PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA REDENTORISTA |
Um corpo cheio de Deus
Na festa da
Assunção celebramos Maria que foi elevada ao Céu em corpo e alma, isto é, a pessoa
humana completa. É um dogma de nossa fé. Dogma não é somente uma verdade a ser
acreditada, mas indica um modo de viver a fé e organizar a vida cristã. Este
dogma mariano, em nosso modo de pensar, se refere a Maria que mereceu graça
especial de ser concebida sem pecado e por isso a morte, como em Jesus, não dominou
sobre ela. É certo que o dogma se refere a Maria, mas com toda a sua verdade se
refere à Igreja e a cada um em particular. Desligar
Maria da Igreja é cortar a fonte que gerou Jesus. Deus o fez
assim. Não podemos pensar que Maria recebeu os dons somente si. Não podemos
desligar Maria de seu povo, de sua cultura e situação histórica. Não podemos desligá-la
da natureza humana, como se não fosse gente como nós. A Assunção de Maria ao
Céu é uma bela proclamação do valor, da beleza e da grandeza do corpo humano. A
teologia do corpo resgata esses valores. Não se trata de um valor do corpo dado
somente a seu aspecto de fonte de prazer, o que o delimita, mas de vê-lo em
todas as suas dimensões. O corpo, por ser matéria frágil está sujeito a tantos
males que não o fazem pior ou inútil, pois os critérios de beleza e utilidade
não são sua única riqueza. Temos também os corpos feridos pela doença,
destruídos pela pobreza ou pelos trabalhos. Estes são belos pelo fato de serem
corpos. Certas espiritualidades insistiram na maldade do corpo considerando-o
fonte de pecado. Por isso é preciso castigá-lo com as penitências, jejuns e
privações para dominar o burrinho mal educado. Esqueceu-se que o corpo foi
feito por Deus. “E Ele que viu que era muito bom” (Gn 1,31). Se o pecado original também o
envolveu na situação de pecado, o mal não se localiza no corpo, mas na vontade
e opção de quem o usa. Refletir a realidade corporal como um lugar da presença
de Deus, ajuda a superar a filosofia que diz que o corpo é a prisão da alma. A
unidade de corpo e alma se dão na harmonia que o Criador neles concedeu.
Corpo a serviço
Jesus é o primeiro
modelo do corpo posto a serviço do Reino, do amor e da redenção. Sua vinda ao
mundo foi através de um corpo que é toda a carne da humanidade. Ela assumiu
corpo que se uniu à divindade. Participou da condição humana. Amava com um
corpo, deixava-se tocar, foi flagelado, crucificado, morto e ressuscitado. A
Carta aos Hebreus ensina o que Jesus pensava do corpo: “Tu ao quisestes
sacrifício e oferenda. Tu, porém me formaste um corpo”. Nesse corpo Ele realiza
a vontade de Deus: “Graças a essa vontade é que somos santificados pela
oferenda do corpo de Jesus Cristo” (Hb 10,10). O corpo de Maria serviu à encarnação do Verbo e o
alimentou e dele cuidou. Assim, nós podemos, usar o dom de nosso corpo e colocá-lo
a serviço da vida do mundo.
Forte na fragilidade
Ao
consideramos a fragilidade de nosso corpo nos esquecemos de sua capacidade de
força que passa por diversas fases na vida, nos trabalhos e serviços. Ele é o
também o corpo que serve ao amor, ao carinho, ao aconchego, ao prazer e à
alegria de servir. A graça de servir, como Cristo, na entrega total do corpo e
da vida é que fará de nossa fragilidade a energia renovadora do mundo. Por isso
a Assunção de Maria é a proclamação da grandiosidade de nosso corpo. Estamos
unidos a Maria glória com o Ressuscitado.
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