Depois
de meditar o capítulo sexto de S. João, voltamos ao evangelho de Marcos. Jesus,
em debate com os fariseus, mostra o valor da Palavra de Deus, o sentido da
verdadeira tradição e do verdadeiro culto. Para eles eram importantes as
tradições sobre a pureza. Não se trata da castidade, mas da purificação
exterior seguindo as normas da tradição e da lei. Encontramos estas prescrições
nos capítulos 11-19 do livro do Levítico. Há também as interpretações feitas
pelos antigos e exageradas pelos fariseus. No evangelho de hoje dizem que os
discípulos de Jesus comem sem lavar as mãos. Não se trata de higiene. Cito
Tomas Frederici: “Assim interpretavam: Comer é um ato sagrado. É estar diante
de Deus. Por isso devem purificar-se, purificar os utensílios da refeição para
que nenhuma impureza perturbe a ação religiosa” (453). Acusam de não seguir as tradições dos
antigos. Essas são a interpretações da lei feita pelos diferentes grupos
religiosos. As leis orais e as leis escritas na Palavra tomam o mesmo valor. Jesus
não é contra os ritos pois Ele mesmo os realizava.
Acusa que suas doutrinas são preceitos humanos. Nós, cristãos, temos também
muito desse modo de agir. Jesus ensina que a ausência desses ritos não torna a
pessoa impura para prestar culto a Deus. O que torna impuro é o que vem do
coração e não o que entra pela boca e segue seu caminho. Jesus insiste que o
culto não deve ser só dos lábios, mas do coração. O Profeta Isaías continua “De
nada adianta o culto que me prestam, pois o que ensinam são preceitos humanos” (Is 29,13). Jesus
completa: “Vós abandonais o mandamento de Deus para seguir tradições humanas” (Mc 7,8). E apresenta
a lista do que torna a pessoa impura: “imoralidade, roubos, assassínios,
adultérios, ambições desmedidas, maldades, fraudes, devassidão, inveja,
calúnia, orgulho, falta de juízo. Todas estas coisas saem de dentro e tornam
impuro o homem” (21-23).
Praticar
a Palavra
Não bastam as tradições para realizar o culto, é
preciso coerência com a Palavra de Deus. As tradições são interpretações da
Palavra, mas não lhe são superiores. O livro do Deuteronômio, interpretando a
leitura desse texto de Marcos, mostra a necessidade de guardar os mandamentos,
leis e decretos para que se viva na terra prometida. Podemos entender que a
felicidade do mundo só ocorrerá com o cumprimento da lei de Deus. O Senhor está
perto de nós e deu leis e decretos tão justos (Dt 4,1-8). Nada se acrescente e nada se tire
dessa lei (Dt 4,1).
Temos ouvido de cristãos: “Sou católico, mas não pratico”. Então não é. Não é
possível crer em Deus e não seguir sua Palavra. Em referência à vida da Igreja
temos muito apego a certas tradições até antigas e práticas que criamos,
sobretudo nas celebrações e devoções que são mais importantes que os mandamentos.
É preciso ser coerente. É preciso dar mais valor ao essencial.
Quem
morará em vossa casa?
São
Tiago é muito prático. O que Jesus exige para a pureza, Tiago mostra como
caridade: “Religião pura e sem mancha diante de Deus Pai é esta: assistir os
órfãos e as viúvas em suas tribulações e não se deixar contaminar pelo mundo” (Tg 1,27). Ensina que
se receba com humildade a Palavra que foi implantada em nós e capaz de salvar
nossas almas. Não basta ouvir a Palavra, mas é preciso praticar (21-22). Somos
chamados a superar a atitude farisaica de valorizar só o exterior, e viver a
Palavra em nosso coração e com ela purificar as modalidades que sufocam a
verdade e a pureza interior.
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