sexta-feira, 3 de junho de 2016

JUAN DIEGO CUAUHTLATOATZIN Leigo, vidente de Guadalupe (1474-1548)

Juan Diego nasceu em 1474 em Cuauhtitlan (México). O seu nome era Cuauhtitlantoadzin; baptizado em 1524, com 50 anos de idade, mudou o nome para Juan Diego segundo o hábito dos missionários que davam o nome de João a todos os baptizados, acrescentando-lhe outro particular, neste caso Diogo, conservando entretanto o nome indígena.
O seu baptismo foi fruto de uma convicção profunda, mudando o seu pensamento, o seu ser e o seu modo de vida. Também se baptizaram alguns dos seus parentes, entre os quais um tio a quem foi dado o nome de João Bernardino e sua esposa recebeu o nome de Maria Lúcia. O missionário responsável pela evangelização e catequização desta tribo foi o franciscano Frei Toríbio de Benavente. Juan Diego tornou-se um cristão fervoroso e fazia um percurso de vinte quilómetros, na ida e volta, para participar na santa Missa em Tlatelolco. Aproveitava estas celebrações para aumentar a sua instrução religiosa e, ao mesmo tempo, venerar a Virgem Mãe de Jesus. Isto revela a profundidade da sua fé e Juan Diego começou a ser conhecido como homem piedoso, de intensa espiritualidade, amigo da oração e concentrado na meditação dos mistérios religiosos.
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Tido como peregrino e, ao mesmo tempo, solitário, a sua fé era vivida com fervor até ao sacrifício. Pobre e humilde, fugindo às honras, nada amigo da confusão, demonstrou sempre uma atitude positiva perante os novos valores cristãos, onde a pureza de vida ganhou uma forma original, pois casou com Maria Lúcia, outra cristã, de quem ficou viúvo pouco depois. Constava que viviam como irmãos, fruto da sua livre escolha.
Nesta ocasião, vivia em Tulpetlac, perto do seu tio, com quem permaneceu após a morte da sua esposa, ajudando-o nos trabalhos do campo.
A 9 de Dezembro de 1531, Juan Diego dirigia-se como de costume à celebração eucarística quando, em Tepeyac, ouviu uma voz que o chamava como se há muito o conhecesse e o esperasse, convidando-o para lhe falar e confiar uma missão. Ouviu:  "Juanito, Juan Dieguito!". Olha o céu azul e vê uma Senhora que o convida a aproximar-se e entre eles estabelece-se um pequeno diálogo.
“Juanito, o mais pequeno dos meus filhos, onde vais?”.
“Senhora, minha pequena, vou a tua casa, na cidade, para participar nas coisas divinas e aprender os ensinamentos que nos dão os nossos sacerdotes, delegados do nosso Senhor”.
“Quero que tu, o mais pequeno dos meus filhos, saiba que eu sou a sempre Virgem Maria, Mãe do verdadeiro Deus, Aquele que cria todas as coisas, dá a vida e é Senhor do céu e da terra. Eu sou também a vossa Mãe, cheia de misericórdia, e por isso desejo vivamente que aqui me seja construído um templo, para que nele possa mostrar o meu amor, a minha compaixão, dar-te ajuda e defesa a ti, aos habitantes deste lugar, a todos os meus devotos que me invocam e têm confiança em mim. Neste lugar, quero ouvir os seus lamentos, vir ao encontro de todas as suas misérias, sofrimentos e dores. Agora, para realizar quanto deseja a minha benignidade, deves ir à casa do prelado do México para lhe dizer que sou Eu que te envio. Manifestar-lhe-ás o meu desejo de ter aqui um templo na esplanada. Presta atenção para lhe dizer tudo quanto viste e ouviste. Prometo-te a minha protecção, far-te-ei feliz e dar-te-ei uma grande recompensa por este dever difícil que te confio. Agora que conheces a minha vontade, meu filho tão pequenino, vai e põe nisto toda a tua diligência”.
