segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

REFLETINDO A PALAVRA - “Amor que parte”

PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA
REDENTORISTA
Quando o amor nos deixa 
Continuando as reflexões do Papa Francisco sobre o matrimônio, Amoris Laetitae – Alegria do Amor, chegamos a um aspecto importante e ao mesmo tempo duro da vida matrimonial: a separação do casal pela morte. Por mais doloroso que seja o momento, saber encarar de um lado positivo: a morte como uma nova dimensão do amor. A beleza do matrimônio tem muitas facetas. Uma delas é quando a vida chega ao fim. Não vamos durar eternamente sobre a terra. Nenhuma morte é bem-vinda. Salienta o Papa: “Abandonar a família atribulada por uma morte, seria uma falta de misericórdia, seria perder uma oportunidade pastoral, e tal atitude pode fechar-nos as portas para qualquer eventual ação evangelizadora” (AL 253). É o momento de levar aos feridos pela morte, a mesma presença de Jesus que se comoveu e chorou no velório do amigo (Jo 11,33.35). Ele é a vida. Assim podemos compreender que a presença da Igreja nesses momentos dá vida aos que perdem a esperança, e chegam a se magoar com Deus como sendo culpado. Nessa fase de dor é importante a presença da comunidade. É necessária essa pastoral junto a esses que sofrem. Não se trata de conservar a vida, mas o amor. Há uma tendência a querer manter uma presença como viva como conservar o quarto e suas coisas no estado em que deixou. Achei bonito a atitude de uma parente, gente simples, que perdeu o marido. Ela disse: “Hoje lá em casa foi dia triste. Fomos distribuir as coisas de meu marido. Serviram tanto a ele, agora vão servir a outros”. Assim se encara a vida e a morte. 
Uma missão permanente 
Não vamos conservar a presença física, mas as preciosas lembranças dos bons tempos vividos, das boas obras praticadas e os pensamentos que norteavam. É bom não apagar a pessoa, mas também não se apagar por ela. A morte é um bem quando continua dando vida. É o momento da libertação. A missão dos mortos continua em nós, sobretudo quando recolhemos suas heranças espirituais para continuá-las. Continuamos o amor. Como se diz: “saudade é o amor que fica”. “O amor possui uma intuição que lhe permite escutar sem sons e ver o invisível. Isso não é imaginar o ente querido como era, mas poder aceitá-lo transformado, como é agora, à imagem de Cristo ressuscitado, como disse à Madalena que queria abraçar seus pés, que não O tocasse, para a levar a um encontro diferente” (AL 255). 
Igreja recolhe as lágrimas 
Há um descaso muito grande em muitas áreas da Igreja, como instituição, com respeito à doença, ao falecimento e à dor. É justamente aí o momento mais importante. Jesus sabia estar presente, como vimos. E continua presente e nos atrai. Paulo diz: “Desejo ardentemente partir para estar com Cristo” (Fl 1,23). Há o desejo de revermos aqueles queridos que se foram. Há os que até exploram os sentimentos com possíveis contatos. Mas o contato que acontece não é a nível humano, pois já passaram, mas na oração. Esta sim estabelece o diálogo em Deus. Quanto mais estamos em Deus, mais estamos com nossos queridos. A Igreja ensina: “Rezar por eles pode não só ajudá-los, mas também tornar mais eficaz a sua intercessão em nosso favor” (Catecismo, 958). “De modo nenhum se interrompe a união dos que ainda caminham sobre a terra com os irmãos que adormeceram na paz de Cristo; mas é reforçada pela comunicação dos bens espirituais” (LG, 49). “Quanto melhor vivermos nesta terra, tanto maior felicidade podemos partilhar com os nossos queridos no Céu” (AL 258).

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