quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

Beata Laura Vicuña, exemplo de amor filial - 22 de janeiro

     Laura del Carmen Vicuña nasceu no dia 5 de abril de 1891 em Santiago, Chile. Ela foi a primeira filha da família Pino Vicuña. Seus pais eram José Domingo Vicuña, um soldado com raízes aristocráticas, e Mercedes Pino. Seu pai estava no serviço militar e sua mãe trabalhava em casa.
     No final do século XIX a guerra civil eclodiu no Chile. Uma figura chave em uma das facções em guerra era Claudio Vicuña, parente de José Domingo. Claudio Vicuña não conseguiu se tornar presidente; seus inimigos começaram a perseguir a família Vicuña, o que os obrigou a fugir de sua terra natal.
     Em 1894, após o nascimento de sua segunda filha, Júlia Amanda, José Domingo faleceu, deixando sua esposa e filhas sem dinheiro e em grande perigo. Mercedes decidiu viajar para a Argentina para se esconder daqueles que queriam a sua família morta.
     Mercedes e suas filhas se mudaram para a província argentina de Neuquén. Em busca de uma forma de financiar a educação de suas filhas, ela conseguiu um emprego no albergue Quilquihué. Pressionada pelos assédios do patrão, Manuel Mora, Mercedes acabou aceitando uma união pecaminosa. E passou a viver com ele na fazenda Quilquihué. Ela se agarrou a ele como a uma tábua de salvação, mas ele se transformou no seu feroz tirano. "Manuel Mora, voltando da cadeia de Chos-Malal, onde estivera preso, e passando por Las Lajas, conheceu Mercedes Pino".
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     Manuel Mora tem, na vida de Laura, embora de maneira indireta, importância decisiva. É preciso, pois, conhecê-lo. Pertencia a uma família abastada da Província de Buenos Aires, cidade de Azul; depois de ter estado no Forte General Roca, no Alto Rio Negro, foi para uma região sobre o rio Quilquihué, a uns vinte quilômetros de Junin de Los Andes. Organizou ali duas estâncias: uma chamada Quilquihué, a outra Mercedes, para criação de gado.
     Algumas testemunhas limitam-se a chamá-lo: "Um sujeito mau", "um homem que por um nada puxava o facão e a pistola", "indivíduo perverso, prepotente e grosseiro", etc. As irmãs salesianas de Junin, tinham-no como: "Rico proprietário de gado, pouco instruído e sem religião". Foi justamente nas mãos desse indivíduo, como entre as garras de um condor, que caíram tristemente Mercedes Pino e suas filhas.
     O relacionamento de Mercedes com este homem influenciava negativamente na educação das duas meninas. Embora Laura fosse ainda pequena, percebia a precariedade religiosa da mãe, já que esta não era admitida aos Sacramentos devido a sua vida irregular.
     Mercedes Pino matriculou as filhas no Colégio de Maria Auxiliadora em Junin de Los Andes no início de 1900, sendo diretora, Irmã Ângela Piai.
     A 1º de abril, Segunda-feira Santa, abriu-se o ano escolar de 1900. A crônica, reduzida como a do ano anterior, assinala a presença de 14 alunas internas e 19 externas: 33 ao todo: "Meninas da roça, pobrezinhas, humildes, de casca dura e deselegantes... que mais facilmente empunham as rédeas do cavalo que a pena ou a agulha... selvagens caipirinhas que é preciso domesticar" (Crônicas).
     Em 1900, Laura foi classificada entre as alunas de segunda ou terceira elementar; Júlia Amanda entre as pequeninas da primeira. Concluiu também com sucesso, os anos de 1901 e 1902, sendo que neste mesmo ano, ela recebeu o sacramento da Crisma, conferido por Dom Juan Cagliero, filho predileto de São João Bosco. Dom Cagliero morreu em Roma em 1926, seu corpo descansa na catedral de Viedma - Argentina.
     A Irmã Azócar já então conhecia as duas irmãs, e mostrava apreciar Laura pela boa vontade que a animava e a tornava apontada entre as mais solícitas e caprichosas no cumprimento dos múltiplos deveres da vida colegial e também da vida espiritual.