Ele inclinou-se diante da Senhora e disse-lhe: 
“Minha Senhora, vou fazer já o que me mandas. Eu sou o teu humilde servo. Vou-me embora”.
Juan Diego chega à casa do bispo, a quem expõe as palavras da Senhora, mas ele, desconfiando da ingenuidade destas palavras, pede um sinal daquilo que aconteceu. Volta ao lugar da visão e expõe à Senhora o seu conflito interior: 
“Senhora, minha pequena, a mais pequena das minhas filhas, fui cumprir as tuas ordens e cheguei com algumas dificuldades a falar com o homem indicado, expondo-lhe a tua vontade como me tinhas ordenado. Não o posso negar:  fui recebido dignamente e ouvido com atenção, mas pelas palavras de resposta, tive a impressão de não ter sido acreditado. Ele recomendou-me que voltasse, para indagar sobre as intenções da minha visita. Compreendi, porém, claramente que ele considera a proposta da construção de uma igreja mais como uma minha invenção do que uma ordem tua. E agora eu peço-te, minha Senhora e minha pequena, para que ele nos acredite, que Tu dês esta missão a outra pessoa, a alguém que seja uma personalidade conhecida, respeitada e bem vista. Eu sou um pobre homem, um ser que nada vale, alguém insignificante, uma simples folha, e Tu, Senhora, minha pequena, a mais pequena das minhas filhas, mandas-me a um lugar aonde eu não tenho o costume de ir e muito menos de permanecer. Senhora, minha patroa, assim, sou um peso e nada poderei fazer”.
Sempre sorridente e amável, a Senhora respondeu-lhe: 
“Escuta meu filho, o mais pequeno de todos, e sabe que muitos são os meus devotos e servidores, a quem eu poderia confiar o encargo de levar a minha mensagem para realizar o desígnio que tenho em mente. Mas a minha escolha já foi feita. Eu quero que sejas tu mesmo a colaborar comigo, para atingir a minha finalidade. Então, meu filho, o mais pequeno de todos, eu recomendo-te e até te ordeno categoricamente que tu, já amanhã, voltes a ver o prelado. Fala-lhe em meu nome e diz-lhe com franqueza que é minha vontade que o templo se construa. Repete-lhe, ainda, que sou Eu mesma a mandar-te, a sempre Virgem Maria, Mãe de Deus”.
Juan Diego volta à casa do prelado, Frei João de Zumárraga, que lhe pede um sinal. Fez-lhe várias perguntas, a que ele respondeu com exactidão, não deixando dúvidas de que era verdadeiramente a Santíssima Virgem que lhe tinha falado.
Juan Diego não perdeu a coragem e perguntou-lhe:
“Senhor, se me dás a saber que sinal queres, eu corro já a pedi-lo à Senhora do Céu que me enviou aqui”.
Logo que ele saiu, Frei João de Zumárraga mandou que alguns dos seus criados o seguissem, vissem por onde andava e com quem se encontrava para falar, mas a uma certa altura Juan Diego desapareceu e eles não o puderam encontrar.
É  então  que  acontecerá  o  dia dos “sinais”.
Chegando à casa do tio, encontrou-o muito doente, deitado na sua rede, em estado febril e com a pele cheia de manchas vermelhas e toda banhada de sangue. Era a peste. Foi à procura de um médico. Encontrou-o no dia seguinte, mas quando lhe explicou como estava o tio, ouviu uma palavra “Cocolitzi”, a terrível peste dessa época.
Humanamente, era incurável, dado o estado em que o enfermo se encontrava. João Bernardino piorava a olhos vistos e, como bom cristão, pediu ao sobrinho que fosse a Tlatelolco para procurar um sacerdote, a fim de que o confessasse e com ele rezasse.
Juan Diego partiu dividido entre dois deveres:  encontrar-se com a Senhora e chamar o sacerdote. Os dois compromissos estavam em colisão nesse momento. Que fazer? Qual deles escolher? E pensava:  “Se vou encontrar a Senhora, para receber o sinal prometido, sem dúvida será preciso algum tempo, enquanto o meu tio permanece à espera, e não pode aguardar muito tempo. Penso que o meu principal dever, agora, é chamar o sacerdote”.
