Jesus devia chocar seus ouvintes,
mas atraia sempre mais sua admiração e adesão do povo para colocar as verdades
no seu verdadeiro lugar. A parábola do patrão que foi contratar trabalhadores
para sua colheita é muito estranha se não entendemos a realidade para a qual
ela foi escrita. Os primeiros cristãos eram de origem judaica. Assumiram a fé
com entusiasmo e foram grandes evangelizadores. Nos primeiros anos estes bons
cristãos, vindos do judaísmo, estavam como que revoltados ao verem os pagãos
aderirem a fé e serem tratados iguais a eles na Igreja. Pensavam que, pelo fato
de serem judeus, desde os tempos de Abraão, acumularam um grande serviço pelo
Reino de Deus. Foram fiéis e conservaram grande amor a Deus e a todas as
tradições. Até aqui tudo bem. Receberam o salário de sua fidelidade e do
trabalho. A parábola diz que o Reino de Deus é semelhante à história de um patrão
que busca operários. O povo é chamado na Sagrada Escritura como a plantação de
Deus (1Cor 3,9).
O chamado dos operários é o convite à conversão. O pagamento é a vida da graça
no Reino. Os judeus receberam o pagamento completo por sua fidelidade ao peso
do trabalho e do calor do sol nos seus muitos anos de história de fidelidade.
Com a conversão dos pagãos, os da última hora, a Igreja é composta de alguns
que não “mereceram” esta paga e são tratados como iguais. Mateus afirma que os
judeus receberam tudo. E pela bondade de Deus, os pagãos recebem também tudo,
pois a misericórdia de Deus é infinita. Ao rezar o salmo entendemos essa
resposta de Jesus: “Misericórdia e piedade é o Senhor, Ele é amor é paciência,
é compaixão. O Senhor é muito bom para com todos, sua ternura abraça toda a
criatura” (Sl 144,8-9). Como não entendemos o modo de
agir de Deus, recebemos do profeta Isaías a resposta: “Meus pensamentos não são
vossos pensamentos, vossos caminhos não como os meus caminhos” (Is
55,8). Deus é
abundante em todos os seus dons. Não mede de acordo com nossos méritos mas
conforme sua abundante misericórdia. O evangelista, escrevendo para judeus,
convida à conversão da mente para pensar como Jesus e acolherem os cristãos
vindos do paganismo.
Meu
viver é Cristo.
Paulo, mesmo sofrendo e desejando
estar em Cristo, se dispõe a continuar sua dedicação aos cristãos. Filipos é
sua primeira comunidade em terras da Europa. Tinha um amor especial por ela.
Ele vive tão unido a Cristo que não vê diferença entre ir para o Céu ou se
dedicar à evangelização: “Se o viver na carne significa que meu trabalho será
frutuoso, neste caso, não sei o que escolher... uma só coisa é importante:
viver à altura do evangelho de Cristo” (Fl 1,22.27). Com este pensamento tão
exigente, podemos examinar nossa vida cristã. Nós somos beneficiados por Deus
pela graça de fazer parte do Reino e sermos anunciadores deste evangelho. É o
momento de examinar nossa fé e ver nossa união com Cristo. Podemos ver o quanto
discutimos por idéias. Há os avançados, os conservadores, os movimentos, as tradições.
E Cristo, onde fica em tudo isso? Se todos nós vivermos em Cristo, tudo será
diferente. Não se briga por Cristo, mas por ideologias. Sabemos muito de
religião e pouco viver em Cristo. A coerência de fé e vida é fundamental.
Mudando
de pensamento
A palavra conversão, em grego -
metánoia – significa mudança de direção, não de estrada, mas de coração. Essa
mudança, como é descrita em Isaías, é para ter os pensamentos de Deus. Em
Mateus, Jesus repreende a Pedro que quer impedi-lo de ir a Jerusalém para
sofrer a Paixão: “Afasta-te de mim Satanás! Tu me serves de pedra de tropeço,
porque não pensas as coisas de Deus, mas as dos homens!”
(Mt 16,23). Pensar
diferente de Deus é resultado de viver sem Cristo. Ele não é uma idéia, ou
dogma religioso, ou tradição, mas Vida. Se for Vida, a vida está plena Dele.
Passamos a ter seus sentimentos e sua mentalidade; abrem-se para nós as portas
da Palavra de Deus e a densidade dos sacramentos. A bondade de Deus será grande
e aberta a todos com generosidade.
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