de um castigo que viria se a cidade não prestasse atenção à misericórdia do Senhor. Grande era a decadência moral da cidade agravada pela heresia jansenista que influenciava muitas pessoas. Ela mencionou esta mensagem ao seu diretor espiritual, Pe. Milley, que a transmitiu ao Mons. Belsunce. O bispo redigiu 4 exortações aos habitantes de Marselha, com pouca mudança de atitude por parte dos católicos.
Marselha assolada pela peste
     Em julho 1720 a peste atingiu Marselha. Em outubro, enquanto ela estava em adoração, Jesus mostrou-lhe que graças a este flagelo seria estabelecida uma festa em honra do Sagrado Coração, e, alguns dias depois, Ele indicou as condições necessárias. A mensagem foi enviada imediatamente ao Mons. Belsunce, que no dia 22 do mesmo mês publicou a ordem em que formalmente se instituía, na diocese de Marselha, a festa do Sagrado Coração, e em 1º de novembro seguinte - é a primeira no mundo – consagrou solenemente a cidade e a diocese ao Sagrado Coração Jesus. É de mencionar que este zeloso bispo promovera uma procissão pela cidade, em reparação e petição, indo à frente do povo descalço e com uma corda no pescoço.
     A peste, que parecia enfim superada, reapareceu em 1722 e foi somente após as autoridades civis da cidade, na pessoa de seus 4 notáveis, terem feito voto de participar desta festa a cada ano, na data em que o flagelo desapareceu, levando à Basílica do Sagrado Coração um círio com o brasão da cidade, cerimônia que ainda hoje acontece.
     Não tendo se poupado nos cuidados aos doentes da epidemia, Pe. Milley morreu da mesma doença. Seguindo o conselho de Mons. Belsunce, Ir. Ana Madalena foi colocada em contato epistolar com o Pe. Girard, que mais tarde se tornou seu diretor espiritual.
     Em 1723, durante os retiros anuais, ela tem uma nova visão da Santíssima Trindade. Em 1724 ela recebeu os estigmas da Paixão, mas pediu a Jesus que estes sinais permanecessem invisíveis.
     Em maio de 1725, a Madre Nogaret († 1731), uma antiga superiora do mosteiro, assumiu o comando e substituiu a Madre dos Santos Inocentes. Em maio 1728, Madre Nogaret nomeou-a tesoureira do mosteiro, cargo no qual seria incansável.
     Em janeiro 1730, Irmã Ana Madalena caiu gravemente doente e morreu no dia 15 de fevereiro seguinte – pedira que lhe recitassem a Ladainha do Sagrado Coração que ela mesma tinha composto. Mons. Belsunce presidiu o funeral e o sepultamento, enquanto a multidão, chorando, repetia incessantemente: "Morreu a santa!". Desde então, muitos milagres lhe foram atribuídos. Ela é considerada a herdeira de Santa Margarida Maria Alacoque e por isso é chamada de apóstola, a propagandista do Sagrado Coração.
     A Igreja a declarou Venerável e a causa de sua beatificação, introduzida em 24 de dezembro de 1891 e, em seguida retomada em 1921, ainda está sem resultado. Então, na Quinta-feira Santa, 9 de abril de 2009, Mons. Georges Pontier, Arcebispo de Marselha, nomeou postulador da causa o Mons. Jean-Pierre Ellul, reitor da Basílica do Sagrado Coração, onde está o coração de Irmã Ana Madalena desde que as Visitandinas de São Jerônimo deixaram Marselha para se juntar ao mosteiro de Voiron.
     No dia 15 de fevereiro de 2014, o processo de beatificação e canonização foi apresentado na Basílica do Sagrado Coração.
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O Escudo do Sagrado Coração
    Numa época de pandemias, quando as incertezas rondam todas as pessoas, existe uma certeza que está sempre ao nosso alcance: a proteção do Sagrado Coração de Jesus. O que acontece é que o clima psicológico criado em torno desse tipo de flagelo, em muitos casos desnorteia e faz esquecer verdades que conhecemos e que já foi, para muitos, ocasião de devoção, de alcance de graças, dons e favores.
Devoção e oração
     Para relembrar aos que se esqueceram e tornar conhecida aos que não a conheciam, segue uma pequena e poderosa oração que em momentos como esses que vivemos podem ser de uma eficácia que nem os homens com sua ciência e sua sabedoria humanas são capazes de realizar.
     Esta oração foi escrita no Escudo Protetor que o próprio Nosso Senhor mostrou a Santa Margarida Maria Alacoque como deveria ser elaborado. A Oração ao Escudo do Sagrado Coração de Jesus é pequena, simples e eficaz. Aqui está a oração do Escudo protetor do Sagrado Coração de Jesus:
     Alto lá! Detenha-te, demônio; detenha-se toda maldade, todo perigo, todo desastre. Detenham-se todos os assaltos, todas as balas de bandidos, todas as tentações. Detenha-se todo inimigo, toda enfermidade, e detenham-se nossas paixões desordenadas, pois o Sagrado Coração de Jesus está comigo! Alto lá! O coração de Jesus está Comigo. Venha a nós o Vosso Reino (3 vezes).
     Nosso Senhor revelou esta devoção a Santa Margarida Maria Alacoque, mostrando-lhe seu desejo de que fossem confeccionados escudos com a imagem de seu Sagrado Coração, e que os fiéis, como forma de homenagem, colocassem este escudo em suas casas e os tivessem junto a si levando-os consigo por todos os lados. Esta devoção era inicialmente praticada apenas nos mosteiros da Ordem da Visitação. Porém, os acontecimentos levaram a que a devoção ao Escudo Protetor do Sagrado Coração de Jesus se espalhasse extraordinariamente para fora dos mosteiros.
     Quem mais difundiu esta devoção foi a Venerável Ana Madalena Rémuzat. A ela Nosso Senhor fez saber, com muito tempo de antecedência, o estrago que uma grave epidemia faria aos moradores da cidade francesa de Marselha, em 1720. Mas, Nosso Senhor revelou também a esta venerável religiosa a promessa de todo o bem, de todo o maravilhoso auxílio caso os habitantes de Marselha praticassem a devoção ao Sagrado Coração de Jesus.
     Com a ajuda de suas irmãs de hábito, a Venerável Ana Madalena Rémuzat confeccionou milhares desses Escudos do Sagrado Coração e os distribuiu entre os habitantes de Marselha que estava sendo flagelada pela violenta e devastadora peste. Logo depois dessa distribuição e do fomento da devoção ao Escudo do Coração de Jesus, os registros históricos relatam que milagrosamente a epidemia cessou. Não só cessou como também não contagiou muitos daqueles que portavam o Escudo do Sagrado Coração de Jesus. Além disso, as pessoas contagiadas, com esta devoção, foram auxiliadas de um modo extraordinário.
     Os registros narram também que em outras localidades ocorreram fatos análogos. A partir de então, a devoção ao Sagrado Coração de Jesus teve grande desenvolvimento e a devoção a seu Escudo espalhou-se não só a outras cidades da França, mas a outros países também. Ao tomar conhecimento desta devoção e desses fatos históricos de Marselha, o Papa Pio IX, anos mais tarde, concedeu uma bênção especial a todos os escudos elaborados segundo o modelo dessa devoção.
(Redação Gaudium Press www.gaudiumpress.org)

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