Mas olha para a montanha, pensando no tio e na Senhora. Eis que Ela vem ao seu encontro e diz:
“O que é, meu filho tão pequeno, onde vais?”.
“Senhora, minha filha, a mais pequena das minhas filhas, vejo que te levantaste muito cedo e desejo que estejas bem. Como desejaria que estivesses contente! Mas devo dar-te uma má notícia:  o meu tio, teu servo, está muito mal, ferido pela peste e já em agonia. Devo ir a toda a pressa à casa da tua cidade, para chamar um dos sacerdotes amados pelo nosso Senhor, para que vá consolá-lo e ajudá-lo a morrer bem. Cada um de nós, desde que nasce, é destinado à morte. Agora, minha Senhora e minha pequena, devo ir primeiro cumprir esta obrigação. Depois, voltarei aqui para receber a tua mensagem. Perdoa-me, tem paciência comigo! Eu não te engano, minha Filha pequenina.  Logo  que  for  possível, voltarei, amanhã”.
A Senhora fixava nele o seu olhar com particular intensidade. Juan Diego estava ajoelhado, de rosto voltado para Ela, com o seu manto branco envolvendo o seu ombro direito, com as mãos juntas, em atitude de súplica.
A Senhora disse-lhe amavelmente: 
“Escuta, meu filho, o mais pequenino dos meus filhos e procura compreender bem. O teu coração está perturbado mas não te aflijas por uma coisa de nada. Nenhum deste género de males deve ser para ti um motivo de preocupação. Estou aqui, sou a tua Mãe. Estás sob a sombra da minha protecção. Eu sou a tua salvação. Tu estás no meu coração. De que tens, ainda, necessidade? Não sofras mais por isto. Quanto ao teu tio, sabe uma coisa:  ele não morrerá desta doença. Assim, não há nenhuma necessidade de médico, já está curado”.
Ao ouvir estas palavras, Juan Diego sentiu o seu coração cheio de felicidade. Não duvidou de modo algum, sentindo-se como uma criança, abandonada nos braços da sua mãe. Nem sequer lhe pediu para ir ver o seu tio. Ficou à sua completa disposição.
A Senhora mandou que fosse à montanha, onde se tinham dado as primeiras três aparições, e disse-lhe: 
“No píncaro da colina, encontrarás a surpresa de flores desabrochadas. Só tens de as colher e de mas trazer aqui. Vai, espero por ti!”.
Juan Diego enfrentou a subida como se tivesse asas nos pés, dominado como estava pela alegria e por uma luz que invadia o seu coração e tinha dissipado todas as nuvens de tristeza. Ficou arrebatado com o espectáculo maravilhoso que se apresentava diante dele. Conhecia bem o lugar de rochas áridas, onde só cresciam cactos, espinhos, figos da Índia e moitas, talvez pudessem nascer alguns tipos de ervas daninhas na Primavera ou no Verão, mas não agora, quando o frio queimava todo o germe de vida.
Era o dia 12 de Dezembro. Ele olhou e viu o espectáculo de muitas flores desabrochadas e intenso perfume. Conhecia o índio aquelas rosas, rainha das flores, como naturais das culturas mexicanas? Eram as rosas, hoje conhecidas como a “beleza espanhola”, a que os mexicanos chamavam “rosa de Castela”, havia pouco chegada de além-mar.
Juan Diego colheu as rosas, pô-las no seu manto e decidiu caminhar para a casa do Bispo, levando consigo o “sinal” pedido. Levava ainda uma recomendação:  “Não mostres a ninguém o que tens no manto!”.
