quinta-feira, 8 de agosto de 2019

REFLETINDO A PALAVRA - “Vós sois uma nação santa”

PADRE LUIZ CARLOS
DE OLIVEIRA
REDENTORISTA
51 ANOS CONSAGRADO
44 ANOS SACERDOTE
Muitas moradas
 
No correr destes domingos pascais os evangelistas vão desenhando a figura da comunidade à luz da Ressurreição de Jesus. Em poucas palavras, resumem anos de crescimento, inventiva apostólica e respostas às grandes questões em que a comunidade se colocava. Como não tinham o texto dos evangelhos e cartas, os cristãos lembravam as palavras de Jesus e, em torno delas, construíam as orientações, pois eram assíduos aos ensinamentos dos apóstolos, às reuniões em comum, à fração do pão e às orações (At 2,42). Eram um evangelho vivo. A comunidade acaba sendo como que um espelho da vida futura. Jesus diz que há lugar para todos no céu. Este lugar é cuidadosamente preparado por Ele. O jeito de chegar lá é estar unido a Ele que é o caminho a verdade e a vida (Jo 14,6). Ele é a estrada e o espelho do Pai. Quem O vê, vê o Pai. Estar unido a Cristo pela fé é fazer este caminho, realizar esta verdade e viver esta vida. Deste modo o fiel participa da vida de Cristo e faz o que Ele fazia e faz mais ainda, pois Jesus, junto do Pai é a vida do discípulo que acreditou (Jo 14,12). 
Comunidade que cresce 
Mas esta comunidade tem que se organizar na situação em que vive. Os discípulos, interpretando a missão que Jesus lhes dera, instituem os diáconos para o serviço da comunidade. Comunidade sem serviços é fantasia. A fé se encarna no mundo em que vivem os discípulos. Ela é social, encarnada e transformadora. Fé que não olha em volta, não vê Deus. Fé só de princípios sem prática é murcha, não produz (Tg 2,17). É muito perigoso explicar a santidade da Igreja tirando-a da realidade. Isso é o que chamamos de espiritualismo. É o típico modo egoísta de viver a fé. Penso em mim, e os outros que se danem. Isso não é o modo de vida de Jesus. Ele é o espelho. Devemos caminhar como caminhou, diz S. João. Esse espiritualismo está presente em muitos modos de organizar a vida da comunidade e das muitas espiritualidades, movimento e outros que têm pululado no terreiro da Igreja. Tirar a fé da realidade é negar a encarnação e vida de Jesus. Ele seguiu seu povo, mas foi capaz de apresentar uma renovação para que a fé não fosse só regras, mas fonte de vida. Por isso são necessários os diversos serviços que se organizam. Esses não são eternos. Podem sofrer mudanças, adaptações e até surgirem novos serviços.
Santa e pecadora 
Contudo esta comunidade é santa, pois está fundada em Cristo e unida, como pedras vivas, formando o edifício espiritual. Ela presta culto a Deus. É sacerdotal. Por estar unida a Cristo e aos outros irmãos, é santa. O povo de Deus é santo. O santo não é aquele que não erra, mas porque erra, pode crescer e produzir frutos de conversão. A Prece Eucarística V diz: “Igreja é santa e pecadora”. Santa, enquanto de Deus; pecadora, enquanto marcada pelo pecado e em condições de crescer sempre mais. Pecadora porque erra ao viver a fé misturada com a mentalidade do mundo. Pedro diz em sua carta: “Nela tropeçam os que não acolhem a Palavra” (1Pd 2,8). Todos os fiéis são chamados à santidade. Cada um a seu modo e na sua condição de trabalho, estado civil, idade e sabedoria. Deus quer que todos sejam santos. Para isso abre-nos o caminho através de Cristo, mas em comunidade, como pedras vivas do edifício espiritual. Essa santidade também deve sair de nossos conceitos exclusivistas, como só nós tivéssemos a receita. Mas há muita santidade que não tem nosso carimbo, mas tem a marca de Jesus. Onde existe o amor aí Deus está.

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