quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

REFLETINDO A PALAVRA - “Autenticidade da vida”

PADRE LUIZ CARLOS
DE OLIVEIRA-REDENTORISTA
50 ANOS CONSAGRADO
O coração está longe de mim
            Depois de meditar o capítulo sexto de S. João, voltamos ao evangelho de Marcos. Jesus, em debate com os fariseus, mostra o valor da Palavra de Deus, o sentido da verdadeira tradição e do verdadeiro culto. Para eles eram importantes as tradições sobre a pureza. Não se trata da castidade, mas da purificação exterior seguindo as normas da tradição e da lei. Encontramos estas prescrições nos capítulos 11-19 do livro do Levítico. Há também as interpretações feitas pelos antigos e exageradas pelos fariseus. No evangelho de hoje dizem que os discípulos de Jesus comem sem lavar as mãos. Não se trata de higiene. Cito Tomas Frederici: “Assim interpretavam: Comer é um ato sagrado. É estar diante de Deus. Por isso devem purificar-se, purificar os utensílios da refeição para que nenhuma impureza perturbe a ação religiosa” (453). Acusam de não seguir as tradições dos antigos. Essas são a interpretações da lei feita pelos diferentes grupos religiosos. As leis orais e as leis escritas na Palavra tomam o mesmo valor. Jesus não é contra os ritos pois  Ele mesmo os realizava. Acusa que suas doutrinas são preceitos humanos. Nós, cristãos, temos também muito desse modo de agir. Jesus ensina que a ausência desses ritos não torna a pessoa impura para prestar culto a Deus. O que torna impuro é o que vem do coração e não o que entra pela boca e segue seu caminho. Jesus insiste que o culto não deve ser só dos lábios, mas do coração. O Profeta Isaías continua “De nada adianta o culto que me prestam, pois o que ensinam são preceitos humanos” (Is 29,13). Jesus completa: “Vós abandonais o mandamento de Deus para seguir tradições humanas” (Mc 7,8). E apresenta a lista do que torna a pessoa impura: “imoralidade, roubos, assassínios, adultérios, ambições desmedidas, maldades, fraudes, devassidão, inveja, calúnia, orgulho, falta de juízo. Todas estas coisas saem de dentro e tornam impuro o homem” (21-23).
                                                          Praticar a Palavra
            Não bastam as tradições para realizar o culto, é preciso coerência com a Palavra de Deus. As tradições são interpretações da Palavra, mas não lhe são superiores. O livro do Deuteronômio, interpretando a leitura desse texto de Marcos, mostra a necessidade de guardar os mandamentos, leis e decretos para que se viva na terra prometida. Podemos entender que a felicidade do mundo só ocorrerá com o cumprimento da lei de Deus. O Senhor está perto de nós e deu leis e decretos tão justos (Dt 4,1-8). Nada se acrescente e nada se tire dessa lei (Dt 4,1). Temos ouvido de cristãos: “Sou católico, mas não pratico”. Então não é. Não é possível crer em Deus e não seguir sua Palavra. Em referência à vida da Igreja temos muito apego a certas tradições até antigas e práticas que criamos, sobretudo nas celebrações e devoções que são mais importantes que os mandamentos. É preciso ser coerente. É preciso dar mais valor ao essencial.
Quem morará em vossa casa?
            São Tiago é muito prático. O que Jesus exige para a pureza, Tiago mostra como caridade: “Religião pura e sem mancha diante de Deus Pai é esta: assistir os órfãos e as viúvas em suas tribulações e não se deixar contaminar pelo mundo” (Tg 1,27). Ensina que se receba com humildade a Palavra que foi implantada em nós e capaz de salvar nossas almas. Não basta ouvir a Palavra, mas é preciso praticar (21-22). Somos chamados a superar a atitude farisaica de valorizar só o exterior, e viver a Palavra em nosso coração e com ela purificar as modalidades que sufocam a verdade e a pureza interior.
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