A
narrativa da Vinda do Espírito Santo no dia de Pentecostes tem um aspecto que
nos passa despercebido: “Ali estavam judeus devotos de todas as nações do mundo
e que falavam línguas diferentes” (At 2,5.8). Olhando o mapa, vemos que eram pessoas do mundo
conhecido. De Jerusalém os raios indicavam todas as direções. O Espírito é para
todos e fala todas as línguas. Todos podem entender a linguagem do Espírito.
Não se trata de falar em línguas diferentes, mas que todas as línguas estão
abertas à língua do Espírito Santo. A língua do Espírito é a mensagem do
Evangelho de Jesus que os apóstolos começam a anunciar. Falar em muitas línguas
é capacidade de transmitir o evangelho de acordo com a fé e a cultura do povo.
A uniformidade da Igreja está na fé e não em formas exteriores ou leis. O
Evangelho pode ser vivido por todos os povos e este evangelho purifica as
culturas do que elas possam ter de maligno contra Deus e contra a pessoa
humana. É o que chamamos de superstição. Este Evangelho que é anunciado vai ser
renovador se não é embebido das culturas que o anunciam, mas cheios da
liberdade que o Espírito inspira. Não foi assim a evangelização no tempo das
descobertas e continua em parte na concepção do primeiro mundo. Há partes
imutáveis e partes que podem ser diferentes.
1268.
Realidades transformadas
A
mensagem do Evangelho é referente à vida do mundo em todas suas dimensões. É a renovação
total do universo. E esta vai acontecer na renovação dos corações, por isso a
pregação dos apóstolos chama logo para a conversão: “Arrependam-se, e cada um
seja batizado em nome de Jesus Cristo para o perdão dos pecados” (At 2,38). O arrependimento é o princípio da adesão. Os
pecados são as atitudes que destroem a si mesmo, às pessoas e à natureza,
rompendo a relação com Deus. Ser batizado é mergulhar-se na vida de Cristo para
que o mundo tenha a Vida. Há muitas sementes do Evangelho semeadas entre os
povos, pois Deus é um excelente agricultor que sempre espalhou as boas sementes
pelo mundo. A renovação apreciará todos esses valores e os promoverá à graça do
Evangelho. Foi esta a decisão dos apóstolos quando se viram na dificuldade da
pregação aos pagãos e judeus. Nem tudo que era bom para os judeus era bom para
os pagãos batizados. Por isso se propuseram dois caminhos diferentes já no
início da vida da Igreja. A uniformidade estava na fé em Jesus. Todos fazerem
do mesmo modo é uma falsa uniformidade.
1269.
Soprando as brasas
Celebramos
a Vinda o Espírito Santo como encerramento do Tempo Pascal. Chegamos ao máximo
da pregação de Jesus: “Convém que eu vá, senão não virá a vós o Espírito Santo (Jo 16,7). Ele vos recordará e ensinará tudo o que vos
ensinei (Jo 14,26). Paulo
escrevendo a Timóteo dizia: “... Convido-o a reavivar o dom de Deus que está em
você pela imposição das minhas mãos” (2 Tm 1,6). Esta advertência é feita à Igreja neste momento,
de esperança da restauração da Igreja com Papa Francisco. É um tempo forte para
reavivar as chamas do Espírito lançadas sobre o mundo no dia de Pentecostes. A
Igreja precisa de uma conversão profunda para sair de si mesma e deixar lugar
ao Espírito que nos orientará na melhor maneira de renovar nosso coração e o
coração do mundo. O mundo vai crer em nós na medida em que deixamos o Evangelho
transparente. Sua beleza supera os séculos e indica os tempos futuros.
https://padreluizcarlos.wordpress.com/
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