PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA-REDENTORISTA 51 ANOS CONSAGRADO 43 ANOS SACERDOTE |
Era Natal
Quando morava na África, numa situação de guerra (1989-1992), celebrei a missa da noite do dia 24 às 16 h porque de noite não se poderia andar por aquelas áreas. Não havia presépio. Eram umas folhas de bananeira num canto da capela muito humilde e mais nada que lembrasse o presépio... Foi tudo cantado. Bonito. No final da missa, como não tinha um Menino Jesus, pedi que uma mamãe com o filhinho se assentasse na cadeira do padre. Beijei o pezinho dele e todos fizeram o mesmo. A criança se assustou e olhava como querendo entender aquele tanto de gente beijando seus pés. Ali estava o Menino Jesus. Ao terminar, os jovens fizeram as danças locais e cantavam: “Não podemos voltar para nossas casas porque o capim cobriu os caminhos”. Era a guerra. Em alguns países não se pode celebrar a missa de Natal porque os “contrários à fé” atacam a Igreja. É Natal. Pior guerra contra o Natal é feito em nossas casas e em nossos estabelecimentos que tiraram Jesus do presépio. Puseram só o papai Noel. Pior é ainda no primeiro mundo europeu onde não há nem estrelinhas. Jesus, por motivos bem orquestrados, também foi para o depósito. Então temos que procurar um Advento diferente e um Natal verdadeiro. Também não podemos ficar só nas cascas. Pelas leituras do Advento, vemos verter rios de esperança. A gente pode ficar até desanimado, pois já são dois mil anos e parece que ele desaparece sempre mais mesmo entre cristãos. O aniversariante não é convidado para seu aniversário.
Presépio do coração
A estrela desse presépio é a vigilância: estar atento ao Senhor que vem. Perdemos muito da noção que o Cristo virá. Não é uma ameaça de fim de tempos, de um mundo que se acaba. Isso pode durar ainda milhões de anos. Ou pode acabar amanhã. Só o Pai sabe. O Cristo virá. Isso basta. Estar vigilante é ter os sentimentos de Cristo que estava sempre voltado para a vontade do Pai. Vivemos uma fé muito de nosso jeito e pouco do jeito do Pai. Preparar o Natal é assumir o espírito que Jesus tinha ao sair do seio de Maria, como o sol que nasce e ilumina. Nasceu de uma Virgem que continuou virgem, pois Cristo não destrói nada. Lembro a trovinha mineira: “No ventre da Virgem Santa, entrou a Divina graça. Como entrou, também saiu como o sol pela vidraça”. Sua vinda foi silenciosa como o orvalho sobre a relva. Foi no silêncio da noite. O bem de Deus não faz mal. Deus não se impõe, nos respeita. A humildade de Deus está estampada no rosto de Jesus. Humildade que ama. Deus não faz barulho e não cria holofote. Ele é Luz que ilumina e aquece sem se consumir. Preparar é assumir essas atitudes. É presépio do Natal no coração.
Bomba de efeito silencioso
Não basta uma mudança espiritual íntima, necessária também, mas que penetre nossa maneira de viver e agir. Penetre também às estruturas do mundo. Sabemos que, apesar de tudo, o mundo tem aumentado a violência e a destruição também da natureza. Não podemos nos cansar de esperar. Há tantos séculos o profeta Isaias dizia: “Estes quebrarão suas espadas, transformando-as em arados, e as suas lanças em foices. Uma nação não levantará a espada contra a outra e nem se aprenderá mais a fazer a guerra” (Is 2,4). É preciso esperança e mudança nas atitudes. Se cada um faz sua parte, todos estarão na mesma direção. O Advento preparando a Vinda do Senhor provoca uma mudança que pode levar o mundo à paz que Cristo oferece. Jerusalém não acolheu, preferiu caminho diverso. “A todos os que O receberam, deu-lhes poder de se tornarem filhos de Deus” (Jo 1,12).
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