segunda-feira, 17 de junho de 2019

Como a fé no Sagrado Coração evitou a destruição de um vilarejo

Uma erupção vulcânica se aproximava do local. Os moradores correram para uma igreja e algo extraordinário aconteceu
     Estamos em abril de 1902. A bela cidade de St. Pierre, a capital de Martinica, é uma das cidades mais importantes dessa parte do mundo. Com pouco mais de 250 anos de história, ela é chamada de “a Paris do Caribe”. Exageros à parte, além da importância política e econômica, a cidade é um polo cultural. Seu pomposo teatro, recém reconstruído depois da destruição causada por um grande furacão no século anterior, atrai companhias de ópera da França e da Itália. Os quase 30 mil habitantes levam uma vida europeia, mas com clima caribenho.
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     Mas tudo está para mudar. A cidade, um movimentado porto, está localizada nos pés da montanha Pelée, que na verdade é um vulcão meio dorminhoco. A bela e tranquila paisagem é retratada em muitos quadros e até nas recentes “photographias". Piqueniques são organizados nas encostas das montanhas, enquanto turistas mais intrépidos sobem até o alto da montanha, onde está o “Étang Sec”, ou lago seco, a grande cavidade que um dia já havia sido uma caldeira de vulcão.
     Mas agora, outra coisa atrai a curiosidade de moradores e turistas. Fumarolas aparecem em vários pontos da montanha. Não é um fenômeno raro, mas a quantidade delas, sim. No dia 23 de abril, cinzas do vulcão chegam até a cidade. Isso sim era estranho para a maioria das pessoas. Os mais velhos se apressam a dizer: “Foi assim em 1851!”. Alguns poucos até se lembram que, na época, seus avós se lembraram de fenômeno similar, em 1792. “Dura umas semanas e depois passa...” Ninguém parecia se importar que os índios Caribs, que viviam em Martinica há muito mais tempo, conheciam a montanha como “A Montanha de Fogo”.
     As pessoas começam a ficar mais preocupadas dois dias depois, quando uma grande nuvem se ergue sobre a montanha e com a nova chuva de cinzas no dia seguinte. No dia 27, valentes excursionistas chegam ao topo da montanha e voltam com uma notícia alarmante: o tal lago seco agora estava cheio. Pior, uma estranha “torre de pedra” tinha se erguido na ponta do lago e, de lá, vertia uma cachoeira incessante de água fervente, a fonte de água do lago. De um buraco na tal torre, podia-se ouvir um forte barulho de água borbulhando, como se houvesse um enorme caldeirão abaixo da terra.
     No dia 7, os barulhos vindos do vulcão aumentaram. Pior, uma densa nuvem negra começou a sair do alto da montanha. Ficava ainda mais aterrorizante pelas dezenas de descargas elétricas no seu interior, que lhe davam uma coloração alaranjada quando os raios a iluminavam. Mas os jornais traziam duas boas notícias: um vulcão na vizinha ilha de Saint Vincent entrara em erupção, certamente aliviando a pressão na crosta terrestre em toda a região; e o governador geral da Martinica estava chegando à cidade, junto com a sua esposa, para mostrar que ela era realmente segura.
     Mas nem todos estavam convencidos disso. No porto, o Capitão Marina Leboff zarpa com seu barco ainda carregado pela metade, apesar das ameaças da empresa e dos oficiais portuários: Iriam caçar o seu registro! Quem tentava sair por terra era ameaçado de prisão, por tentativa de disseminar o pânico.
     No dia 8 de maio, milhões de toneladas de rochas, cinzas, água e gases aquecidos a mais de 1.000 graus centígrados desciam em corrida desvairada em direção à Paris do Caribe. Com uma velocidade de quase 600 km/h, essa massa fervente demorou menos de um minuto para cobrir os 6 km de distância até St. Pierre.
     Em segundos, 30 mil pessoas morreram. Entre elas, o governador e sua esposa, os oficiais do porto e os policiais da prisão. Uma testemunha que viu tudo de alto mar relatou: “A cidade simplesmente sumiu na frente dos nossos olhos”. Num mundo sem internet ou twitter, as notícias eram desencontradas. Ninguém parecia acreditar no tamanho da tragédia...
     Na atual igreja da cidade, um vitral mostra o vulcão em erupção, as pessoas em desespero, algumas se agarrando num padre que segura um crucifixo.

     No dia 8 de maio de 1902, uma grande erupção vulcânica vinda do Monte Pelée, na ilha de Martinica (Caribe) dizimou um pequeno vilarejo próximo de Saint-Pierre, capital da Martinica, e seguiu para o vilarejo de Morne Rouge.
      Era a festa da Ascensão e os paroquianos locais reuniram-se na igreja católica, assustados com a erupção. A população, então, foi consagrada ao Sagrado Coração de Jesus e o pároco expôs a Eucaristia para adoração no altar.
     Todos queriam fazer o que eles acreditavam ser a última confissão. Enquanto rezavam fervorosamente por suas vidas, olharam para cima e notaram uma aparição do Sagrado Coração.
     O Sagrado Coração de Jesus estava coroado de espinhos e alguns viram seu precioso sangue pingando do coração. A aparição durou várias horas, e um grande número de pessoas testemunhou o acontecimento milagroso.
     Naquele dia, o vilarejo foi poupado da erupção vulcânica e todos tiveram a chance de se reconciliar com Deus no sacramento da confissão.
     No entanto, alguns meses depois, em 30 de agosto, ocorreu outra erupção vulcânica e muitos foram mortos na cidade de Morne Rouge. A população acredita que Deus os poupou em 8 de maio para que eles pudessem ter tempo extra para fazer as pazes com Deus antes que Ele os chamasse de volta para casa. Em vez de ver isso como um sinal da ira do Senhor, eles acreditavam que era um ato de misericórdia e permanecem comprometidos com o Sagrado Coração mesmo após um acontecimento tão trágico.
 
Vitral da igreja de Morne Rouge,
representando o acontecimento trágico

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