Evangelho segundo S. João 19,25-27.
Naquele
tempo, estavam junto à cruz de Jesus sua Mãe, a irmã de sua Mãe, Maria, mulher
de Cléofas, e Maria Madalena. Ao ver sua Mãe e o discípulo predileto, Jesus
disse a sua Mãe: «Mulher, eis o teu filho». Depois disse ao discípulo: «Eis
a tua Mãe». E a partir daquela hora, o discípulo recebeu-a em sua casa.
Tradução litúrgica da Bíblia
Comentário do dia:
Beato Guerric de Igny (c. 1080-1157), abade
cisterciense
4.º sermão para a Assunção
Quando Jesus Se pôs a percorrer as cidades e
as aldeias para anunciar a Boa Nova (Mt 9,35), acompanhava-o Maria, a seus
passos presa de maneira inseparável, suspensa de seus lábios sempre que Ele
abria a boca para ensinar. A tal ponto assim era, que nem a tempestade da
perseguição nem o horror do suplício a fizeram abandonar a companhia de seu
Filho, os ensinamentos do seu Mestre. «Estavam junto à cruz de Jesus sua Mãe
[...]». É Mãe, verdadeiramente Mãe, esta que nem nos terrores da morte abandonou
o Filho. Como poderia deixar-se assustar pela morte, esta cujo «amor era forte
como a morte» (Ct 8,6), e mais forte até que a própria morte? Sim, Ela
mantinha-se aos pés da cruz de Jesus e a dor desta cruz crucificava-a também em
seu coração; todas as chagas que via no corpo ferido de seu Filho eram gládios
que lhe trespassavam a alma (Lc 2,35). É pois com toda a justiça que ali mesmo é
proclamada Mãe, e lhe é designado um protetor bem escolhido que a tome a seu
cuidado, porque foi de facto ali que se manifestaram o amor perfeito da Mãe para
com o Filho e a verdadeira humanidade que o Filho recebera da Mãe [...].
Tendo-a Jesus amado, levou o seu amor «até ao extremo» (Jo 13,1). Não só
os seus últimos momentos de vida foram para Ela, como também as suas últimas
palavras: acabando por assim dizer de ditar o seu testamento, Jesus confiou sua
Mãe aos cuidados do seu mais querido herdeiro [...]. Pedro recebeu a Igreja; e
João recebeu Maria. Esta parte da herança coube a João como sinal do amor
privilegiado de que era objeto, mas também devido à sua castidade. [...] Porque
convinha que à Mãe do Senhor só prestasse serviços o discípulo bem-amado de seu
Filho, e mais ninguém. [...] Por tal disposição providencial, poderia o futuro
evangelista de tudo se ocupar com familiaridade juntamente com a que tudo sabia,
aquela que, desde sempre, observava tudo o que a seu Filho dizia respeito e
«conservava todas estas coisas, ponderando-as no seu coração» (Lc 2,19).
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