PADRE LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA CSsR |
O
pequeno rebanho
No caminho para Jerusalém, para cumprir o que o Pai lhe
dera como missão, Jesus instruiu os discípulos. Tem em volta de si um pequeno
grupo de discípulos que O segue. A eles Jesus dirige essa palavra: “Não tenhais
medo, pequeno rebanho, pois foi do agrado do Pai dar-vos o Reino” (Lc 12,32). Mesmo numa
situação de fragilidade, eles são a presença do Reino no mundo. São estimulados
a estarem despojados para viver o
Reino. O tesouro que lhes é proposto é guardado nos céus aonde o ladrão não
chega nem a traça corrói. Ali estará também o coração que é a sede de todos os
afetos e esperanças (Lc 12,33-34). O
pequeno rebanho também deve ser vigilante. É necessário estar sempre pronto
para poder ir ao encontro do Senhor quando vier. É preciso estar pronto, pois o
Senhor pode vir a qualquer momento. A vida do pequeno rebanho deve ser
organizada em vista da vinda do Senhor. Os discípulos mantêm a vigilância na
espera de sua vinda que está próxima. E o fazem vivendo os valores do Reino.
Não esperam desocupados. Paulo chama a atenção dizendo: “Quem não quer
trabalhar, também não deve comer” (2Ts3,4). É uma vigilância ativa. O Senhor virá como um ladrão.
“Vós também, ficai preparados! Porque o Filho do Homem vai chegar na hora em que
menos O esperardes” (Lc
12,40). O discípulo é alertado a assumir sua condição e corresponder ao
muito que lhe foi dado. Essa correspondência não se trata somente de encargos,
mas da responsabilidade para com o Reino. Este é o muito que nos foi dado. É
preciso corresponder.
Páscoa
e vigilância
O
livro da Sabedoria traz um belo texto sobre a Páscoa que celebra a espera e a
vitória. Refletindo sobre a vigilância, lembramos que ela foi celebrada durante
a noite numa situação difícil. Era o momento em que os primogênitos dos
egípcios eram mortos e os filhos dos santos, isto é, o povo, preservados. “A
noite da libertação fora predita... ela foi esperada como salvação para os justos
e perdição para os inimigos” (Sb 18,6-7). A celebração da Páscoa na saída do Egito tem a
característica de espera da libertação e vitória sobre o inimigo opressor.
Ensina-nos que ela liberta e é destruição do mal que afeta os filhos de Deus
que é o pecado, isto é, a recusa do Reino. A Páscoa celebrada através do ritual do batismo é
purificação do mal, infusão da Vida Divina e introdução na comunidade dos
justos. É sempre a vinda do Senhor.
Fé
como espera.
Os
pais de nossa fé esperaram, confiaram e viram os prodígios de Deus. Jesus disse
que “Abraão viu o meu dia e se alegrou” (Jo 8,56). A carta aos Hebreus faz uma bela
reflexão sobre sua fé. Ensina que os patriarcas tiveram a fé, viveram na fé,
não viram a realização, mas nem por isso desanimaram. Sua fé garantia a certeza
da realização das promessas de Deus. Por isso a definição de fé está unida à
esperança: “A fé é um modo de possuir já o que ainda se espera e a convicção cerca
de realidades que não se vêem” (Hb 11,1). Assim lemos sobre Abraão: “Foi pela fé que Abraão
obedeceu à ordem de partir para uma terra que devia receber como herança, e
partiu sem saber para onde ia” (id. 2). Vivendo da fé, podemos esperar que o Senhor venha. A fé
nos faz viver essa presença através de nossa vida renovada. A celebração da
Eucaristia é sempre um anúncio dessa vinda quando dizemos depois da
consagração: “Vinde, Senhor Jesus”. Temos que recuperar a noção de esperança
que se firma na vigilância.
Leituras: Sabedoria 18,6-9; Salmo 32;Hebreus
11,1-2.8-19; L nucas 12,32-48
1.
Jesus instrui os
discípulos sobre a vigilância. Devem despojar-se para acolher o Reino e ter um
tesouro no Céu. Devem estar vigilantes ocupados com o Reino.
2.
A Páscoa para os judeus é o momento da libertação e do
castigo do inimigo. Tudo isso está presente na noite pascal com outro sentido.
3.
O texto da carta aos Hebreus ensina que os pais do povo
viveram da fé na esperança. O fato de não verem, não tirou a força da fé.
Melhor
prevenir que remediar
Jesus insiste sobre a vigilância, pois Ele pode chegar a qualquer
momento. Não se trata de amedrontar-nos, mas estimular-nos a viver bem e a
sermos fiéis administradores dos bens e da casa de Deus.
O pequeno rebanho de Jesus é animado a fazer o caminho da boa
administração que consiste em aplicar os bens no cuidado dos pobres. Esse é o
tesouro que não acaba. Assim nosso coração estará onde estiver nosso tesouro,
isto é, no Céu. De nós será pedido bastante, pois o tesouro que nos foi
confiado é muito grande. Lemos no final do texto de hoje: “A quem muito foi
dado, muito será pedido; a quem muito foi confiado, muito mais será exigido” (Lc 12,48). Diz isso
aos discípulos a quem foram confiadas as riquezas de Deus.
Não tenhamos medo de enfrentar, pois nos foi dada a inteligência
espiritual.
Tudo brota da fé, como nos narra a Carta aos Hebreus. Abraão e Sara
tiveram fé e conseguiram dar vida a uma multidão de povos. Seus descendentes
foram capazes de, em segredo, fazerem um sagrado pacto de união no sofrimento e
nos momentos bons. A fé dá realmente essa garantia e fortalece na espera.
Somente pela fé podemos entender a força da
vigilância, esperando o Senhor chegar. Por isso dizemos que o homem prevenido
vale por dois.https://padreluizcarlos.wordpress.com/
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