No caminho
espiritual passamos pela noite, pela primavera, pelas cruzes. A história do
povo de Deus é uma escola que nos faz conhecer Deus e nós mesmos. Na noite
escura da alma, o que a sustenta é a fidelidade, mesmo nas maiores dificuldades.
“Moisés caminhava como se visse o invisível” (Hb 11,27). Não pensemos que sua vida fosse
diferente da nossa nem que vivesse dependurado na barra do manto de Deus. O ser
humano é o mesmo sempre. Mudam as circunstâncias. Não existem tempos melhores
ou piores. O livro do Eclesiastes afirma: “Não digas jamais: Como pode ser que
os dias de outrora eram melhores que estes de agora? Porque não é a sabedoria que
inspira esta pergunta” (Ecl
7,10). O fio condutor da história do povo é a aliança. Deus escolhe o
povo como seu parceiro e faz com ele esse contrato de vida. Para Deus, a
fidelidade é total. “Mesmo que sejamos infiéis, Ele permanece fiel” (2Tm 2,13). Na
história das infidelidades do povo, Deus permanece fiel, pois a fidelidade é
constituinte de seu amor. Deus é sempre fiel. Se Deus ama, ama definitivamente.
O povo, nos momentos de infidelidade, padeceu por suas idolatrias. Teve isso
como castigo de Deus. Os profetas salientaram que era para que se corrigisse. A
fidelidade de Deus é o estímulo e o modelo para nossa fidelidade. A vida
espiritual requer a fidelidade como condição mínima para que possa crescer. Não
somos fiéis por obrigação, mas por gratidão ao Deus que é fiel sempre e em
tudo. O que vai nos estimular a vencer o mal é o amor. Se não for por amor, não
há conversão. O medo do castigo ou uma lei não são capazes de sustentar a
fidelidade. Tenho um compromisso de amor para com Ele.
838 . Ser fiel hoje
É comum ouvir que
agora não é como antigamente. Nossos avós falavam a mesma coisa. A proposta da
fidelidade hoje é criativa. Mantendo o fundamental de tudo o que aprendemos, a
fidelidade vai nos ensinar a dar respostas novas aos problemas antigos. A reposta
não muda a verdade, mas ensina a não só olhar para trás, mas ter um olhar para
o presente. Viver o momento presente. Como se fará para manter a mesma
fidelidade? O antigo que era bom. Como vai ser bom hoje? Ser criativo e
construir o futuro com bases que respondam ao presente. A Igreja, depois do
Vaticano II deu passos largos. Agora se vêem muitos a buscar as fórmulas
antigas. Eram ótimas. Para o tempo. São respostas para agora? Não diria que
tudo está certo. Voltar atrás para dar respostas a séculos que já se foram, no
mínimo é exótico. A verdade permanece a mesma. A questão é como apresentá-la no
momento. Jesus diz: “O escriba que se fez discípulo do Reino dos Céus é
semelhante a um homem, que tira do seu tesouro coisas novas e velhas” (Mt 13,52).
839. Aprendendo pelo caminho
O
filósofo Martin Heiddegger tem um conto, “O Caminho do Campo”, no qual comenta
que o caminho será o guia ao caminhante. Este texto não consta nas bíblias novas
(Is 35.8 – não vem ao
caso explicar o porque). Ele mostra que o próprio caminho é o guia. E,
enquanto caminhamos, vamos vendo a paisagem modificar-se. E nós vamos
recolhendo aquilo que ele nos oferece. Assim a fidelidade é caminhar adiante,
respondendo aos novos apelos com uma sabedoria de quem continua no mesmo caminho.
Quem entra no caminho já avançado, saiba que já há uma estrada feita. Quem já está
há tempo no caminho, reconheça a novidade que ele oferece. As paradas são para
repouso, não para interromper a viagem.
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