     Laura Vicuña amava ardorosamente a Jesus Sacramentado e Maria Santíssima, rezava com fervor e se sacrificava pela conversão do próximo; era dócil e obediente às Irmãs do Colégio, ao ponto de, por obediência, plantar um galho seco de roseira, e a mesma brotou e permanece até hoje. Laura amava todas as religiosas, mas tinha por modelo a Irmã Ana Maria a quem imitava nas virtudes.
     Com o passar do tempo, Laura descobriu que a sua mãe vivia em pecado, morando com o fazendeiro Manuel Mora: "A primeira vez que expliquei o sacramento do matrimônio, Laura desmaiou, certamente porque pelas minhas palavras percebeu que a mãe vivia em estado de culpa..." (Irmã Azócar).
     Laura sentia pavor em passar as férias na Estância Quilquihué (lugar dos falcões), justamente porque devia enfrentar o monstro Manuel Mora que não a deixava em paz, o mesmo tentou violentá-la por várias vezes.
     Ela amava a sua mãe com terníssimo afeto; desejava revê-la e estar perto dela. Ansiava pelo ar puro do campo; e bem que gostava de se entreter mais tempo com Júlia e com qualquer outra menina, para lhes ensinar o que sabia. Mas o pensamento e a só figura de Manuel Mora enchiam-na de horror e de pavor.
     O único recurso e inabalável sustentáculo de Laura era a oração, que tanto lhe tinham inculcado em Junin e que a fazia reviver no isolamento espiritual das férias, as doces e inesquecíveis horas do colégio.
Foto das meninas contemporâneas
de Laura
     Laura fez sua Primeira Comunhão em 2 de junho de 1901. Naquele dia ela escreveu alguns propósitos muito similares aqueles do Santo aluno de Dom Bosco, Domingos Sávio:
     “Meu Deus, quero amar-Vos e servir-Vos por toda a vida; por isso Vos dou a minha alma, o meu coração, todo o meu ser. Antes quero morrer que ofender-Vos com o pecado; por isso desejo mortificar-me em tudo aquilo que me afastaria de Vós. Proponho fazer tudo o que sei e posso para que Vós sejais conhecido e amado, e para reparar as ofensas que todos os dias recebeis dos homens, especialmente das pessoas da minha família. Meu Deus, dai-me uma vida de amor, de mortificação, de sacrifício”.
     Ela tinha uma boa amiga, Mercedes Vera, a quem ela expressava seus sentimentos mais profundos, como o seu desejo de se tornar freira. Mesmo muito jovem, Laura era madura o suficiente para entender os problemas de sua mãe, que incluía o distanciamento de Deus. Isso levou-a a rezar todos os dias para a salvação de sua mãe, e para ajudá-la a deixar Manuel.
     Durante uma de suas férias escolares, Manuel Mora bateu duas vezes em Laura, porque não queria que ela se tornasse freira. Ele tratava Laura com excessivo interesse. Durante uma festa a convida para dançar e ao ser rechaçado a arrasta para fora de casa e ela tem que dormir ao relento. Mora reage cruelmente e decide não pagar a anuidade do colégio. Mas ela permaneceu firme no seu desejo de se tornar freira. Quando as freiras de sua escola souberam do conflito, deram-lhe uma bolsa de estudos. Embora ela fosse grata a suas professoras, ela ainda ficava preocupada com a situação de sua mãe.
     Um dia, lembrando-se da frase de Jesus: "Não há ninguém maior do que aquele que dá a vida por seus irmãos", Laura decidiu dar sua vida em troca da salvação de sua mãe. Algum tempo depois ela ficou gravemente doente com tuberculose pulmonar.
     Em setembro de 1903 ela não consegue sequer tomar parte nos exercícios espirituais, tão fraca tinha se tornado a sua saúde. Tentou-se uma mudança de clima, indo para a casa da mãe. Laura partiu para Quilquihué a 15 de setembro de 1903: "Como sempre, trazia um traje simples, mas elegante para nosso pequeno mundo" (Irmã Ângela Piai), e: "Laura, naquele dia, usava um vestido roxo, modesto, mas bonito" (Irmã Rosa Azócar).
     A chegada à fazenda não podia ser alegre. Dois anos atrás tinha a menina partido de Quilquihué com ótima saúde; voltava desfeita, como arbusto que a tormenta vergou. Manuel Mora a recebeu com desprezo, não era homem para se comover com o sofrimento alheio: muito menos com o de Laura que o enfrentara, humilhando-o repetidamente nos seus insensatos intentos.
