Em sua Exortação Apostólica Gaudete et Exultate (GE), o
Papa Francisco não desaprova o conhecimento intelectual como bom instrumento
para o crescimento na santidade. É preciso pensar, mas ainda não é tudo. A
espiritualidade é uma doutrina sem mistério. Deus é
simples. Correndo as etapas da história da espiritualidade encontramos muitos
místicos que têm uma doutrina tão profunda que acaba não sendo acessível ao
povo. Jesus não era assim. A doutrina que estamos tentando entender, o
gnosticismo, vive só no intelectual, provocando uma espiritualidade
desencarnada. E Jesus se encarnou. Na realidade, o que acontece é que o que se
quer é ser dono do mistério de Deus, da graça e da vida dos outros (GE40). Pensam que
Deus deve ser e agir do jeito que pensam. Não percebemos esses ensinamentos.
Mas acabamos seguindo como ensinam. Perdendo a dimensão da encarnação de Jesus,
não somos capazes de nos preocupar com o Corpo de Cristo que está presente no
mundo, sobretudo nos pobres sofredores. Estamos cientes de que não poderemos
nunca saber tudo sobre Deus. Mesmo servindo-nos da Palavra e da experiência pessoal
podemos compreender muito. Mas ainda estamos somente começando. Há um risco de
fazer a religião do jeito da gente. Nesse sentido essa doutrina quer dominar
Deus e dizer onde Ele não está. Ele está presente também nas vidas arrebentadas
e destruídas (GE 42). “Isto faz parte do mistério que as
mentalidades gnósticas acabam por rejeitar, porque não o podem controlar. Não
se deixam guiar pelo Espírito.
2098. Inteligência que ajuda
Somos
limitados no conhecimento da verdade. “Só de forma muito pobre, chegamos a
compreender a verdade que recebemos do Senhor. E, ainda com maior dificuldade,
conseguimos expressá-la” (GE 43). A variedade que temos na Igreja nos ajuda a compreender melhor outros
aspectos da mesma verdade. É um tesouro. A compreensão varia não em seu
conteúdo, mas no modo de apresentá-lo e vivê-lo. A riqueza da manifestação de
Deus entre nós é tão grande que não podemos absorver tudo de uma vez. Há sempre
aprofundamentos que nos ajudam a enriquecer sempre mais essa revelação em nossa
história. Por ser na história, assume as condições humanas na pessoa de Jesus
que entrou em nossa história. Assim há sempre um processo de compreensão de
acordo com os tempos. O critério de orientação deve ser sempre o Evangelho e
não uma filosofia. Diz o Papa na mesma exortação: “Nossa compreensão da
doutrina não é um sistema fechado, privado de dinâmicas próprias capazes de
gerar perguntas, dúvidas e questões” (GE 44).
2099. Misericórdia é sabedoria
Quando falamos de misericórdia, estamos
acostumados a pensar em situações de graves necessidades. Misericórdia é uma
atitude do coração que se transforma em atos de ajuda. Podemos entender também
na atenção, o respeito e o acolhimento do outro como fonte de sabedoria. Na
África, quando morre um idoso, dizem que se queimou uma biblioteca. Eles
acumularam a sabedoria da vida. Temos uma situação de paróquias onde dizem que
perdemos tempo com “as velhas” da Igreja. Ali há uma sabedoria vivida. Podem
ser analfabetos, mas sua santidade não os deixa menores. Ninguém é superior.
Saber muito é a possibilidade de ajudar a fazer o intercâmbio e a troca entre a
vida e a ciência. Gastar tempo com os humildes para aprender deles é a maior
escola e o tempo bem utilizado. S. Francisco escreve a Sto. Antônio pedindo que
ensine aos frades, mas sem perder a devoção (GE 46). A ciência das
coisas de Deus sem o amor não é prova de santidade.
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