Evangelho segundo S. Mateus 18,21-35.
Naquele
tempo, Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou-Lhe: «Se meu irmão me ofender,
quantas vezes deverei perdoar-lhe? Até sete vezes?». Jesus respondeu: «Não
te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete. Na verdade, o reino de
Deus pode comparar-se a um rei que quis ajustar contas com os seus servos. Logo de começo, apresentaram-lhe um homem que devia dez mil talentos. Não tendo com que pagar, o senhor mandou que fosse vendido, com a mulher, os
filhos e tudo quanto possuía, para assim pagar a dívida. Então o servo
prostrou-se a seus pés, dizendo: ‘Senhor, concede-me um prazo e tudo te
pagarei’. Cheio de compaixão, o senhor daquele servo deu-lhe a liberdade e
perdoou-lhe a dívida. Ao sair, o servo encontrou um dos seus companheiros
que lhe devia cem denários. Segurando-o, começou a apertar-lhe o pescoço,
dizendo: ‘Paga o que me deves’. Então o companheiro caiu a seus pés e
suplicou-lhe, dizendo: ‘Concede-me um prazo e pagar-te-ei’. Ele, porém, não
consentiu e mandou-o prender, até que pagasse tudo quanto devia. Testemunhas
desta cena, os seus companheiros ficaram muito tristes e foram contar ao senhor
tudo o que havia sucedido. Então, o senhor mandou-o chamar e disse: ‘Servo
mau, perdoei-te tudo o que me devias, porque mo pediste. Não devias, também
tu, compadecer-te do teu companheiro, como eu tive compaixão de ti?’. E o
senhor, indignado, entregou-o aos verdugos, até que pagasse tudo o que lhe
devia. Assim procederá convosco meu Pai celeste, se cada um de vós não
perdoar a seu irmão de todo o coração».
Tradução litúrgica
da Bíblia
Comentário do dia:
São João Paulo II
(1920-2005), papa
Encíclica «Dives in misericordia», § 14
Em todas as fases da história, mas
especialmente na época atual, a Igreja deve considerar como um dos seus
principais deveres proclamar e introduzir na vida o mistério da misericórdia,
revelado no mais alto grau em Jesus Cristo. Este mistério é, não só para a
própria Igreja, como comunidade dos fiéis, mas também, em certo sentido, para
todos os homens, fonte de vida diferente daquela que o homem é capaz de
construir quando exposto às forças prepotentes da tríplice concupiscência que
nele operam. É precisamente em nome deste mistério que Cristo nos ensina a
perdoar sempre. Quantas vezes repetimos as palavras da oração que Ele próprio
nos ensinou, pedindo: «Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a
quem nos tem ofendido» (Mt 6,12), isto é, aos que são culpados em relação a nós!
É realmente difícil expressar o valor profundo da atitude que tais
palavras designam e inculcam. Quantas coisas dizem a cada homem acerca do seu
semelhante e também acerca de si próprio! A consciência de sermos devedores uns
para com os outros anda a par com o apelo à solidariedade fraterna, que S. Paulo
exprimiu concisamente, convidando-nos a suportar-nos «uns aos outros com
caridade» (Ef 4,2). Que lição de humildade não está encerrada aqui, em relação
ao homem, ao próximo e também a nós mesmos! Que escola de boa vontade para a
vida comum de cada dia, nas várias condições da nossa existência!
Nenhum comentário:
Postar um comentário