Evangelho segundo S. Lucas 10,1-9.
Naquele
tempo, designou o Senhor setenta e dois discípulos e enviou-os dois a dois à sua
frente, a todas as cidades e lugares aonde Ele havia de ir. E dizia-lhes: «A
seara é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi ao dono da seara que mande
trabalhadores para a sua seara. Ide: Eu vos envio como cordeiros para o meio
de lobos. Não leveis bolsa nem alforge nem sandálias, nem vos demoreis a
saudar alguém pelo caminho. Quando entrardes nalguma casa, dizei primeiro:
‘Paz a esta casa’. E se lá houver gente de paz, a vossa paz repousará sobre
eles; senão, ficará convosco. Ficai nessa casa, comei e bebei do que
tiverem, que o trabalhador merece o seu salário. Não andeis de casa em casa. Quando entrardes nalguma cidade e vos receberem, comei do que vos servirem, curai os enfermos que nela houver e dizei-lhes: ‘Está perto de vós o reino
de Deus’.
Da Bíblia Sagrada - Edição dos Franciscanos
Capuchinhos - www.capuchinhos.org
Comentário do dia:
Beato John Henry Newman (1801-1890), teólogo, fundador do Oratório em
Inglaterra
PPS, vol. 3, n.º 22 : «A parte escolhida por Maria»
São Lucas, evangelista, «servidor da Palavra» (Lc
1,2)
É boa toda a palavra de Cristo, que tem uma
missão e uma finalidade, que não cai por terra. É impossível que o Verbo de Deus
tenha jamais pronunciado palavras efémeras, Ele que [...] exprimiu os conselhos
profundos e a vontade santa do Deus invisível. Toda a palavra de Cristo é boa.
Mesmo que os seus propósitos tenham sido transmitidos por pessoas comuns,
podemos estar certos de que nada do que nos foi conservado – sejam palavras
dirigidas a um discípulo ou a um opositor, sejam conselhos ou opiniões, sejam
reprimendas ou palavras de consolação, de persuasão ou de condenação –, nada tem
uma significação puramente acidental, um alcance limitado ou parcial [...].
Pelo contrário, as palavras sagradas de Cristo, mesmo quando nos surgem
revestidas de uma aparência temporária e dirigidas a um fim imediato - o que
torna mais difícil distinguir o que há nelas de momentâneo e de contingente -,
mesmo assim, nada perdem da sua força, a cada século que passa. Pertencendo à
Igreja, estão destinadas a durar para sempre nos céus (cf Mt 24,35),
prolongando-se até à eternidade. Elas são a nossa regra santa, justa e boa,
«farol para os meus passos e luz para os meus caminhos» (Sl 118,105), na mesma
plenitude e de forma tão íntima no nosso tempo, como quando pela primeira vez
foram pronunciadas.
Tudo isto seria verdade mesmo que considerássemos
ter sido obra humana a recolha destas migalhas da mesa de Cristo. Mas temos uma
certeza muito maior, porque não as recebemos dos homens, mas de Deus (1Tess
2,13). O Espírito Santo, que veio glorificar Cristo e dar aos evangelistas a
inspiração da escrita, não nos traçou um Evangelho estéril. Louvado seja por ter
escolhido e salvado para nós as palavras que seriam mais úteis aos tempos
vindouros, as palavras que podiam servir de lei à Igreja para a fé, para a moral
e para a disciplina. Não uma lei escrita em tábuas de pedra (Ex 24,12), mas uma
lei de fé e de amor, de espírito, e não de letra (Rom 7,6), uma lei para
corações generosos que aceitam «viver da palavra», por mais modesta e humilde
que seja, uma lei «que sai da boca de Deus» (Dt 8,3; Mt 4,4).
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