Evangelho segundo S. Lucas 4,31-37.
Naquele
tempo, Jesus desceu a Cafarnaum, cidade da Galileia, e ali ensinava aos sábados. Todos se maravilhavam com a sua doutrina, porque falava com autoridade. Encontrava-se então na sinagoga um homem que tinha um espírito de demónio
impuro, que bradou com voz forte: «Ah! Que tens que ver connosco, Jesus de
Nazaré? Vieste para nos destruir? Eu sei quem Tu és: o Santo de Deus». Disse-lhe Jesus em tom severo: «Cala-te e sai desse homem». O demónio,
depois de o ter arremessado para o meio dos presentes, saiu dele sem lhe fazer
mal nenhum. Todos se encheram de assombro e diziam entre si: «Que palavra
esta! Ordena com autoridade e poder aos espíritos impuros e eles saem!». E a
fama de Jesus espalhava-se por todos os lugares da região.
Tradução litúrgica da Bíblia
Comentário do
dia:
Diádoco de Foticeia (c. 400-?), bispo
Cem capítulos sobre o
conhecimento, 78-80, na Filocalia
O batismo, banho de santidade, lava as
manchas do pecado, mas não altera a dualidade da nossa vontade e não impede que
os espíritos do mal nos combatam ou nos enredem nas suas ilusões. [...] Mas a
graça de Deus tem a sua morada nas profundezas da alma, ou seja, no
entendimento. Com efeito, diz-se que a filha do rei e as donzelas suas amigas
«avançam com alegria e júbilo e entram com alegria no palácio real» (Sl 44,16),
não se mostrando aos demónios. Por isso, quando nos recordamos de Deus com
fervor, sentimos brotar o desejo do divino no fundo do nosso coração. Mas, nessa
altura, os espíritos malignos atacam os sentidos corporais e aí se ocultam,
aproveitando o relaxamento da carne. [...] Desta forma, o nosso interior, como
diz o divino apóstolo Paulo, rejubila continuamente na lei do Espírito (Rom
7,22), mas os sentidos da carne desejam deixar-se levar pela propensão para os
prazeres [...].
«A luz brilhou nas trevas, mas as trevas não a
receberam» (Jo 1,5) [...]: o Verbo de Deus, verdadeira luz, no seu
incomensurável amor pelo Homem, considerou oportuno manifestar-Se à criação em
carne e osso, acendendo em nós a luz do seu conhecimento divino. O espírito do
mundo não acolheu o desígnio de Deus, isto é, não O reconheceu. [...] No
entanto, como maravilhoso teólogo, o evangelista João acrescenta: «O Verbo era a
luz verdadeira que, ao vir ao mundo, a todo o homem ilumina. Ele estava no mundo
e por Ele o mundo veio à existência, mas o mundo não O reconheceu. Veio para o
que era seu e os seus não O receberam. Mas, a quantos O receberam, aos que nele
creem, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus» (9-12). [...] Quando diz
que o mundo não recebeu a verdadeira luz, o evangelista não se refere a Satanás,
que é estranho a essa luz, visto que a rejeitou desde o início. Com esta
afirmação, S. João acusa justamente os homens que compreendem os poderes e as
maravilhas de Deus mas, devido ao seu coração obscurecido, não se querem
aproximar da claridade do seu conhecimento.
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