A História da Salvação se faz também na transmissão
do conhecimento da verdade. Cada época dá sua contribuição, mas a recebe dos
antepassados, como lemos em Hebreus 11. Na Bíblia vemos o grande interesse em
manter a fé dos antepassados. Ela guarda memória dos antigos que tinham vivido
a integridade da fé. A Igreja Católica guarda a sabedoria dos antigos e mantém
a fidelidade à compreensão da Palavra de Deus. Cada época tem um enfoque na
procura de ser fiel. Os antigos e os novos, todos têm o Espírito Santo. Por
isso podemos ser ensinados por esses homens e mulheres que vieram antes de nós,
como também, podemos ensinar aos futuros. A revelação permanece a mesma, mas
como vem de um Deus infinito, sempre podemos compreender melhor e dar uma
contribuição para melhor compreensão. A sabedoria dos antigos não vem somente
da inteligência, mas também de sua santidade de vida. Nós os chamamos Pais da
Igreja ou Santos Padres. Eles são antigos, santos e tem um ensinamento
profundo. Basta citar S. Agostinho, Atanásio etc... Foram deixados de lado
algum tempo, mas agora se dá valor e se deve sempre referir a eles quando
estudamos a Palavra de Deus. Sua compreensão dá segurança no conhecimento do
ensinamento. O fato de perdermos a ligação com o passado podemos nos desviar ou
negar dados da fé. Pela história tivemos santos intelectuais, como também
outros pensadores que deram sua contribuição para o ensinamento.
1221. Sentido literal e
espiritual
Apesar de encontrarmos diversos sentidos na
Escritura, é fundamental partir sempre do texto. O texto como está escrito, é
estudado nas regras da interpretação.
Santo Tomás afirma que “todos os sentidos da Escritura se fundamentam no
sentido literal”. O sentido literal supõe que a tradução corresponda de fato ao
original em que foi escrito. Com o sentido literal, temos o sentido espiritual
que nos revela o que a fé ensina, como se deve viver (moral) e aonde vamos
chegar. Para esse conhecimento, precisamos ter como seguro e necessário que só
é fiel ao texto da Palavra de Deus na medida em que o buscamos com a fé. Assim
a Palavra de Deus se torna viva e o Espírito nos introduz em seu sentido
espiritual. Sem o fundamento do texto como nos é apresentado, e sem a
compreensão através da fé, a Palavra se torna fechada.
1222. Ir além da letra.
Fundamentar-se no sentido literal, não significa
parar nele. Deve haver uma passagem da escrita para a o espírito do texto. Para
fazer essa passagem temos que passar a Palavra para a vida. O texto inspirado,
mesmo sendo antigo, é para hoje. Na medida que o ouvimos hoje e praticamos,
estamos vivendo a letra no espírito. É o Espírito de Deus que nos conduz. O
texto é como um sacramento que tem uma força interior invisível que produz na
vida, atitudes de fé. Lembramos que toda a leitura se faz em Cristo que é a
Palavra do Pai encarnada, por isso a Palavra só vai atuar se encarnar na vida. São
Paulo acentua, como diz o documento Verbum Domini (38), que “A letra mata, mas o Espírito vivifica” (2Cor 3,6). A Palavra é tão viva pelo Espírito, que podemos
lembrar que S. Agostinho, ao ler a Palavra de Deus, encontrou a verdade. Na
leitura feita na situação em que vivia lhe deu condições para crer. “Para Santo
Agostinho, ir além da letra tornou possível acreditar na própria letra e
permitir-lhe encontrar finalmente a resposta às profundas inquietações do seu
espírito, sedento da verdade (VD 38).
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