Evangelho segundo São Lucas 11,42-46.
Naquele tempo, disse o Senhor: «Ai de vós, fariseus, porque pagais o dízimo da hortelã, da arruda e de todas as hortaliças, mas desprezais a justiça e o amor de Deus! Devíeis praticar estas coisas, sem omitir aquelas.
Ai de vós, fariseus, porque gostais do primeiro lugar nas sinagogas e das saudações na praça pública!
Ai de vós, porque sois como sepulcros disfarçados, sobre os quais passamos sem o saber!».
Então um dos doutores da lei tomou a palavra e disse a Jesus: «Mestre, ao dizeres essas palavras também nos insultas a nós».
Jesus respondeu: «Ai de vós também, doutores da lei, porque impondes aos homens fardos insuportáveis e vós próprios nem com um só dedo tocais nesses fardos!».
Tradução litúrgica da Bíblia
Beato John Henry Newman (1801-1890)
teólogo,
fundador do Oratório em Inglaterra
Sermão «Ceremonies of the Church»
A tradição e a vontade de Deus
Pouco importa como aprendemos a conhecer a vontade de Deus – seja através da Escritura, seja através da tradição apostólica, ou daquilo a que São Paulo chama a «natureza» (cf Rom 1,20) –, desde que estejamos certos de que essa é mesmo a sua vontade. Na realidade, Deus revela-nos o conteúdo da fé por inspiração, porque a fé é de ordem sobrenatural; mas revela-nos as questões práticas do dever moral pela nossa própria consciência e pela razão divinamente guiada.
As questões puramente formais, revela-no-las através da tradição da Igreja, pelo costume que nos leva a pô-las em prática, embora o costume não venha na Escritura; isto para responder à pergunta que podemos fazer a nós próprios: «Para que havemos de observar ritos e formas que a Escritura não prescreve?» A Escritura transmite-nos aquilo em que é necessário acreditar, aquilo para que devemos tender, o que devemos manter. Mas não estabelece a forma concreta de o fazer. Ora, uma vez que não só podemos praticar aquelas coisas de uma forma precisa, somos forçados a acrescentar alguma coisa àquilo que nos diz a Escritura. Por exemplo, ela recomenda-nos que nos reunamos para a oração e associa a sua eficácia […] à união dos corações. Mas, como não indica o momento nem o local da oração, a Igreja tem de completar o que a Escritura se contentou em prescrever de forma genérica. […]
Podemos dizer que a Bíblia nos dá o espírito da nossa religião, e que a Igreja tem de organizar o corpo em que o espírito encarna. […] A religião não existe de forma abstrata. […] As pessoas que tentam adorar a Deus duma forma (dizem elas) «puramente espiritual» acabam por, de facto, não O adorar de todo. […] Portanto, a Escritura dá-nos o espírito e a Igreja o corpo da nossa devoção. E, assim como não podemos ver o espírito dum homem sem ser por intermédio do seu corpo, assim também não podemos compreender o objeto da nossa fé sem a sua forma exterior.
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