Evangelho segundo São Marcos 7,14-23.
Naquele tempo, Jesus chamou de novo para junto de Si a multidão e disse-lhes: «Escutai-Me e procurai compreender.
Não há nada fora do homem que ao entrar nele o possa tornar impuro. O que sai do homem é que o torna impuro.
Se alguém tem ouvidos para ouvir, oiça».
Quando Jesus, ao deixar a multidão, entrou em casa, os discípulos perguntaram-Lhe o sentido da parábola.
Ele respondeu-lhes: «Vós também não entendestes? Não compreendeis que tudo o que de fora entra no homem não pode torná-lo impuro,
porque não entra no coração, mas no ventre, e depois vai parar à fossa?». Assim, Jesus declarava puros todos os alimentos.
E continuou: «O que sai do homem é que o torna impuro;
porque do interior dos homens é que saem as más intenções: imoralidades, roubos, assassínios,
adultérios, ambições, injustiças, fraudes, devassidão, inveja, difamação, orgulho, insensatez.
Todos estes vícios saem do interior do homem e são eles que o tornam impuro».
Tradução litúrgica da Bíblia
São Bernardo (1091-1153)
monge cisterciense,doutor da Igreja
Sermões sobre o Cântico dos Cânticos, n.º 61, 3
«Ó Deus,criai em mim um coração puro» (Sl 50,12)
Onde poderá a nossa fragilidade encontrar repouso, a não ser nas chagas do Salvador? Nelas me demoro, com tanto mais confiança quanto maior é a sua capacidade de me salvarem. O mundo titubeia, o corpo pesa com todo o seu peso, o diabo lança as suas armadilhas - mas eu não caio porque construí sobre rocha sólida. [...] Tomo aquilo que me falta por culpa minha e entrego-o confiadamente às entranhas de misericórdia do Senhor, porque o seu corpo foi trespassado com tantos golpes que todo o seu amor se difunde por eles.
Trespassaram-Lhe as mãos e os pés e, com um golpe de lança, perfuraram-Lhe o lado (Jo 19,34). Através destas chagas abertas, posso eu saborear o mel da rocha (Sl 80,17) e o azeite que corre da pedra dura, ou seja, ver e saborear a doçura do Senhor (Sl 33,9). Ele formava pensamentos de paz e eu não sabia (cf Jer 29,11). [...] Mas os pregos que O trespassaram tornaram-se chaves que me abrem o mistério dos seus desígnios, e eu vejo para dentro destas aberturas. As suas chagas proclamam que, na pessoa de Cristo, Deus reconcilia verdadeiramente o mundo consigo (2Cor 5,19). O ferro trespassou-Lhe o ser e tocou-Lhe o coração, a fim de que Ele soubesse ter compaixão da minha natureza vulnerável. O segredo do seu coração aparece a nu nas chagas do seu corpo, onde vemos a descoberto o mistério da bondade infinita, «o coração misericordioso do nosso Deus, que das alturas nos visita como sol nascente» (Lc 1,78). Este coração manifestou-se através das suas chagas; o Senhor não podia ter mostrado de forma mais clara que é doce e compassivo, e cheio de misericórdia. Pois não há maior compaixão do que dar a vida por aqueles que estão condenados à morte (cf Jo 15,13).
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