Quando
ouvimos a palavra desapego, sentimos logo algo contra a natureza. É justamente
ele que nos dá coragem para os maiores discernimentos e a capacidade de assumir
coisas grandiosas que parecem superar nossa natureza. As opções exigem renúncias.
Jesus é o modelo do desapego. Primeiramente desapega-se da manifestação de sua
divindade e se faz homem, encarnando-se. Sua encarnação coloca-o numa condição
de muita fragilidade. Além de ser homem, em seu ministério, desapega-se de
todas as condições fáceis da vida. Ele mesmo diz que não tinha nem onde
repousar a cabeça (Lc
9,58), nem tempo para comer (Mc 6,31). Desapega-se da família e enfrenta o grande desapego
da cultura religiosa dominante na qual fora educado por sua mãe Maria e seu pai
José. A própria família quer pegá-lo, pois dizem fora de si (Mc 3,21). O desapego
vai ao extremo de perder a própria vida na cruz, numa disposição total de
entrega ao Pai. Não leva as conseqüências que a missão de Messias traz consigo.
Ele carrega a cruz e convida a ir atrás dele, pois do contrário não
conseguiremos ser seus discípulos. Esta é a sabedoria da loucura da cruz (1Cor 1,23.25). Somente
ela faz compreender como viver a fragilidade e o peso da alma, a tenda de
argila (Sb 9,15).
Nosso conhecimento é reduzido. A Sabedoria de Cristo é o desapego. Esvaziar-se
do secundário é a melhor medida para encher-se do que é precioso. Se Jesus usa
o termo odiar, está usando a terminologia hebraica e colocar os opostos. Se me
desapego dos familiares para seguir Jesus, vou amá-los muito mais e na verdade
da fé. Deus não quer o sofrimento, menos ainda que soframos pelos bens que
passam. Quer que os vivamos com maior intensidade, isto é, n’Ele.
Assumir
com consciência
Jesus,
faz duas comparações para explicar a força que deve ser dada para seguí-lo com
totalidade, como diz: “Quem não renunciar a tudo o que tem não poderá ser meu
discípulo” (Lc 14,33).
Somente no total desapego teremos a total entrega. Faz a comparação com o homem
que vai construir a torre e não faz o cálculo de se tem condições de realizar a
obra. Fracassa! Ou o rei que sai para guerrear com o outro e não vê se seu
exército é suficiente para enfrentar o outro. Vai perder a guerra! Por isso,
quem quiser ser discípulo tem que saber se vai mesmo assumir com totalidade. Do
contrário fracassa. Não pode haver meias medidas. A fragilidade da Igreja vem
da fragilidade dos membros que não assumem. Deus conta com nossa fragilidade,
pois sabe que somos pó (Gn
3,19).
Caso
de um escravo
Paulo
nos ensina o desapego de práticas culturais e sociais para criar a
fraternidade. Não se justifica a escravidão, a discriminação, a dominação de
classe por qualquer que seja o motivo. Ser cristão é participar de uma cultura,
mas é preciso evangelizá-la, senão cometemos crimes contra o evangelho de Jesus
e justificamos. Onésimo era um escravo que fugiu, conheceu Paulo e se
converteu. Filemon era amigo de Paulo que, não querendo ficar com ele, mandou-o
de volta e pediu que o recebesse não como um escravo, mas como irmão no Senhor.
É um modelo de mudança nos sistemas sociais. Aquela história que estamos
cumprindo ordens superiores, foi causa de crimes na história. A Palavra de
Deus, na Eucaristia, pode nos iluminar em nosso cumprimento do dever civil e
espiritual.
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