Evangelho segundo S. Lucas 6,20-26.
Naquele
tempo, Jesus, erguendo os olhos para os discípulos, disse: «Bem-aventurados vós,
os pobres, porque é vosso o reino de Deus. Bem-aventurados vós, que agora
tendes fome, porque sereis saciados. Bem-aventurados vós, que agora chorais,
porque haveis de rir. Bem-aventurados sereis, quando os homens vos odiarem,
quando vos rejeitarem e insultarem e proscreverem o vosso nome como infame, por
causa do Filho do homem. Alegrai-vos e exultai nesse dia, porque é grande no
Céu a vossa recompensa. Era assim que os seus antepassados tratavam os profetas. Mas ai de vós, os ricos, porque já recebestes a vossa consolação.Ai de
vós, que agora estais saciados, porque haveis de ter fome. Ai de vós, que rides
agora, porque haveis de entristecer-vos e chorar. Ai de vós, quando todos os
homens vos elogiarem. Era assim que os seus antepassados tratavam os falsos
profetas».
Da Bíblia Sagrada - Edição dos Franciscanos
Capuchinhos - www.capuchinhos.org
Comentário do dia:
São Gregório de Nissa (c. 335-395), monge, bispo
Homilias sobre as
Bem-aventuranças, 1
«Bem-aventurados vós, os pobres»
Como quase todos os homens são naturalmente
conduzidos ao orgulho, o Senhor começa as bem-aventuranças por afastar o mal
original da autossuficiência, aconselhando-nos a imitar o verdadeiro Pobre
voluntário que é verdadeiramente feliz – de maneira a parecermo-nos com Ele por
via da pobreza voluntária, segundo as nossas capacidades, para participarmos na
sua bem-aventurança, na sua felicidade. «Tende entre vós os mesmos sentimentos
que havia em Cristo Jesus: Ele, que era de condição divina, não reivindicou o
direito de ser equiparado a Deus. Mas despojou-Se a Si mesmo, tomando a condição
de servo» (Fil 2,5-7).
Haverá coisa mais miserável para Deus do que
tomar a condição de servo? Haverá coisa mais ínfima para o Rei do universo do
que partilhar a nossa natureza humana? O Rei dos reis e Senhor dos senhores, o
Juiz do universo, paga impostos a César (1Tim 6,17; Heb 12,23; Mc 12,17). O
Senhor da criação abraça este mundo, vem por uma gruta por não ter lugar na
estalagem, refugia-Se num estábulo, na companhia de animais. Aquele que é puro e
imaculado toma sobre Si as manchas da natureza humana e, depois de ter
partilhado toda a nossa miséria, vai a ponto de fazer a experiência da morte.
Considera a desmesura da sua pobreza voluntária! A Vida toma o gosto da morte, o
Juiz é levado a tribunal, o Senhor da vida de todos submete-Se a um magistrado,
o Rei das potências celestes não Se subtrai às mãos dos carrascos. É por estes
exemplos, diz o apóstolo Paulo, que podemos medir a sua humildade (Fil 2,5-7).
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