Nós temos uma
natureza exuberante e um clima até certo ponto estável. Alguns dividem o tempo
em carnaval e o resto do ano. Outros, mais ousados, pensam em quatro estações,
o que na realidade não temos como em outras regiões em que são mais definidas.
Vamos ficar num clima mais ideal pensando que a vida tem suas estações. Na
espiritualidade estas quatro estações podem nos ajudar a compreender a dinâmica
da vida espiritual. Acontece que as pessoas se sentem muito perdidas
espiritualmente quando há mudanças de estação. Normalmente, nos tempos em que
somos iniciantes na vida espiritual aparecem as flores da graça que enfeitam
nossas orações, nosso relacionamento com Deus e com os outros. São tempos
bonitos que nos colocam em atividade e até numa atitude benéfica de ajudar os
outros com nossas orações e até com milagres. São tempos em que Deus nos carrega
nos braços amorosamente. Sentimos seu amor carinhoso que nos faz vibrar até
fisicamente. É gostoso passar horas em oração. Tudo nos atrai. Ficamos felizes por
termos chegado ao que tanto havíamos procurado. É a primavera de flores e de ares
gostosos. É um verão quente de amor, de participação e de vitalidade. Há
arroios de águas frescas e campos repousantes com um pastor que conduz com
carinho. É um tempo bom que dá resultados. Nós e Cristo somos uma só pessoa.
832. A Colheita dos bons frutos
Chega o outono para a colheita dos frutos.
Aquelas maravilhas já não são tão necessárias, pois estamos vendo os frutos
daquelas belas flores que pudemos ver em nossa vida. Que tempo bom de olhar
para trás e contemplar nossa juventude espiritual toda vibrante e ver que
fizemos tanto pelo Reino. Passou o fogo,
mas as brasas estão sob as cinzas. Vemos em nós a maturidade espiritual das
atitudes coerentes e da disposição segura para orientar, dar apoio e
estabilidade. Passamos a ser mestres espirituais. Todos gostam de ouvir nossas
palavras que dão orientação e conforto. Estamos prontos para Deus. É a maturidade
dos frutos. Assentados à sombra de nossas árvores frutíferas contemplamos uma
plantação que está pronta para ser colhida. Jesus mesmo diz: “Levantai os
vossos olhos, e vede os campos que já estão brancos para a ceifa” (Jo 4,35). É uma
estação maravilhosa da vida. É o outono da maturidade espiritual. Assim
pensamos.
833. O frio das ausências de Deus
Como não podia
faltar, há também o tempo do inverno que tem uma beleza diferente. Por ser
diferente parece não combinar bem com tudo o que imaginamos de vida espiritual.
Na verdade é o tempo mais frutuoso da vida espiritual. O calor de Deus
desaparece e surge o frio nublado que parece não ter fim. Tudo seca. Nada nos
conforta. Deus sumiu. O próprio livro dos provérbios diz: “Sofre as demoras de
Deus!”(Eclo,2,3).
Surgem sofrimentos inexplicáveis e a gente diz: ‘Rezei tanto e agora parece que
não adiantou nada!’. A oração não traz prazer. Não temos mais lugar para buscar
as antigas alegrias e consolações. Ficamos sós, sem esperança, sem fruto, sem
entusiasmo, sem resultados, sem prazer. Nada preenche o vazio. É a noite do
espírito. Mas é o tempo mais valioso da vida, pois é o tempo de Deus. Perdemos
a casca da espiritualidade e entramos no cerne. É o tempo de ser para Deus e
não para nós mesmo. Deus é que é o tudo, e não nós. Aqui, muitos naufragam. Pensam ter
perdido tudo. Mas é o contrário. Deus acolheu tudo e agora nós o temos. Vida
espiritual não é para nós, é para nos colocar em Deus.
Nenhum comentário:
Postar um comentário