quarta-feira, 23 de março de 2016

REFLETINDO A PALAVRA - “Eu vos amo, ó Senhor!”

PADRE LUIZ CARLOS
DE OLIVEIRA CSsR
Qual é o maior mandamento?
            Em seus últimos dias Jesus sofre diversos ataques dos inimigos que atingem pontos vitais: A ressurreição e a vida eterna, a vida política e relacionamento com Deus e agora a vida espiritual. Os fariseus, sabendo que Jesus tinha feito calar os saduceus na questão da ressurreição, na qual não acreditavam, perguntam para experimentá-lo: “Qual é o maior mandamento da Lei?” (Mt 22,36 ). Os judeus tinham 613 mandamentos (365 proibições e 248 prescrições). S. Pedro reconhece o peso destes mandamentos (At 15,11). Eles que eram os guias do povo e intérpretes da lei querem conhecer a doutrina de Jesus. Qual é o mandamento que dá significado a todos os outros? Jesus cita a profissão de fé do povo: “Ouve, ó Israel, o Senhor é um! Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento” (Dt  6,5; Mt 22,37). O amor a Deus é a fonte de toda a vida, lei e a razão de se viver. A pessoa humana responde a Deus com coerência quando O considera, como reza o Salmo: “Eu vos amo, Senhor! Sois minha força, minha rocha, meu refúgio e Salvador! Ó meu Deus, sois o rochedo que me abriga, minha força poderosa e salvação”(Sl 17,15). É sentir-se criatura e amar a Deus com tudo o que se é: Com todo o teu coração (afetos humanos), toda a tua alma (tudo o que é espiritual) e todo o entendimento (aspectos intelectuais e psicológicos) (Mt,22,37) . Amamos, quando Deus é o sentido da vida e é o que preenche nosso coração e nos leva a viver. Jesus desmonta o esquema fariseu e acrescenta: “E o segundo é semelhante a este: ‘Amarás ao teu próximo como a ti mesmo’. Toda a lei os profetas dependem desses dois mandamentos” ( Mt 22,39-40). Jesus faz a síntese de toda sua doutrina mudando, acrescentando ao amor a Deus o amor ao irmão.
Um único mandamento 
            “O segundo é semelhante ao primeiro”. Não se trata só de uma semelhança de parecer com, mas de uma semelhança de unidade, uma única realidade. Amo a Deus amando o próximo, e amo o próximo amando a Deus. Impossível amar a Deus sem amar o irmão. João explica: “Quem diz que ama a Deus e não ama o irmão é mentiroso, porque, como vai amar a Deus que não vê, se não ama o irmão a quem vê?”. Quem ama a Deus, ame também o irmão”(1Jo 4,21). É o mesmo que escreve S. Tiago: “A fé sem obras é morta” (Tg 2,17). Quem ama o próximo, necessariamente está amando a Deus e quem ama a Deus necessariamente amará o próximo. Uma experiência de Deus puramente interior, descuidada das necessidades dos irmãos, é vazia e não corresponde ao Evangelho de Jesus.
O amor tem nome e endereço
            A leitura de Êxodo mostra a quem amar: respeitando o estrangeiro (sem estado civil – por isso indefeso e explorado); cuidando do órfão e da viúva (sem quem os defenda); não explorando com a usura. Não devolver a capa que o pobre deu como penhor, é mau, pois de noite ele vai passar frio. Vai clamar a Deus e Deus ouvirá. O amor ao necessitado é expressão do amor de Deus, que é misericordioso e se preocupa até com o frio que o pobre pode passar à noite. Não ama a Deus quem não cuida com carinho dos necessitados. É claro que uma religião alienada da realidade não pode agradar a Deus. Os santos foram muito caridosos porque tinham os sentimentos de Deus. Por isso eram santos. A Eucaristia quer nos ensinar, primeiro, a olhar com amor o pobre. Onde existe fome é porque a Eucaristia não está bem celebrada. É o momento de revermos nossas espiritualidades, grupos devoções. Se não tem amor ao necessitado, deve ser revista.

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