Quando lembramos as histórias da
vida de Jesus, as acolhemos com carinho. Outros podem duvidar ou não acreditar.
Até podem dizer: coisa inventada. Além do aspecto da verdade de fé de quem acolheu
e acreditou, temos também estes aspectos históricos. Não temos documentos
imediatos, como temos hoje. Mas temos a vida de uma comunidade que não
trabalhava com instrumentos, mas com uma memória fabulosa. Esses conhecimentos
foram passados por tradição, até que se chegou aos evangelhos. Mesmo que tenham
um esquema teológico para a narração, foram escritos no tempo em que havia
ainda pessoas que presenciaram os fatos. Vemos S. Lucas dizer no início de seu
evangelho “que muitos tentaram compor a narração dos fatos que se cumpriram
entre nós – conforme no-los transmitiram os que, desde o princípio foram
testemunhas oculares e ministros da Palavra... a mim pareceu conveniente, após
acurada investigação de tudo desde o princípio, escrever-te de modo
ordenado”... (Lc 1,1-4).
A vinda de Jesus não se reduz só a um acontecimento histórico, mas foi
anunciada pelas profecias. Vemos no evangelho de Mateus, como o autor procura
narrar os fatos da vida de Jesus, como realização das profecias. Ele não é um
caso, mas o ponto de chegada de uma profecia. Seu ensinamento foi confiado a
homens simples que não teriam capacidade de inventar tamanha riqueza. Jesus
mesmo disse, no dia da Ressurreição, quando se encontra com os discípulos no
caminho de Emaús: “Começando por Moisés e por todos os profetas,
interpretou-lhes em todas as escrituras o que a Ele dizia respeito” (Lc 24,27)... “Era
preciso que se cumprisse tudo o que está escrito sobre mim na Lei de Moisés,
nos Profetas e nos Salmos” (Lc 24,44), diz Jesus antes de subir ao Céu.
A
comunidade forma a liturgia
Temos uma bela liturgia no Domingo de Tríduo
Pascal. Temos que separar a liturgia dos momentos da piedade popular com suas
procissões, teatros e belas orações. A origem das celebrações da Semana Santa
está na Igreja de Jerusalém, que é chamada de mãe e mestra de liturgia. Ela tem
uma especialidade que não temos. As celebrações se faziam nos lugares dos
acontecimentos. Aí foram construídas as basílicas, como a da Ressurreição que
passou a se chamar Santo Sepulcro. É uma liturgia geográfica. Mas sempre
voltada para o lugar da sepultura e ressurreição de Jesus. Há uma autora de um
diário de viagem que participou das celebrações de Jerusalém, pelo ano de 380 (Etéria)
que narra justamente esse aspecto. Os costumes dessa santa Igr eja fundada
sobre a tradição passaram para outras comunidades, como, por exemplo, a
procissão de Ramos. Para os cristãos da atual Jerusalém, essa procissão é como
a nossa procissão do Senhor Morto. É imensa e faz o mesmo trajeto feito por
Jesus, de Betfagé a Jerusalém. Com o correr dos séculos, a Igreja de Roma
organizou essas celebrações que chegaram ao que temos hoje.
Nossa
contribuição
Todos os séculos deram sua contribuição, para que a celebração fosse sempre
mais condizente, como mistério celebrado e o povo que celebra. Recebemos tanta
herança do passado que, quando começaram, eram atuais para o tempo. Com isso
não precisamos depender somente do passado, mas oferecer nossa humilde e
consistente colaboração. Do contrário, a liturgia vira museu. Nada precisa ser
eliminado, mas renovado e promovido. Não precisamos destruir. Fazendo bem, nos
ajuda a descobrir o que mais podemos fazer. Há tantos elementos que podemos colocar
que não danificam o que é celebrado. Uma coisa que podemos fazer e ajudar, é
proporcionar a participação mais ativa das pessoas.
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