PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA REDENTORISTA 50 ANOS CONSAGRADO |
Abre-te! Efata!
Ele fez bem
todas as coisas
O profeta Isaias,
diante do sofrimento e desalento do povo, anuncia que haverá uma grande transformação
nas pessoas e na própria natureza. A redenção é um projeto total do universo e
da pessoa. O gesto e as palavras de Jesus significam a realização dessa
profecia. A condição de surdo-mudo é uma situação muito difícil para a pessoa
na qual lhe dificulta muito a comunicação. Curiosamente Jesus faz uma cena
diferente para esse milagre. Leva o homem para fora do movimento, toca seus
ouvidos e sua língua e, põe sua saliva. Não foi um ato estranho para o tempo,
mas a comunicação da vida da que há na palavra. Comunica-se o que tem de bom
dentro de si. Desperta para a comunicação. Relacionando com o ritual do batismo
se diz tocando os ouvidos e a boca da criança: “O Senhor que fez os surdos
ouvirem e os mudos falarem, te conceda ouvir a sua palavra e professar a fé
para louvor e glória de Deus Pai”. O gesto de Jesus reintegra o homem na
sociedade também na comunidade de culto. O milagre tem uma força catequética. O
profeta anima o povo sofrido a buscar o Senhor porque Ele vai fazer uma mudança
total. Por isso o povo vê como Jesus faz bem todas as coisas. Rezando o salmo,
reconhecemos a fidelidade de Deus que se manifesta em suas muitas ações de
socorro ao povo necessitado. Essa palavra se realiza em nós quando repetimos as
ações libertadoras e salvadoras de Deus. É uma nova criação.
Os pobres ricos
na fé
Quando se toca
no tema sobre os “pobres”, logo se pensa em questões sócio-político-partidárias.
O modo de compreender das Escrituras é diferente. Aquela frase de Jesus “Pobres
sempre tereis entre vós” (Jo 12,8) é provocadora. A
preocupação de Judas não eram os pobres, mas o que cairia na bolsa comum. Jesus
parece indicar que se deve sempre ter os olhos voltados para os necessitados,
que sempre existirão, mesmo num mundo muito rico. Por que o rico tem facilidade
em se afastar de Deus e da religião? Porque é questionado e estimulado a
partilhar. Os pobres são preferidos, pois têm sua última esperança em Deus.
Ainda mais que Deus os assume para seus cuidados. São mais abertos à fé. Como
conhecem as coisas de Deus, podem ser juízes, como nos diz Tiago (Tg
2,5):
“Deus escolheu os pobres deste mundo para serem ricos na fé e herdeiros do
Reino que prometeu aos que o amam”. Julgar é mostrar a dependência de Deus. O
problema não é ser rico. É discriminar o pobre. É bonito ver na Igreja a
preocupação com os pobres, com a partilha, a solução dos problemas onde os
pobres são os que pagam. Tiago é pratico.
Bendize, minha
alma, ao Senhor!
Diante do
milagre o povo se maravilhou. E com o salmo bendizemos a Deus. O culto que
celebramos ao Deus bondoso deve ser também um reconhecimento de suas
maravilhas. Participamos dessas maravilhas quando damos esperança aos
necessitados, como o fez Isaias. A ação libertadora de Deus no mundo não se faz
com milagres estupendos, mas com o serviço fraterno, a vida doada em favor dos
que sofrem, como também o cuidado com a terra (brotarão águas no deserto e
jorrarão torrentes no ermo. A terra árida se transformará em lago, e a região
sedenta, em fontes d’água” (Is 35,7,6-7ª). O cuidado com
o ser humano e a terra são condições necessárias para realizar o milagre de
curar surdos mudos e cegos. A Eucaristia só tem sentido se ela retorna a sua
fonte humana que é o homem e a mulher que cuidam do paraíso terrestre (Gn
2,18).
Leituras: Isaias 35,4-7; Salmo
145;Tiago 2,1-5;Marcos 7,31-37
1. A cura do
surdo-mudo é um milagre que abre à comunicação.
2. Os pobres são preferidos, pois têm
sua última esperança em Deus.
3. O cuidado com o ser humano e a
terra são condições para realizar o milagre de curar surdos, mudos e cegos
Pobre dá dor de cabeça
Parece que deste
o tempo de Jesus os pobres são uma questão que sempre chama a atenção, pois
sempre existem. Tem um propósito muito grande de nos questionar em nossa dimensão
de caridade cristã. É fácil fugir do problema, lavar as mãos e dizer que não
tem solução. Jesus, dizendo que sempre os teríamos, está a recordar que a
missão do amor não termina. É o amor que sempre vamos ter em nós, crescendo.
A dor de cabeça que o pobre nos faz
sofrer é o questionamento se estamos ricos demais a ponto de não precisar de
Deus e prepotentes o suficiente para pensarmos que somos donos da Igreja, a
ponto de S. Tiago dar uma bela aula de civilidade cristã: dar honra devida aos
mais humildes.
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