Quando
morava na África, numa situação de guerra (1989-1992), celebrei a missa da noite do dia
24 às 16 h porque de noite não se poderia andar por aquelas áreas. Não havia
presépio. Eram umas folhas de bananeira num canto da capela muito humilde e
mais nada que lembrasse o presépio... Foi tudo cantado. Bonito. No final da
missa, como não tinha um Menino Jesus, pedi que uma mamãe com o filhinho se
assentasse na cadeira do padre. Beijei o pezinho dele e todos fizeram o mesmo.
A criança se assustou e olhava como querendo entender aquele tanto de gente
beijando seus pés. Ali estava o Menino Jesus. Ao terminar, os jovens fizeram as
danças locais e cantavam: “Não podemos voltar para nossas casas porque o capim
cobriu os caminhos”. Era a guerra. Em alguns países não se pode celebrar a
missa de Natal porque os “contrários à fé” atacam a Igreja. É Natal. Pior
guerra contra o Natal é feito em nossas casas e em nossos estabelecimentos que
tiraram Jesus do presépio. Puseram só o papai Noel. Pior é ainda no primeiro
mundo europeu onde não há nem estrelinhas. Jesus, por motivos bem orquestrados,
também foi para o depósito. Então temos que procurar um Advento diferente e um
Natal verdadeiro. Também não podemos ficar só nas cascas. Pelas leituras do
Advento, vemos verter rios de esperança. A gente pode ficar até desanimado,
pois já são dois mil anos e parece que ele desaparece sempre mais mesmo entre
cristãos. O aniversariante não é convidado para seu aniversário.
Presépio
do coração
A estrela desse presépio é a
vigilância: estar atento ao Senhor que vem. Perdemos muito da noção que o
Cristo virá. Não é uma ameaça de fim de tempos, de um mundo que se acaba. Isso
pode durar ainda milhões de anos. Ou pode acabar amanhã. Só o Pai sabe. O
Cristo virá. Isso basta. Estar vigilante é ter os sentimentos de Cristo que
estava sempre voltado para a vontade do Pai. Vivemos uma fé muito de nosso
jeito e pouco do jeito do Pai. Preparar o Natal é assumir o espírito que Jesus
tinha ao sair do seio de Maria, como o sol que nasce e ilumina. Nasceu de uma
Virgem que continuou virgem, pois Cristo não destrói nada. Lembro a trovinha
mineira: “No ventre da Virgem Santa, entrou a Divina graça. Como entrou, também
saiu como o sol pela vidraça”. Sua vinda foi silenciosa como o orvalho sobre a
relva. Foi no silêncio da noite. O bem de Deus não faz mal. Deus não se impõe,
nos respeita. A humildade de Deus está estampada no rosto de Jesus. Humildade
que ama. Deus não faz barulho e não cria holofote. Ele é Luz que ilumina e
aquece sem se consumir. Preparar é assumir essas atitudes. É presépio do Natal
no coração.
Bomba
de efeito silencioso
Não basta uma mudança espiritual íntima, necessária
também, mas que penetre nossa maneira de viver e agir. Penetre também às
estruturas do mundo. Sabemos que, apesar de tudo, o mundo tem aumentado a
violência e a destruição também da natureza. Não podemos nos cansar de esperar.
Há tantos séculos o profeta Isaias dizia: “Estes quebrarão suas espadas,
transformando-as em arados, e as suas lanças em foices. Uma nação não levantará
a espada contra a outra e nem se aprenderá mais a fazer a guerra” (Is 2,4). É
preciso esperança e mudança nas atitudes. Se cada um faz sua parte, todos
estarão na mesma direção. O Advento preparando a Vinda do Senhor provoca uma
mudança que pode levar o mundo à paz que Cristo oferece. Jerusalém não acolheu,
preferiu caminho diverso. “A todos os que O receberam, deu-lhes poder de se
tornarem filhos de Deus” (Jo
1,12).
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