     A estada em Quilquihué em vez de lhe infundir energias, lhe renovava e aumentava as amarguras do coração. Sentia falta da Santa Missa, das amiguinhas, dos conselhos do confessor etc.
     Mercedes Pino, vendo a saúde de Laura piorar, aluga um ranchinho, de palha e barro, próximo ao Colégio: "A mãe levou de novo Laura para Junin a fim de poder ser mais atendida" (Irmã Marieta Rodrigues, enfermeira).
     No alvorecer de 1904, as forças de Laura pareciam ter chegado ao fim, a moléstia fatal que a corroía tinha terminado o seu trabalho: não restavam senão as últimas e débeis esperanças para derrocar: "Devorada por uma febre que não a deixava, Laura saía ainda, vez por outra, amparada pela mãe, mas somente nas horas frescas do dia, para respirar um pouco de ar. Caminhando devagar, rosto magro e afilado, a enferma causava dó quem parasse para vê-la" (Pe. Augusto Crestanello).
A mãe de Laura, sua irmã (de pé),
os filhos de Júlia Amanda
     Em janeiro de 1904, Mora chegou de visita, com o propósito de permanecer na mesma habitação naquela noite. “Se ele ficar aqui, eu vou para o colégio das irmãs”, ameaçou Laura escandalizada. E assim faz, embora perturbada pela doença. Mora a perseguiu e alcançou, a espancou violentamente, deixando-a traumatizada. Chegando ao colégio ela se confessa com seu diretor espiritual, renovando o oferecimento da própria vida pela conversão da mãe.
     Laura piorava a cada dia, recebeu uma procissão contínua de companheiras, conhecidas e amigas, que chegavam com admiração para visitá-la.
     No dia 22 de janeiro de 1904, que devia ser o último dia da sua vida terrena, a "... pobrezinha, reduzida a pele e osso, pôde receber a Santíssima Eucaristia como Viático".
     À tarde do mesmo dia, Laura Vicuña chama a mãe e lhe diz: "Mãe, vou morrer! Fui eu mesma que o pedi à Jesus; há dois anos ofereci minha vida a Deus em sacrifício para obter que não vivas mais em união livre. Você deve separar-se deste homem e viver santamente. Antes de morrer terei a alegria de seu arrependimento e seu pedido de perdão a Deus e que comeces a viver santamente?", a mãe, entre lágrimas, lhe diz: "Sim, minha filha, amanhã cedo vou à igreja com Amandinha e me confesso".
     A exausta menina beijou repetidas vezes o crucifixo que tinha nas mãos. Olhou para a fita azul que entretecia a inicial do nome de Maria e disse baixinho: "Obrigada, Jesus! Obrigada, Maria! Agora morro contente", serenamente expirou: "Laura morreu falando" (Júlia Cifuentes). Foi às 16 horas, sexta-feira, 22 de janeiro de 1904. O Pe. Crestanello escreve que Laura morreu às 18:00 horas: "Eram seis da tarde, e Laura não existia mais"(Vida, p. 88-90). Faltavam 2 meses e poucos dias para Laura completar 13 anos.
     Por ocasião dos funerais, Mercedes se confessou e comungou junto com Júlia Amanda. A mãe teve que mudar de nome e se disfarçar para sair da região, porque Manuel Mora a perseguia. Mercedes a partir de então levou uma vida santa.
     De 1937 a 1958, os despojos de Laura estavam no cemitério Nequén, após o que foram transferidos para Bahía Blanca.
     As Irmãs Salesianas de Dom Bosco começaram o processo de canonização de Laura em 1950. A Congregação elegeu para o trabalho a Irmã Cecilia Genghini, que passou muitos anos na coleta de informações sobre a vida de Laura. Mas ela não viu a conclusão de seu trabalho: ela morreu no mesmo ano em que o processo começou. Em 1981, o processo foi concluído pela Congregação, e em 5 de junho de 1986 ela foi declarada Venerável.
     Em 3 de setembro de 1988 Laura foi beatificada pelo Papa João Paulo II. Sua festa é celebrada em 22 de janeiro. Ela é padroeira das vítimas de abuso.
Etimologia: Laura = Aquela que triunfa, é de origem latina.

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