Será que podemos falar de
Quaresma quando, na Quarta-Feira de Cinzas ainda é carnaval? Quando os dias da
Paixão do Senhor são feriados? A Quaresma tem uma história mais antiga e
consistente. Para entendê-la temos que partir da Páscoa, que é a festa mais
antiga e o centro da memória que a Igreja faz de seu Senhor. Inicialmente essa
celebração era semanal, no domingo, que significa dia do Senhor. Já no tempo
dos apóstolos temos esse ensinamento. Com a formação do ano litúrgico,
passou-se a celebrar a Páscoa anual. O Papa Vitor I, pelo final do século II, dá
testemunho desta celebração. Em Jerusalém, com a narração de Etéria (380), vemos
uma bela organização da Semana Santa que influenciou toda a Igreja. No início
celebrava-se a Vigília Pascal com dois dias de jejum. Surge assim a celebração
do Tríduo Sacro, os três dias da morte, sepultura e ressurreição. Os que seriam
batizados faziam o jejum no Sábado Santo, e a comunidade os acompanhavam. Com o
passar do tempo, imitando Jesus, surgiu a Quaresma, para estar com Cristo nos
40 dias de jejum no deserto. Este tempo de preparação para o batismo passou a
ser também tempo de penitência para os receberiam a reconciliação na
Quinta-Feira Santa. O tempo de jejum e penitência foi muito apreciado,
servindo-se para que surgssem muitas peculiaridades e tradições que
acompanharam o povo católico nestes séculos. A Igreja, na reforma litúrgica,
assim resume no prefácio do 1º domingo da Quaresma: “Ano todo Vós concedeis a
vossos fiéis preparar-se para as festas pascais na alegria dos corações
purificados para que, assíduos à oração e à caridade operosa, participem dos
mistérios de sua regeneração e obtenham a graça de serem plenamente vossos
filhos”.
1106.
Caminho da Páscoa
Temos
o costume de dizer que, para o povo católico, a Semana Santa terminava com a
procissão do Senhor Morto. Como o Sábado Santo, Sábado de Aleluia, era de
manhã, não havia celebração na Noite da Páscoa (só o baile da Páscoa). No
domingo havia a procissão da Ressurreição de madrugada. Por isso temos que
convidar as pessoas a participarem da Vigília Pascal (que acham longa demais).
Mas aos poucos vamos compreendendo que a Vigília Pascal é o centro da vida dos
cristãos. Nela celebramos a Passagem (Páscoa) de Jesus para o Pai que O
ressuscita dos mortos. O cristão participa deste mistério passando da morte
para a vida no Batismo. Não renovamos o Batismo na noite pascal, mas nos
aprofundamos na participação da Vida de Cristo. A Páscoa é o melhor momento
para se celebrar o sacramento do batismo. Por isso fazemos a renovação das
promessas batismais. Na Eucaristia celebramos o memorial da Morte e
Ressurreição.
1107.
Criatividade pascal
Não podemos nos fixar nas tradições
folclóricas. Vivemos as mesmas situações dos cristãos do tempo pagão que não
tinha nada a ver com a fé cristã. Hoje a situação é a mesma, com outras letras.
É mais importante a preparação para a Páscoa que o modo como vamos fazer. Não
se perder em exterioridades, mas sim no interior, como aconselha Jesus. A
Quaresma se concretiza na busca da participação da Páscoa pela oração, caridade
e jejum. A Igreja oferece em sua liturgia uma catequese abundante de textos que
nos ajudam a compreender o mistério celebrado e dá oportunidade para rezar mais
e Assim fazer a caridade que, cada ano, tem uma característica diferente a
partir da Campanha da Fraternidade.
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