Adão foi o
primeiro homem. Mais que o número um
da humanidade, ele traz em si cada ser humano que lhe segue. Cada um de nós é
Adão. Lemos em Gênesis: “Deus disse: ‘Façamos o homem à nossa imagem, como
nossa semelhança e que eles dominem sobre os peixes... Homem e
mulher os criou” (Gn
1,26-27). Não diz aqui Adão como o nome de um homem, mas toda a
humanidade. Este homem, diz o segundo capítulo, narrativa da criação de época
diferente, foi colocado no Jardim do Éden. E estava só (Gn 2,15) no meio dos animais aos quais
deu o nome, no sentido de posse. Mas para o homem não encontrou uma auxiliar
que lhe correspondesse (Gn
2,19-20). A solidão da pessoa no universo é total. Este elemento
permanece em cada um de nós. Há um deserto dentro de cada um. No processo do
crescimento espiritual, esta solidão é elemento constitutivo do relacionamento
com Deus. A primeira tentativa de solução está na união do homem e a mulher. Como
os dois formam uma só carne (Gn 2,24), retornam ao primeiro momento da criação. Mesmo assim
permanece no profundo mistério da pessoa. No Paraíso Terrestre, o homem e a
mulher são um para o outro aquele poço no meio de um deserto, no qual saciam a
sede de comunicação e vida. Deus estava com Ele no Jardim (Gn 3,8). Mesmo
expulso, o homem traz consigo a solidão aumentada pelo pecado, mas também a
experiência de um encontro com Deus que o saciou para sempre. Pelo fato de cada
um ser único, será sempre solitário. A espiritualidade deve contar com esta
realidade no crescimento espiritual e se estruturar para abrir-se sempre mais
ao outro em comunicação espiritual.
862. Solidão em Deus
Conhecemos a
solidão de Jacó que foge de seu irmão e encontra, no sonho, uma escada que abre
para a comunicação com Deus (Gn 28,10). O povo de Deus, em sua caminhada pelo deserto,
encontrou fontes que saciaram sua sede. A solidão do deserto foi para ele a
experiência de encontrar o poço que mata toda a sede, como disse Jesus: “Quem
beber da água que eu darei nunca mais terá sede” (Jo 4,14). A aventura terrível do deserto foi
o momento da solidão onde realizou o encontro com Deus. Diz-se que no deserto,
ou se crê em Deus, ou fica louco. O povo creu e sustentou-se em Deus por
séculos, até que veio o novo rochedo de onde brotou a água viva Jesus. Jesus,
no início de seu ministério, experimenta o deserto e a solidão. Esta é a terra
fértil para nosso coração vir à tona e mostrar toda a fragilidade que o pecado
deixou em nós. O pecado nos isola sempre mais. Jesus rompeu a solidão na
fidelidade ao Pai. Abriu para nós um poço no deserto.
863. De solitários a solidários
Jesus, com sua
encarnação, rompeu com esta solidão, vivendo em si mesmo o Paraíso onde há a
união de Deus com a Humanidade, em sua pessoa. Há um caminho para vencer o
vazio que está em nós. E, para que sua comunicação com Deus acontecesse em nós,
abre o caminho do amor. Nós sempre seremos solitários. Pelo mandamento do amor
podemos realizar o que Jesus pede ao Pai para nós: “Que todos sejam um. Como,
tu ó Pai estás em mim e eu em ti, que estejam eles em nós” (Jo 17,21). Este é
o caminho da espiritualidade que supera
o egoísmo que podemos encontrar na solidão. Deste modo poderemos dar um testemunho da solução apresentada por
Jesus: “A fim de que o mundo creia que tu me enviaste” (21). A trajetória e a maturidade
espiritual passam pelo deserto.
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