Santa Lucrécia viveu em Córdoba quando esta era uma cidade moura e a conversão de um seguidor do Islã significava pena de morte. Os pais de Lucrecia eram ricos e influentes maometanos. Lucrecia fora convertida por uma parenta de nome Liliosa e fora batizada.
Vivia também em Córdoba Santo Eulogio, varão famoso por sua sabedoria, sua cultura cientifica e teológica, seus dotes de prudência, e, quando era preciso, seu arrojo e valentia. Eulógio talvez seja a vítima mais célebre da invasão da Espanha pelos árabes vindos da África ao longo dos séculos VIII ao XIII.
A ideia de um Deus que se entregara à morte por amor, com um amor de benevolência, quer dizer, amor de gratuidade absoluta, fascinava Lucrécia. Querendo instruir-se ainda mais no cristianismo, foi à procura do Santo.
Santo Eulógio se encarregou de sua educação cristã com todo carinho. Sabia ao que se expunha com este trabalho de catequista. Porém nunca teve medo. Estava consciente de que os pais de Lucrecia se oporiam a que ela deixasse a religião muçulmana.
Não tardou que os pais de Lucrécia percebessem seus novos hábitos e ela viu que não podia viver com eles, porque tornavam sua vida impossível; mudou-se então para a casa de Santo Eulogio, que a recebeu com grande caridade. Como ele tinha muitas ocupações pastorais, entregou-a aos cuidados de sua irmã Anilona.
Os pais de Lucrécia procuraram pela filha, cujo desaparecimento já haviam denunciado aos juizes. Em consequência, houve um grande alarido, seguido de prisão e interrogatório de todos os cristãos suspeitos de terem ligação com ela.
Lucrécia foi passando de uma família cristã para outra, enquanto Santo Eulógio visitava-a de tempos em tempos a fim de instruí-la melhor e fortalecê-la para o desenlace que a aguardava. Lucrécia empregava seu tempo em orações, jejuns e penitência.
Um dia, enfim, Lucrécia decidiu fazer uma visita a Eulógio e a sua irmã; recebida com grande afeto, passou com eles a noite, pensando retornar ao seu esconderijo antes que se fizesse dia. Mas devido ao atraso da pessoa que a devia acompanhar, teve que esperar algumas horas. Enquanto isso, alguém denunciou aos juizes a presença de Lucrécia na casa de Eulógio. A habitação foi logo cercada pelos soldados que levaram todos os moradores diante do juiz.
Perguntado por que escondera Lucrécia, Santo Eulógio respondeu: “Recebi a missão de pregar, e para mim é um dever sagrado ajudar os que buscam a luz da fé. A ninguém que procure, recuso-me a mostrar o caminho da vida. O que fiz por ela, teria feito por ti, se me tivesses pedido”. Eulógio foi condenado, açoitado e morto.
Quanto a Lucrécia, o juiz procurou convencê-la de todos os modos a apostatar da fé católica. Como ela se negasse a abjurar do catolicismo, quatro dias após a morte do Santo, dia 15 de março de 859, açoitaram-na, decapitaram e a lançaram no Rio Guadalquivir.
Os despojos de Lucrécia lançados no Guadalquivir milagrosamente permaneceram flutuando e os católicos puderam recolhê-los e sepultá-los na Basílica de São Genésio, na mesma cidade de Córdoba, ali permanecendo até 883.
Naquele ano, um sacerdote toledano, Dulcídio, legado do Rei Afonso III o Grande, conseguiu transferir seus restos mortais, bem como os de Santo Eulógio, para Oviedo, onde foram solenemente recebidos pelo rei e pelo Bispo Ermenegildo com seu clero. Os despojos em ataúdes de cipreste foram colocados sob o altar da capela de Santa Leocádia, no dia 9 de janeiro de 884, data em que se celebrava esta transladação na Igreja de Oviedo.
Finalmente, em 1300, após um milagre atribuído aos dois santos, suas relíquias foram de novo transferidas e colocadas em uma rica urna de prata. Algumas relíquias insignes de Santo Eulógio e de Santa Lucrécia retornaram a Córdoba e foram colocadas na Igreja de São Rafael, patrono da cidade, em 11 de abril de 1737.
Na Acta Sanctorum, março, vol. II, consta um breve relato sobre Santa Lucrécia.
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