À chegada ao palácio episcopal, o mordomo e outro criados a quem expôs o pedido para falar com o Bispo, receberam-no como se não o tivessem ouvido, para ele desanimar e ir embora. Ele ali ficou à espera de ser recebido, sempre com o seu manto dobrado, para que ninguém visse o que trazia. Mas o perfume das flores acabou por complicar a situação. Todos queriam saber de onde vinha, e quando reconheceram as rosas de Castela, todos deitaram a mão ao manto para obter pelo menos uma flor. Momento difícil para Juan Diego, que tinha de defender o seu tesouro. Finalmente, foi recebido pelo bispo, a quem disse: 
“Senhor, exprimiste o desejo de receber um sinal para poderes acreditar em mim e dares início à construção do templo. Levei o pedido à minha Senhora, Santa Maria, Mãe de Deus, que não teve dificuldade em acolhê-lo. Hoje de manhã, mandou-me subir ao cimo da colina, onde a tinha visto noutras vezes, com o encargo de colher ramos de flores. Mesmo sabendo que aquilo não era um jardim, mas um lugar cheio de espinhos, fui da mesma forma. E encontrei como que um jardim do paraíso, muitas flores cintilantes, molhadas pelo orvalho. Ela recomendou-me que voltasse aqui, para as trazer só a ti, como o sinal que pediste, para que te convenças de que vim por sua ordem, e decidas fazer a sua vontade. As flores estão aqui comigo:  ei-las!”.
Naquele instante, todos abriram a boca de espanto e o Bispo ajoelhou-se, juntou as mãos diante do índio que, por sua vez, se tinha levantado. Parecia que se invertiam as posições.
Para surpresa de todos, o “sinal” das flores colhidas fora da estação era ultrapassado por um prodígio impensável. No manto simples ("tilma") de Juan Diego aparecia impressa em todo o seu comprimento a imagem da Virgem Santa com o seu rosto de mansidão, mãos juntas, com a túnica cor de rosa até aos pés, o manto azul e dois grandes olhos brilhantes que pareciam vivos.
A exemplo do Bispo todos ajoelharam, perturbados e, ao mesmo tempo, cheios de alegria, com o sentido de viva devoção, acompanhados pelas lágrimas de muitos. Foi o próprio prelado a interromper o silêncio, para pedir perdão a Maria por ter sido tão hesitante em acolher o sinal da sua vontade. Depois, levantou-se e, desatando o nó do manto no ombro de Juan Diego, tirou-lhe a túnica onde até hoje está impressa a imagem sagrada, para a colocar num lugar de honra, no seu oratório particular.
A partir de então, Juan Diego teve de aceitar o convite para permanecer no palácio episcopal como hóspede de honra.
Em breve, começaram as obras de construção de uma pequena ermida, que foi sendo sempre renovada até chegar à actual Basílica, inaugurada em 1976. Na inauguração da ermida primitiva, participaram muitos fiéis, inclusivamente Hermán Cortés, então governador espanhol, também ele curado (de uma mordedura de um escorpião) por intercessão de Maria. O entusiasmo arrastou idosos e jovens, que participaram com alegria na celebração.
Era como se um povo novo nascesse de um império destruído e, de repente, acordado de um sono profundo que durou dez anos, mas sintoma de uma tomada de consciência social muito válida para construir um futuro diferente. Juan Diego morreu no dia 3 de Junho de 1548, com 74 anos de idade.
Considerava-se como propriedade da Virgem Maria, com Ela percorrendo os caminhos da santidade. Em 1566, esse lugar começou a chamar-se Guadalupe, da raiz etimológica indígena Cuatlaxupeh. Hoje a devoção à Senhora corre o mundo; por toda a parte é conhecida a Senhora de Guadalupe, Padroeira do México e do Continente americano. A sua imagem esteve presente na batalha de Lepanto. Maria começa, então, a ser invocada como Rainha da Vitória e Auxílio dos Cristãos, assumindo um significado de esperança e de promessa. João Paulo II chamou-lhe “Mãe da América”, na oração final da Exortação apostólica pós-sinodal “Ecclesia in America”.
Juan Diego foi beatificado pelo Papa João Paulo II em 6 de Maio de 1990, no México, e ali foi igualmente canonizado pelo mesmo Pontífice em 31 de Julho de 2002.

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