domingo, 21 de outubro de 2018

Homilia do 29º Domingo Comum (21.10.18)

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA
REDENTORISTA
50 ANOS CONSAGRADO
“Entre vós não será assim” 
Desvios da fé
           A palavra fé e fidelidade na escrita cuneiforme, em uso na Babilônia, desde os sumérios, não é um conceito, mas a construção de uma fortaleza. Lembramos que eles escreviam em tabuletas de argila que depois eram cozidas como tijolo.  O desenho das letras era feito com símbolos de “cunhas” que formavam a palavra. A fé não é crer numa doutrina, mas acolher uma Pessoa, Jesus. Assim cada pessoa se torna uma fortaleza. Sua muralha não se dissolve com pretensões contrárias. É o que podemos ver em nossa vida de cristãos, sobretudo no momento em que estão em jogo nossas pretensões. Vemos essa tentação nos primeiros discípulos que, iniciando a “campanha” para o futuro governo que Jesus estabeleceria o Reino de Israel. Quem é que vai mandar? Os dois filhos de Zebedeu, Tiago e João, adiantam e pedem a Jesus o lugar de comando: “Deixa-nos sentar à direita e à esquerda quando estiveres na tua glória” (Mc 10,37). Essa mentalidade não saiu ainda da Igreja cristã. O poder, os bens e o prazer fascinam e têm força de lei. É impressionante como em todas as esferas da Igreja há luta pelo poder que depois se torna vício do prazer. É o que vemos. Tudo pode ser feito, menos tocar na autoridade. Isso mostra que o paganismo ainda é reinante com todos os traços de falsa santidade e de verdade. A fé que modifica a vida pelo Evangelho não conta. Mas Jesus os leva a perceber que estarão a seu lado no serviço da cruz. Essa fortaleza de fé modela a vida. Por isso ela se torna critério.
O servo que justifica
           O salmo descreve o Servo de Deus como um retrato de Jesus, que passou pelo sofrimento e, sustentado por sua fé, transformou a ignomínia e a dor em expiação. Entrou no lugar do animal oferecido em sacrifício para pagar pelo pecado do povo. Todo seu sofrimento teve luz duradoura e ciência perfeita. Se assim é um servo, quanto mais o Filho de Deus que assume essa condição. Seu sofrimento fará justos inúmeros homens. Mais que sofrer, ainda assume a culpa de todos (Is 53,10-11). Jesus chama a Si essa figura e aponta o batismo que deve receber. Batismo de sangue. Esse é o grande serviço que presta ao mundo e penetra toda a vida do discípulo nos muitos serviços que destroem os ídolos do poder, da ganância e do prazer que se transformam em tirania.  Jesus afirma: “Quem quiser ser grande, seja vosso servo e, quem quiser ser o primeiro seja o escravo de todos”. Essa é a fortaleza inexpugnável que repele esses males e faz do discípulo um servo redentor. Assim fez Jesus: “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida como resgate de muitos” (Id 45). Essa é a base da fé cristã. Sem isso nossa fé não passa de teoria, bons modos, piedade vazia, ministério inócuo e Igreja em decadência.
Aproximemo-nos com confiança
           A Carta aos Hebreus descreve o Sumo Sacerdote Jesus Cristo como modelo e fundamento de todo o sacerdócio dos fiéis e do ministério ordenado. Só existe um Sacerdote, Cristo. Todo sacerdócio que há na Igreja está unido a seu sacerdócio e deve ter suas características: É abertura de Deus para seu povo, pois o conhece por ter vivido nossas fraquezas, menos o pecado. Podemos nos aproximar com confiança. O exercício do sacerdócio é o do servo no poder de Jesus Cristo de servir. Como seria bom se todos o sacerdócio transmitisse esse Jesus que entrega sua vida e acolhe com amor. Somente com a fortaleza da fé poderemos exercer fielmente o serviço de Cristo.
Leituras Isaias 53,53,10-11; Salmo 32;Hebreus 4,14-16;Marcos10,35-45
1. A fé é uma fortaleza que resiste a todos os males que invadem as pessoas e a Igreja
2. Jesus coloca o serviço como base de todo seu ministério de redenção.
3. O povo de Deus e padres participam do sacerdócio de Cristo no serviço.
                 Dando com a cara no muro
Os discípulos Tiago e João queriam um lugar privilegiado no futuro reino do Messias. Mas deram com a cara no muro porque Jesus tem outra mentalidade de reino: é lugar de serviço mútuo e dedicado. Eles aceitaram o “batismo de sangue de Jesus”. Quando assumiram a condição de servidores. E foram grandes nisso. Começaram mal e acabaram bem.Essa mentalidade de serviço que Jesus proclama do Evangelho, contra toda mania de poder, de riqueza e de prazer, está longe de ser a mente dos fiéis e dos servidores da Igreja, padres, bispos e leigos. Não é pelo poder que a Igreja vai conquistar o mundo. Já não deu certo e pior ainda, foi uma fonte de pecados e desastres espirituais. Está na hora de assumir o Evangelho como uma grande fortaleza.
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