Retomamos
o Evangelho de Marcos após a leitura do capítulo VI de João sobre o Pão da
Vida. Iniciando o mês da Bíblia temos uma orientação da Palavra de Deus que
pode nos libertar daquilo que não é evangélico. Jesus já combateu com firmeza
as distorções que se fizeram da Lei de Deus. Entramos na questão do puro e do
impuro. Aconteceu que os fariseus criticavam os discípulos por comerem o pão
com mãos impuras, isto é, sem as terem lavado. Não se tratava de higiene, mas
de uma exigência ritual. Como a refeição era como algo sagrado, as mãos e os
pratos deveriam receber um rito de purificação para não prejudicar o culto.
Quem não fazia o rito de lavar, estava impuro. Essa era a tradição. Eles
perguntaram a Jesus por que os discípulos não seguiam as tradições dos antigos.
Davam às tradições e à Palavra de Deus o mesmo valor. Isso não é uma coisa
distante. Temos muitas tradições e ensinamentos que tem mais valor que o
Evangelho. Por exemplo: promessas absurdas que não levam a nada na fé têm mais
valor. Essas tradições são criações humanas. Por isso Jesus não deixa passar e
ensina que, muitas vezes, as tradições tem mais valor que a santidade do amor a
Deus e ao próximo. O que torna a pessoa impura não vem das coisas materiais,
por exemplo, um objeto ou um rito, mas do coração. E Jesus afirma com força que
é daí “que procedem as más intenções, imoralidades, roubos, assassinatos,
fraudes, devassidão, inveja, calúnia, orgulho, falta de juízo. Todas estas
coisas más saem de dentro e são elas que tornam impuro o homem” (Mc 7,21-23). Jesus insiste
também em outros lugares, sobre a facilidade de deixar a Palavra de Deus para
conservar o que não compromete a vida no serviço dos irmãos. O que é impuro é o
que vai contra Deus e contra o próximo. A lei de Deus é elogiada como grande
sabedoria, como lemos em Deuteronômio.
Não se deve acrescentar nem tirar (Dt 4,2).
Pureza do coração
A
liturgia deste domingo não para no problema, mas adianta a solução e delineia o
que é coração puro. O salmo 14 nos mostra que a pureza vem da prática do
respeito ao próximo. Isso faz digna a pessoa de “morar na casa do Senhor”, isto
é prestar culto. O culto sem o amor ao próximo é insuficiente. São Tiago ensina
que a “religião pura e sem mancha diante de Deus Pai é esta: assistir os órfãos
e as viúvas em suas tribulações e não se deixar contaminar pelo mundo” (Tg 1,27). É por isso
que se prefere uma religião ritualista, sem referência à vida e ao mundo com
seus problemas. Não compromete. Pensamos: Participei da missa e comunguei;
Estou pronto e satisfeito. Não é isso que a Palavra de Deus nos ensina. A
Eucaristia não é um momento, mas uma fonte de vida.
Praticantes da Palavra
Retomamos
S. Tiago que é muito prático. Percebe-se que era bem ligado à vida concreta do
povo. Ele vai direto ao assunto: “Recebei com humildade a Palavra que em vós
foi implantada... Todavia, sede praticantes da Palavra e não somente ouvintes,
enganando-vos a vós mesmos” (Tg 1,21b-22). Praticar a Palavra é viver, como rezamos: “O alimento
da caridade fortifique os nossos corações e nos leve a Vos servir em nossos irmãos
e irmãs” (Pós-comunhão).
Tudo o que fazemos na vida espiritual deve passar no crivo da Palavra. Deste
modo não fazemos da fé uma ideologia, ou pior, vivemos uma ideologia como se
fosse fé.
Nenhum comentário:
Postar um comentário