segunda-feira, 6 de março de 2017

REFLETINDO A PALAVRA - “A alegre fragilidade do ser humano”!

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA
REDENTORISTA
1852.Fragilmente forte
Apenas terminados os festejos do Carnaval, a comunidade reúne-se novamente em respeitoso e sagrado silêncio para receber as cinzas. São duas celebrações diferentes que manifestam a beleza do ser humano. Quando se pergunta quem somos nós, podemos responder que somos a alegria na fragilidade esperançosa. Parece estranho que a alegria se misture tão bem com a fragilidade. A alegria não é frágil, nem a fragilidade é triste e desesperadora. O ser humano (o homem e a mulher) em sua constituição, tem a fragilidade como projeto. Ele é um contínuo construir-se, ajustar-se, modelar-se. Não é ser acabado e  imutável. A celebração das cinzas, marcando o início do tempo santo da Quaresma indica nossa origem e fim: “Lembra-te homem que és pó e em pó te tornarás”. É um alerta duro que nos coloca diante de nossa realidade frágil e efêmera. Lembra-nos que um dia éramos pó, de acordo com a simpática narração da criação do homem. Esta lembrança comunica-nos o respeito e a necessidade de reconhecer a Deus. Contudo, justamente por ser cinza é que podemos nos alegrar. É nossa condição: frágil. Somos um ser aberto e não um bloco de pedra imutável. Neste barro mole e frágil está nossa maior riqueza. Não somos definitivos. Crescemos, nos moldamos, nos adaptamos e nos construímos incessantemente. Parece um baile de Carnaval onde o corpo se move e se alegra. A massa do corpo vibrante vive e faz felicidade a partir daquilo que é frágil, o pó.  A colocação das cinzas em nossas cabeças não tem sentido de bênção, mas de estímulo.
1853. Construção na fragilidade
Mesmo na dor desta fragilidade, o ser humano é capaz de edificar na alegria e na paz. Diante disso, podemos concluir que a vida humana é projeto que se realiza e se reconstrói. Não há nada que seja totalmente definitivo, como não há nada que seja totalmente triste. Triste é quando esta fragilidade e leveza são destruídas por aqueles que querem ser donos do ser humano e dominá-lo. Uma flor é bela se respeitado seu tempo de se abrir, quando não é violentada sua liberdade de ter sol e vento, quando não é cortada e jogada fora, como quando não se lhe reconhece o direito a mover-se, crescer, construir-se e participar.  No altar da vida, todas as alegrias e toda compunção das cinzas são duas faces do mesmo ofertório. O que faz nossa grandeza diante de Deus é estar nas mãos Dele, deixar-se moldar, ou melhor, construir-se diante dele, olhando o projeto que tem para todo ser humano: ser feliz, mesmo sendo frágil. E nesta fragilidade, construir-se como um desfile alegre por pertencer a Deus e nele viver e mover-se.
1854. Convertei-vos e crede no Evangelho
            A fórmula “convertei-vos” é a mais usada atualmente. Ela dá mais o sentido da Quaresma como tempo de conversão. Essa conversão se reverte em ações de caridade para com os fragilizados. São dois efeitos: muda o nosso coração e a situação social das pessoas. Não existe caridade voando por aí. Ela caminha nas estradas do mundo buscando distribuir o amor que Deus nos dá. A proposta quaresmal é oração, jejum e esmola que convergem para o mesmo fim. Assim, a Páscoa celebrada se prepara pela Páscoa atualizada na salvação integral da pessoa. Purificados dos pecados podemos ver os irmãos com os olhos de Jesus que a todos socorria. Sem isso a celebração fica vazia. A oração nos põe em contato com Deus e o jejum nos esvazia para que o amor seja fecundo. A liturgia da Palavra desse tempo santo é rica e nos forma para celebrar profundamente o mistério.

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