quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

REFLETINDO A PALAVRA - “Eu te consagrei profeta”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA
REDENTORISTA
Missão difícil.
               Jesus, o Profeta prometido por Deus (Dt 18,15), anuncia a Palavra em Nazaré e sofre a rejeição de seus conterrâneos. Ele fora ungido e consagrado pelo Espírito em seu batismo para a missão profética. O profeta Jeremias também foi consagrado como profeta, desde o seio materno. O profeta terá dificuldades e oposições. A acomodação dificilmente aceita mudanças. E se investe contra o proclamador da novidade do Reino. Ainda mais porque conhecem sua família e a Ele. Jesus foi recusado a ponto de quererem jogá-lo no precipício. Esse precipício, inexistente em Nazaré, significa eliminá-Lo. A proposta de Deus ao profeta Jeremias são as mesmas assumidas por Jesus. A dificuldade é verem naquele homem comum que eles conheciam, o Messias de Deus. Por isso repete o provérbio “médico, cura-te a ti mesmo”, que dizer: faça um milagre que tire este jeito humano de ser e mostre excelso Messias. Jesus insiste na adesão a Ele e a suas palavras pela fé. Diz ainda que o profeta que é rejeitado. O profeta prometido por Moisés em Deuteronômio 18, como Moisés, reclama os direitos de Deus. Esse é incômodo. Jesus cita o caso de Naaman que foi curado por Eliseu e a viúva de Sarepta que foi socorrida por Elias. Eram pagãos. E Jesus faz cura em Cafarnaum, cidade meio pagã. Com isso está mostrando a abertura do Reino a todos e o fechamento que há neles. A tentativa de aniquilá-lo é o desejo de livrar-se de sua incômoda profecia. Essa profecia está na leitura do domingo passado. Nela não há condenação dos pagãos pela vingança de Deus e libertação de todos os males dos sofredores. A acomodação na fé superficial é o que provoca a recusa dos profetas. Podemos usar até uma religião superficial para tapear a fé.
Verdadeira caridade
               O anúncio da palavra pelo profeta tem como fundamento o amor de Deus derramado em seu coração. Esse anúncio é uma expressão do amor de Deus e tem que ser fundamentado nesse amor e feito no amor, como nos escreve Paulo em Coríntios 13. S. Agostinho descreve esse modo de compreender o amor: “O amor de Deus ocupa o primeiro lugar na ordem dos preceitos, mas o amor do próximo ocupa o primeiro lugar na ordem da execução” (Trac. 17,7-9). A pregação é a máxima caridade porque continua amor de redenção de Jesus Cristo, pois Deus quer que todos se salvem (1Tm 2,4). A caridade deve penetrar a vida do profeta. Todos são chamados a serem profetas, anunciadores da presença do Reino de Deus no mundo pela pregação da vida. Se não são capazes de ouvir a palavra da vida, dificilmente se abrirão à palavra falada. Caridade não é sentimento, é vida.
O hoje de Deus
               Nossas celebrações não são simplesmente a leitura de um texto, mas a proclamação do Hoje de Deus em nosso mundo. Jesus não veio para um grupinho de adeptos. A fé ensina que veio para todos. Por isso cada celebração privilegia a profecia como convite a realizar a transformação. A recusa mostra que não se quer vencer o que nos vence que é a raiz do pecado. Jesus, quando se proclama que “hoje se cumpriu essa passagem da Escritura que acabastes de ouvir” (Lc 4,21) causa admiração e recusa. Estão como a dizer: não se mexe na estrutura. Tudo funcionou muito bem até agora. É o que ocorre na recusa de renovar a Igreja. Não se mexe, pois está tudo bem. Jesus dirá aos discípulos: “se perseguiram a mim, perseguirão também a vós” (Jo 15,20).
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