TUDO O QUE DEUS FAZ, É PARA MELHOR

PADRE CLÓVIS DE JESUS BOVO CSsR
Vice-Postulador da Causa
Venerável Padre Pelágio CSsR

Havia um médico, homem bom e sem malícia, na corte de um poderoso rei. Visitando Sua Alteza, ainda que o achasse afligido com qualquer trabalho ou dor, não mostrava tristeza. Aplicava os remédios que entendia serem necessários, e consolava o rei, dizendo que não se agastasse porque tudo o que Deus faz é para melhor. Aconteceu de morrer o príncipe herdeiro do reino, pelo que o rei ficou muito triste.Querendo o médico visitá-lo e consolá-lo, como todos faziam, o fez com as palavras de seu costume, dizendo-lhe:

- Senhor, não vos agasteis tanto, a ponto de prejudicar a vossa pessoa. Tudo que Deus faz é para melhor. 

Mas o rei não concordou e pensou: 

- O que poderia ser pior para o príncipe meu filho, do que morrer? Vou me vingar deste médico insolente. Vejamos se será melhor a morte para ele do que a vida. 

Chamou dois homens, e ordenou: 

- Ide atrás do médico que acabou de sair, e dizei-lhe que tenho um recado para ele e matai-o por ordem minha. 

Os homens foram à casa do médico, e achando a porta da escada fechada, gritaram que traziam um recado do rei. Alvoroçado com isto, o médico colocou o capote e desceu para abrir a porta. Mas, com a pressa de descer, o capote agarrou no corrimão da escada, ele caiu e quebrou a perna. Ouvindo seus gritos de dor, os servidores da casa vieram e o levaram para a cama. A dona da casa explicou aos emissários do rei o que acontecera, e eles voltaram para explicar tudo ao rei. O médico permaneceu mais de seis meses na cama. Quando sarou, levantou-se e foi mancando à presença do rei. Vendo-lhe o defeito, o rei quis consolá-lo, mas o médico se adiantou e disse:

- Não me aborreço com isso, porque o que Deus faz é para melhor. 

Ouvindo isso, o rei concluiu que ele aplicava essa norma sábia também a si próprio, e o teve dali por diante por gente boa. Perdeu o rancor que tinha, e viu também que na verdade foi melhor ele ter quebrado a perna, pois do contrário teria morrido. (Theophilo Braga, "Contos Tradicionais do Povo Português" - Magalhães e Moniz Editores, Porto)

http://www.boletimpadrepelagio.org/